Literalmente, uma revista de peso. Assim pode ser definida a nova publicação do fotógrafo J. R. Duran – colaborador da Brasileiros – em parceria com Gráficos Burti. A Rev. Nacional (fala-se Revista Nacional, mas se escreve de forma abreviada), além de ser maior que as tradicionais, é mais pesada. “Um quilo e quatrocentos gramas de informação, calma, luxo e voluptuosidade”, diz o texto de divulgação.
De ensaios com belas fotos de grandes top models brasileiras – como Isabeli Fontana e Cassia Avila – a textos de autores consagrados – entre eles, nomes que compõem a equipe da Brasileiros, como Hélio Campos Mello e Nirlando Beirão -, não é apenas no peso das 144 páginas de 170 g cada que está o diferencial desta publicação. A grande novidade está no conteúdo delas. A Rev.Nacional ambiciona ser um registro documental do Brasil desta década. Anual, está prevista para ser produzida por dez anos. “É para ser colecionada como se fossem fascículos”, explica Duran. Isso significa que, no final de uma década, se acumule um volume único de 1.440 páginas.
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Diferentemente das publicações tradicionais, a revista de Duran não determina os temas que serão abordados em suas reportagens. Cada autor é convidado para escrever sobre o que quiser – e quanto quiser. As matérias não contam com títulos nem legendas. E todas as fotos são realizadas por ele. “A publicação lembra revistas ilustradas do início de século passado”, diz o fotógrafo.
É a segunda vez que J. R. Duran se aventura pelo mercado editorial. A primeira foi em 2000, quando lançou o título de fotografia Freeze (extinto em 2005). Como a Rev. Nacional, a publicação não era comercializada. A ideia é que os 2 mil exemplares da nova revista sejam distribuídos para amigos e pessoas cadastradas no e-mail revista@burti.com.br. Sobre a nova empreitada, J. R. Duran conversou com Hélio Campos Mello. Confira trechos da entrevista.
Brasileiros – Para que e por que está fazendo essa revista?
J. R. Duran – É muito simples, alguns fotógrafos sonham em ser diretores de cinema, eu sonho em fazer revistas!
Brasileiros – Você gosta de escrever?
J.R.D. – Sim, e, antes de escrever, eu gosto de ler. Sou um cara que lê e que leu muito, que todo dia precisa ler. Sou também o que chamam de revisteiro. Como gosto de livros e revistas, juntei tudo e fiz a Rev. Nacional. Esse nome remete ao começo do século passado, a revista ilustrada.
Brasileiros – E por que começar no passado? Alguma nostalgia ou é lúdico, simplesmente?
J.R.D. – Não, é lúdico. Consegui fazer uma coisa que tem uma inspiração absolutamente clássica, mas considero isso supermoderníssimo. Ela tem ingredientes que não são permitidos, por exemplo, não tem chamadas, títulos, olho nem legenda.
Brasileiros – Mas, ao mesmo tempo, tem respeito a texto e foto. Você desenhou a revista inteira?
J.R.D. – Desenhei inteira.
Brasileiros – Tipologia, essas coisas?
J.R.D. – Aumentei a letrinha, diminuí a letrinha, fazia subir, fazia descer, mas, desde o começo, queria o espaço de uma foto não invadido. One picture, one page; one text, one page. Mas as duas coisas juntas, texto e foto, se complementariam. Escolhi a fonte Requien (usada no título desta matéria) para brincar com o título da revista.
Brasileiros – E na edição número um você tem Taís Araújo e Fernando Henrique Cardoso.
J.R.D. – Pois é. Fernando Henrique Cardoso é matéria. Na verdade, é o único texto que já tinha sido publicado em outra revista, na Piauí. É do João Moreira Salles. Era um perfil, mas eu tinha outras fotos que nunca foram publicadas e queria usar. Gostei muito. Pessoas públicas são superexibidas, mas você não consegue chegar fisicamente tão perto. Cheguei perto e a foto não tem corte, quer dizer, o Fernando Henrique foi super gentil, me aguentou por 10 segundos com a câmara assim, super perto.
Brasileiros – Onde a revista poderá ser encontrada?
J.R.D. – Minha ideia é que essa revista não seja vendida, mas sim, distribuída. Que, com o tempo, existam anunciantes que comprem esse conteúdo, que se juntem a esse conteúdo.
Brasileiros – Qual o critério para escolher os autores dos textos?
J.R.D. – Não sei, é muito Jânio Quadros, “fi-lo porque qui-lo”. Não tem uma razão. Liguei para as pessoas que eu conhecia, ou seja, todas essas de revistas. O fato de eu ser revisteiro sempre fez com que minha sentimentalidade fosse ligada ao editorial. Reservo um tempo por mês para atender as revistas em que eu trabalho há 20, 30 anos. Tenho prazer em fazer revista. Gosto da linguagem, da sequência de informações, do processo de edição, que nem todo mundo domina. Acabei absorvendo das pessoas com que trabalhei e, aí, no fim acabo ligando para essas pessoas.
Brasileiros – Por que não colocou uma mulher na capa? Não é a sua especialidade?
J.R.D. – Acho que as pessoas não sabem ou não têm noção da minha especialidade. Minha especialidade é glamorizar o cotidiano, fazer com que o glamour se insira nele. Eu faço essa mistura. Não fotografo o lado negativo das coisas, só fotografo o high. Podem ser os caras da Companhia Siderúrgica Nacional, que fazem um trabalho duro, com calor… Vou mostrar que os caras têm uma postura. Fiz essas fotos e perdi 3 kg só naquele dia. O que me interessa é o lado para cima das pessoas, sem esconder os defeitos.
Brasileiros – Por que escolheu o vermelho e o preto como as cores da revista?
J.R.D. – Também de novo, Jânio Quadros, “fi-lo porque qui-lo”. Gosto do vermelho no branco, mais do que vermelho no preto. Gosto desse impacto.
Brasileiros – E esses macaquinhos que aparecem na capa e dentro da revista?
J.R.D. – O macaquinho é o símbolo da revista. Escolhi porque é um símbolo de inquietação.
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