O Brasil enfrenta um aumento de 1000% da incidência de sífilis em mulheres grávidas desde 2013 e um grave desabastecimento da penicilina, composto usado para combater a doença. O alerta foi feito por infectologistas e representantes da indústria em audiência realizada na Câmara dos deputados esta semana.
O governo admite o problema. De acordo com a diretora do Departamento de DST, AIDS e Hepatite Virais do Ministério da Saúde, Adele Shwartz Benzaken, houve um aumento de testes que identificam a sífilis congênita e que confirmam a epidemia da doença no Brasil. “Só neste ano, foram feitos mais de um milhão de testes”, informou.
A epidemia silenciosa da sífilis já havia sido denunciada pelo infectologista Artur Timerman em sua coluna na Saúde!Brasileiros. Lá, ele explica que a indisponibilidade do remédio é consequência do aumento no número de casos de sífilis e não a sua causa.
Na audiência na Câmara, a explicação de Timerman foi corroborada por Alexandre Cunha, infectologista e coordenador de comunicação da Sociedade Brasileira de Infectologia. “Não é a falta do uso de penicilina que trouxe o aumento da sífilis no Brasil. Atendo gente com sífilis em todas as classes”, acrescentou.
Cunha acrescenta que a ausência do uso de preservativo pode ser uma explicação para o crescimento. “Os dados são chocantes”, disse.
Faltam fornecedores de penicilina
A diretora do Departamento de DSTs do Ministério da Saúde diz, no entanto, que, embora a falta de medicamentos não seja a causa da sífilis, o desabastecimento da penicilina tem contribuído para o aumento de mortes por sífilis congênita no País. Segundo Adele Benzaken, 41% dos estados estão com estoque zero do produto e 59% já relatam algum tipo de desabastecimento.
O governo garante que há recursos para a aquisição do medicamento. A representante do Conselho Federal de Farmácia (CFF), Mônica Cavicholo, afirmou que a compra da penicilina é de responsabilidade do gestor municipal e essa determinação está pactuada no SUS.
Mônica Cavicholo, do CFF, diz que os municípios estão enfrentando mudanças no quadro da doença e do abastecimento que contribuem para a crise.
Segundo ela, houve aumento da demanda, falta de regularidade no fornecimento, fracassos em processos licitatórios, descumprimento de exigências de editais, altas de preços, problemas com fornecimento de matéria-prima e limitações de quantidade para importação.
A falta de medicamentos, no entanto, afeta tanto o sistema público como o suplementar por conta de uma crise na indústria. A vice-presidente de inovação da Eurofarma, Martha Penna, diz que houve uma redução de fornecedores mundiais da penicilina nos últimos anos e por isso a empresa passou a buscar outras opções, como o mercado chinês. Ela garantiu que a indústria vai retomar a produção.
Compra emergencial de medicamentos
O diretor do Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, José Miguel do Nascimento Júnior, garantiu que o governo tem atuado para resolver o desabastecimento de penicilina. “Estamos solicitando a ampliação da produção e da distribuição em todo o território nacional e comprando da Organização Pan-Americana da Saúde a penicilina para uso no combate à sífilis”, informou.
Nascimento, do Ministério, disse que no começo de 2016 cerca de 2 milhões de frascos de penicilina estarão disponíveis para serem distribuídos no País. Outra ação do governo, segundo ele, é a compra, por dispensa de licitação, de 700 mil frascos do produto para entrega imediata nos próximos 30 dias.
O que é a sífilis?*
A sífilis pode ser transmitida de uma pessoa para outra durante o sexo sem camisinha com alguém infectado, por transfusão de sangue contaminado ou da mãe infectada para o bebê durante a gestação ou o parto.
O uso da camisinha em todas as relações sexuais e o correto acompanhamento durante a gravidez são meios simples, confiáveis e baratos de prevenir-se contra a sífilis.
Os primeiros sintomas da doença são pequenas feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas (ínguas), que surgem entre a 7 e 20 dias após o sexo desprotegido com alguém infectado. A ferida e as ínguas não doem, não coçam, não ardem e não apresentam pus.
Mesmo sem tratamento, essas feridas podem desaparecer sem deixar cicatriz. Mas a pessoa continua doente e a doença se desenvolve. Ao alcançar um certo estágio, podem surgir manchas em várias partes do corpo (inclusive mãos e pés) e queda dos cabelos.
Após algum tempo, que varia de pessoa para pessoa, as manchas também desaparecem, dando a ideia de melhora. A doença pode ficar sem apresentar sintomas por meses ou anos, até o momento em que surgem complicações graves como cegueira, paralisia, doença cerebral e problemas cardíacos. A doença pode ser fatal.
*Fonte: http://www.aids.gov.br/pagina/sifilis
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