O Acidente Vascular Cerebral, o derrame, mata seis milhões de pessoas e afeta outras 17 milhões por ano no mundo. No Brasil, a cada 5 minutos, uma pessoa morre em decorrência do problema, contabilizando mais de 100 mil mortes anuais. A morte por AVC é mais frequente em mulheres. Além disso, é a doença mais incapacitante do País.
Apesar desse impacto na saúde, dados preliminares de um estudo da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo que avalia o conhecimento da população sobre a doença, mostram que nem todos conhecem a condição ou saberiam o que fazer. O levantamento será publicado na próxima edição do São Paulo Medical Journal.
De acordo com a pesquisa, apesar de 78% dos brasileiros conhecerem alguém que teve um AVC e 50% conviverem com um paciente, três em cada dez não sabem dizer um sintoma. Ainda, 27% não sabem o que é a doença, 23% não conseguiram citar uma medida de prevenção, e 32% não teriam a mínima ideia de como ajudar um paciente.
“O desconhecimento é grande e a maioria das pessoas chega tarde demais”, diz Rubens Gagliardi, professor de neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de SP, e um dos coordenadores do estudo, junto com Marcel Simis, neurologista do Instituto de Medicina Física e Reabilitação da Universidade de São Paulo.
O levantamento da Faculdade Santa Casa de SP é realizado anualmente desde 2011 em estações de metrô e parques. Os entrevistadores são os próprios residentes da faculdade, que são orientados a levar informação de prevenção à população. No estudo que será publicado, e ao qual os dados se referem, foram entrevistadas 1326 pessoas nos anos de 2013 e 2014.
Mas, então, o que é o AVC?
O Acidente Vascular Cerebral ocorre quando há entupimento das artérias que levam sangue ao cérebro (o AVC isquêmico) ou rompimento de vasos dentro do órgão (o AVC hemorrágico). Todas as ocorrências diminuem o suprimento de sangue e de oxigênio. Privados de combustível, os neurônios começam a morrer e há perda de função neurológica. O risco aumenta com a idade, mas o AVC pode ocorrer também em crianças e em jovens por doenças relacionadas à coagulação, aos vasos sanguíneos e ao trauma de crânio.
A morte por AVC é mais frequente em mulheres. Uma em cada 5 mulheres terão um AVC em sua vida, comparado com 1 em cada 6 homens. Uso da pílula anticoncepcional, maior prevalência da enxaqueca e da depressão estão entre os fatores de risco específicos para pacientes femininos.
Entre os principais sintomas da fase aguda do AVC, estão a perda súbita de força no braço. sensação de formigamento na face e nos braços, perda repentina da visão em um ou nos dois olhos, alteração da fala e náuseas associadas ao desequilíbrio.
A dor de cabeça, que foi muito citada na pesquisa da Santa Casa como um dos sintomas, não é exclusiva da condição e pode indicar muitas outras doenças. A enxaqueca com aura, no entanto, é considerada um fator de risco (quando a pessoa não necessariamente está tendo um AVC na hora da enxaqueca, mas a condição aumenta as chances dela ter um dia).
A informação sobre prevenção é importante porque o AVC é uma das doenças que tem sua prevalência atrelada a hábitos da modernidade. Está relacionada ao colesterol e pressão altos, ao tabagismo, ao sedentarismo, à obesidade, ao consumo elevado de sal e açúcar e ao estresse. Perder peso e manter uma alimentação saudável já seriam um ganho enorme e evitariam não só o AVC como uma série de outras doenças.
Dentre os fatores de risco citados acima, a hipertensão é a principal causa do AVC hemorrágico. Ela faz com que vasos dentro do cérebro fiquem fracos com o tempo até que eles se rompem.
Já no AVC isquêmico, o mecanismo é parecido com o do infarto no coração. Pelo processo de aterosclerose (formação de placas de gordura dentro das artérias), e por depósito de cálcio, elas ficam estreitas para a passagem do sangue, que coagula. Com isso, não chega oxigênio ao cérebro, que se deteriora.
“Embora cada caso seja específico, a campanha é um alerta de que é preciso ter cuidado com os fatores de risco e controlar o peso”, alerta Gagliardi.
Por que olhar no relógio?
O tempo é um importante aliado no tratamento justamente para impedir que mais células morram pela privação do oxigênio.
No estudo da Santa Casa, porém, apenas 2.6% das pessoas sabem da importância de olhar no relógio para marcar a hora em que os sintomas estão ocorrendo. “Esse é um dado importante porque ele vai determinar que tipo de tratamento vai ser feito e quanto mais cedo essa pessoa procurar ajuda, melhor”, diz Gagliardi.
Segundo o Manual de Rotinas para o Atendimento do AVC, diretriz do Ministério da Saúde para o atendimento de pacientes, o rTPA (que tem o nome complicado de ativador do plasminogênio tecidual recombinado), por exemplo, só pode ser aplicado em até 4,5 horas e meia da ocorrência dos sintomas. O rTPA é uma substância capaz de destruir o coágulo que obstruiu a passagem do sangue no cérebro e, por isso, só pode ser usado em AVC isquêmico.
O manual do ministério ressalta veementemente a importância do horário para a aplicação da droga. “O horário dos sintomas deve ser precisamente estabelecido. Caso os sintomas forem observados quando o paciente acordou, devem ser considerados o último horário em que ele foi visto normal”, indica.
É preciso manter o sorriso
Impulsionado pelo estudo da Faculdade Santa Casa de SP, o Conselho Federal de Medicina e a Academia Brasileira de Neurologia lançaram no último dia 29 (Dia Mundial de Combate ao AVC), o site http://www.avc.cfm.org.br/. Com o slogan de “Mantenha o seu sorriso. Previna o AVC”, o serviço contém informações importantes sobre prevenção e como buscar ajuda.
Uma das ações mais interessantes da campanha é um infográfico que mostra de maneira muito intuitiva como reconhecer que alguém está tendo um AVC.
Primeiro, peça um sorriso a quem está sob suspeita de AVC. Se ele sair torto, é um primeiro indício. Depois, indique para a pessoa levantar os dois braços. Se houver dificuldade de movimento, é um outro sintoma. Por último, peça para o paciente repetir uma frase simples como, por exemplo, “o céu é azul” ou “o Brasil é o país do futebol.” Se houver dificuldade de fala, chame o SAMU pelo 192.
Uma história emocionante
Esse vídeo no TED, de uma cientista que teve um AVC, é emocionante. Jill Taylor comenta o passo a passo dos seus sintomas e a dificuldade que teve para chamar o serviço de emergência, já que estava com dificuldades para falar. O vídeo foi visto por mais de 18 milhões de pessoas e faz uma reflexão muito original sobre a doença.
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