Certa de 75% das mulheres na menopausa sofrem com as chamadas ondas de calor, intensa sensação de aquecimento que pode durar até 30 minutos e se estender pelo corpo inteiro.
A terapia de reposição hormonal foi, por muito tempo, considerada o padrão-ouro do tratamento, mas estudos indicam que cerca de 50% a 80% das mulheres procuram por opções não hormonais.
Isso porque a reposição hormonal foi envolvida em controvérsias por algumas evidências de efeito sobre cânceres que se “nutrem” de hormônios para surgirem ou se desenvolverem.
Também é sabido que o estrógeno aplicado isoladamente aumenta o risco de câncer do endométrio.
Como a procura por outras opções é enorme, muitos são os mitos divulgados como opção de tratamento. Mas o que será que funciona de fato, sem hormônio, para o alívio dos calorões?
Para responder a essa pergunta, a Sociedade Americana da Menopausa (NASM, na sigla em inglês), juntou um grupo de especialistas e analisou diversos estudos clínicos sobre a condição.
O consenso contendo o que pode ser considerado, de fato, benéfico para o tratamento foi compilado no artigo “Gestão não hormonal dos sintomas vasomotores associados à menopausa”, publicado nesta quarta-feira (23) na Menopause, revista científica da sociedade.
O que funciona
Estudos randomizados, duplo-cegos e controlados mostram que a terapia cognitivo comportamental (feita por psicólogos com foco na mudança de hábitos) ajuda a diminuir a intensidade das ondas de calor, mas não a sua frequência. Para diminuir a intensidade, no entanto, essa terapia precisa focar em técnicas de relaxamento, boas práticas de sono e até em uma atitude positiva diante da condição.
Pesquisas também demonstraram que a hipnose tem efeito sobre a diminuição da intensidade das ondas de calor. A sociedade americana NASM indica as duas abordagens para esse objetivo.
Estudos bem conduzidos mostram ainda que vários medicamentos não hormonais são úteis, embora possam não oferecer tanto alívio como os hormônios. Os inibidores seletivos da recaptação da serotonina (SSRIs), incluindo a paroxetina, terapia não hormonal aprovada pela FDA (órgão que regula medicamentos nos Estados Unidos) para esta finalidade, é um dos medicamentos que podem oferecer alívio para ondas de calor moderadas. Trata-se de um remédio antidepressivo.
O uso off-label de antidepressivos (quando o medicamento é destinado para tratamentos de condições que não necessariamente estão descritas na bula) também é indicado.
São eles: inibidores seletivos da recaptação da serotonina-noradrenalina (IRSNs, como a venlafaxina) e os gabapentinoides (gabapentina e pregabalina).
O que funciona, com ressalvas
Outros fatores que seriam benéficos, mas não há evidências suficientes para indicá-los para a condição são perda de peso, redução do estresse, um derivado de soja em estudo (S-equol) e bloqueio do gânglio estrelado (um tipo de bloqueio do nervo), também em estudo.
O que não tem evidência
Exercícios físicos, ioga e acupuntura não são eficientes para as ondas de calor, segundo os estudos. A sociedade americana acrescenta serem as práticas benéficas para a saúde em geral, mas não devem ser indicadas especificamente para o tratamento das ondas de calor.
Também não há evidências de que certas plantas e alimentos funcionem para o tratamento da condição. São eles: cohosh-preto, crinum, linhaça, prímula, ômega-3, casca de pinheiro, ginseng siberiano, dong quai (conhecida como ginseng feminino) extrato de pólen e suplementação vitamínica.
Quiropraxia e a calibração de oscilações neurais (uma técnica de treinamento no cérebro) também são terapias inócuas, segundo a NASM.
Os especialistas salientam que, embora essas práticas não sejam prejudiciais à saúde, seu uso pode impedir que as mulheres encontrem um tratamento mais efetivo.
“O painel NASM preparou este documento de posição para educar os profissionais de saúde e mulheres na menopausa”, diz Janet S. Carpenter, uma das autoras do artigo. “Esta informação será fundamental para maximizar a seleção das terapias mais eficazes e minimizar o uso de terapias que não são úteis.”
Por que ocorrem as ondas de calor
Sabe-se que o fenômeno ocorre porque, na menopausa, os hormônios que são utilizados na fase reprodutiva da mulher para a liberação do óvulo no ciclo menstrual (progesterona e estrógeno) deixam de ser produzidos.
Agora, a ciência não sabe muito bem por qual mecanismo fisiológico esse desequilíbrio hormonal leva à de ondas de calor.
Estudos já associaram o evento com mau funcionamento do sistema nervoso parassimpático, evidência obtida pela queda brusca da frequência cardíaca associada ao fenômeno.
Essa mau funcionamento faz com que os vasos sanguíneos perto da superfície cutânea dilatem, o que aumenta o fluxo sanguíneo, rubor e o calor.
Alterações na disposição, depressão, irritabilidade, ansiedade, nervosismo, insônia e perda de concentração também são sintomas associados à menopausa.
A causa de todo esse conjunto de sintomas, no entanto, também não foi completamente mapeada pela ciência.
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