FEA-USP: catracas geram polêmica e ameaçam iniciativas

Fachada da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA) para a qual foram compradas catracas
Fachada da Faculdade de Economia e Administração da USP (FEA) para a qual foram compradas catracas

Durante a semana de sete de setembro, na qual a USP está em recesso de atividades, a Faculdade de Economia e Administração (FEA) amanheceu com uma novidade: uma porção de catracas, ainda não instaladas, estavam postadas diante da entrada do edifício. A medida, tomada de forma repentina, gerou revolta e surpresa entre a comunidade, não apenas pela eficiência e as consequências geradas pela instalação das mesmas, mas também pelo fato de a medida ter atropelado a decisão da congregação, tomada em 2013.

“A discussão das catracas é bem antiga na FEA, tem origem nos idos de 2008 e ganhou força em 2011, com a morte do Felipe (Felipe Ramos de Paiva, estudante da unidade assassinado durante um assalto no estacionamento)”, explica o diretor do Centro Acadêmico da FEA (Centro Acadêmico Visconde de Cairu), Rodrigo Toneto. Ele lembra que em 2012 a instalação de catracas foi aprovada após plebiscito interno no qual votaram as três categorias (funcionário, professor e estudante, tendo as duas primeiras votado favoravelmente), porém o elevado custo necessário para a colocação, que seria de R$ 1,2 milhão fez com que, em outubro de 2013, a congregação voltasse atrás e barrasse o projeto.

Toneto, no entanto, mostra que a chegada de “surpresa” das catracas esteve longe de ser um fato isolado. “Desde que Adalberto Fischman assumiu a direção da FEA, em agosto de 2014, a diretoria assumiu uma postura muito mais autoritária frente às questões do curso e do prédio. Praticamente tudo tem de passar pelo crivo do diretor, que age de forma legalista e sem discutir com a comunidade”, afirma. As catracas são o exemplo mais bem acabado da situação. Sob a justificativa de restringir a circulação de pessoas “estranhas e alheias” à FEA, para se evitar furtos e roubos, Fischman comprou às escuras e no final de 2014 as catracas, negando a existência das mesmas até a fatídica semana de setembro.

Sob a promessa de zelar pela segurança da unidade e impedir o fluxo de pessoas fora da FEA, outras iniciativas sofreram ataques. A mais emblemática foi a tentativa de encerramento do Cursinho Popular da FEA, o mais famoso cursinho popular da capital paulista e que vigora desde 2000. De início, a proposta do diretor visava apenas a encerrar as aulas aos sábado (dia que concentra a maioria dos alunos), porém, rapidamente, a ideia se transformou em encerrar o cursinho de forma definitiva. A possibilidade fez os estudantes, professores e funcionários se organizarem, de modo que a procuradoria da USP conseguiu reverter a situação e garantir a permanência do Cursinho. Não teve a mesma sorte a chamada “mesinha” [mesa na qual os estudantes colocavam à venda doces e salgados a preços acessíveis]. O local foi eliminado sem nenhum diálogo com os estudantes.

As medidas autoritárias do diretor têm, cada vez mais, encontrado resistência. A instalação e compra das catracas foi rechaçada por 91% dos estudantes, após realização de plebiscito. Apesar disso, como explica Toneto, a democracia na USP ainda é muito precária. “A congregação da FEA é composta em sua maioria por professores mais velhos e titulares, que têm uma visão mais conservadora e taxam de ideológicos aqueles que deles divergem, por exemplo, em relação às catracas. Não se trata de ideologia ou não, o problema é justamente a falta de diálogo e democracia, e a tolerância em relação a isso. Os estudantes têm pouca representação e são ridicularizados quando se posicionam. Sem mais diálogo e democracia na FEA e na USP como um todo, situações como essa continuarão se repetindo”, conclui Toneto. Procurado pela reportagem, o diretor Adalberto Fischman não se manifestou até o fechamento da reportagem.


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