Presidente da Apeoesp sobre a reforma de ensino do governo Alckmin: “Não vamos admitir”

Foto: Reprodução/Facebook do Juntos
Foto: Reprodução/Facebook do Juntos

Ao longo da semana, professores, alunos e pais de diversas cidades do estado de São Paulo protestaram contra a proposta de reforma de ensino do governo Alckmin. Nessa sexta-feira (9), milhares de estudantes foram à Avenida Paulista – protesto que a Polícia Militar repreendeu com detidos, gás pimenta e cassetetes.

Com a reforma, cada escola passará a atender um único ciclo de ensino: do 1º ao 5º ano do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano do fundamental ou os três anos do ensino médio. A justificativa do governo é de que as unidades estejam mais focadas no aprendizado de determinadas faixas etárias, o que melhoraria o processo de ensino. Ainda segundo o secretário estadual de educação, Herman Voorwald, a rede de ensino público conta com uma estrutura para atender 6 milhões de alunos. Devido à queda da taxa de natalidade, hoje a rede estadual de ensino estaria atendendo 4 milhões de alunos, deixando 2 milhões de vagas ociosas. Dessa forma, estudantes serão remanejados, turmas ficarão maiores e escolas serão fechadas.

Para Maria Isabel Noronha, presidente do Apeoesp, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, a proposta de reforma é uma “bagunça”: “Não vejo isso como proposta de melhoria de ensino, tampouco de ciclos. É divisão por prédios, fechar escola e superlotar sala de aula. Não tem outra justificativa que não seja o enxugamento da máquina em uma pasta que já sofreu enxugamento a vida toda”. 

Ainda segundo Maria Isabel, a categoria organizará outros dois grandes protestos estaduais nos dias 15 e 20 de outubro. “Como que se organiza os ciclos separando uma etapa da outra? Coloca o infantil em uma caixinha? Além disso ele quebra a lógica do ensino fundamental de nove anos, que é uma lei nacional. Não é verdade, não avança na qualidade do ensino. Pelo contrário, fragmenta a educação como um todo. O secretário não entende de educação básica, entende de montar avião. Ele não sabe lidar com gente, lida com coisas. Professores, pais e alunos são tratados como coisas. Eu tiro daqui e boto ali. E nós não vamos admitir isso”.

 Leia a entrevista com Maria Isabel na íntegra:

Qual a avaliação das manifestações de hoje?

Para mim são manifestações que a gente está ajudando a organizar, os alunos têm aderido. Pais e alunos têm que entrar nessa briga. Não é só uma briga de professor. O professor tem que estar dentro da sala de aula também, explicando as mudanças que essa reforma trará na vida deles. Hoje tivemos na Lapa, na Penha, na Paulista, várias mobilizações na cidade de São Paulo. Fora o resto do estado, regiões que você nem imagina.

Na Paulista houve uma repressão violenta da polícia.

Sim, em cima dos alunos. Disponibilizamos advogado. Deixei o jurídico lá fazendo o trabalho. É isso. Daqui para frente será isso: mobilizações de rua frente a essa imposição do governo estadual. Não tem jeito. Ninguém aceita fechamento de sala de aula, ninguém quer sair de onde está estudando. Tem casos que dá pena. Escola que conseguiu um índice altíssimo na avaliação que será fechada. Não sei qual é essa lógica. Acredito que o governo está com a mão pesada e nós não vamos deixar barato. Dia 15 terá manifestações também, em todo o estado. E dia 20 terá um ato estadual, pais professores e alunos contra a reforma.

Quais são as demandas?

A demanda é contra essa bagunça. Não vejo isso como proposta de melhoria de ensino, tampouco de ciclos. É divisão por prédios, fechar escola e superlotar sala de aula. Não tem outra justificativa que não seja o enxugamento da máquina numa pasta que já sofre enxugamento a vida toda. Os salários dos professores são uma merreca. Não tem nenhuma escola que pode ser chamada de escola modelo. É sempre a lousa, o giz e o apagador. As que têm algo de informática são raras. Até aquelas verbas que são para manutenção de escola não têm. Escola às vezes não tem dinheiro nem para papel higiênico, tem que fazer caixinha entre os professores. Fazer ajuste do quê? Daqui a pouco vão dizer: não estudem.

E a justificativa do secretário que diz haver 2 milhões de vagas ociosas na rede pública estadual de ensino?

Ele tem que apresentar aonde e como. Porque ele fechou salas de aula e superlotou, deixou classes com 62 alunos, outras com 70. Ele que apresente onde tem vaga ociosa. Se tem uma coisa que falta é vaga no noturno, que eles fecharam. Eles expulsaram os alunos das escolas, com aquele projeto piloto das escolas integrais, que fechava o noturno. O trabalhador deixou de estudar. Em 2012 teve um fechamento ferrenho. O secretário é contra o ensino noturno, só que ele não entende que ainda estamos em um País que ainda não resolveu a disparidade social. Muitos jovem estudam e trabalham.  

E quanto ao argumento de que o ciclo único nas escolas trará uma melhora no processo de ensino?

Não tem ciclo coisa nenhuma. Ciclo não é isso. Ciclo é a totalidade. Ele não entende nada de ciclo. Aliás, ele nem é educador da educação básica. Falaram para ele que é assim e ele sai repetindo. Ciclo é o conjunto da educação básica, que são os ensinos infantil, fundamental e médio. Ciclo se organiza articulando essas etapas. Como que se organiza os ciclos separando uma etapa da outra? Coloca o infantil em uma caixinha? E por assim vai? Além disso ele quebra a lógica do ensino fundamental de nove anos, que é uma lei nacional. Não é verdade, não avança na qualidade do ensino. Pelo contrário, fragmenta a educação como um todo. O secretário não entende de educação básica, entende de montar avião. Ele não sabe lidar com gente, lida com coisas. Professores, pais e alunos são tratados como coisas. Eu tiro daqui e boto ali. E nós não vamos admitir isso.

Esse método do ciclo único é utilizado em outros países? Da onde veio essa ideia?

Da cabeça dele, desse tucanato que quer enxugar a máquina, que só vê isso na frente. É a visão do estado mínimo. É daí que eles importaram. Você vê escola particular separar um do outro? Não tem. Só os pobres que tem que separar?

Nesses 15 anos que a senhora é presidente da Apeoesp, qual a avaliação que a senhora faz da política de educação no estado de São Paulo?

Antes de ser presidente da Apeoesp, foram 15 anos de militância na sala de aula. Tenho conhecimento suficiente. É um atraso, sempre foi. Quando não é essa bagunça, põem a aprovação automática, inventam de fechar o ensino noturno, ensino integral para poucos. Não tem uma diretriz que mostre aonde vai chegar.  É uma política muito fragmentária. Não tem um planejamento e precisa disso, pensar a educação na sua totalidade. Tem que ser gerida por educador e não por um técnico, doutor em fazer avião.

E como a senhora avalia a ação da polícia nas manifestações dos professores?

Não só com os professores, mas com todos que vão contra o governo do Estado. Eu acho que é um desrespeito à democracia. Eles dizem que estão cumprindo o papel deles. São setores diferentes, educadores e educador não vai armado para manifestação. Sempre nos manifestamos de forma tranquila. A polícia é que vai lá criar problema. Eles, como funcionários públicos, também não são valorizados. Nós estamos no mesmo barco. Deviam dar graças a Deus quando vamos para a rua.


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