Pelo menos 218 mil imigrantes e refugiados atravessaram o mar Mediterrâneo para chegar à Europa só em outubro, informa a ONU (Organização das Nações Unidas). Diante desta onda migratória, os países europeus se dividem sobre que política adotar em relação a eles. A Alemanha acolheu 1 milhão de refugiados, mas a medida já apresenta um efeito colateral: um grupo neonazista ganha popularidade pregando a extradição de imigrantes e ostenta sérias pretensões de chegar ao poder com o anúncio de um um candidato nas próximas eleições presidenciais.
Pesquisa divulgada no dia 2 de outubro pela rede de televisão alemã, ARD, informa que 51% dos alemães temem a chegada de refugiados. O número aumentou em relação a última pesquisa (setembro), quando 38% dos alemães eram contrários a essa chegada. Nesse cenário ganha força os Patriotas Europeus contra a Islamização do Ocidente, o Pegida, um grupo formado por extremistas, que dissemina valores preconceituosos defendidos por seus integrantes contra o fluxo migratório no país.
Pegida
O movimento foi fundado em 2014 por cidadãos de extrema direita insatisfeitos com partidos tradicionais que apostam em uma política flexível aos migrantes. A ideia deles é implantar um governo conservador e nacionalista.
O grupo registrou um avanço popular considerável entre 2014 e 2015, quando a revista humorística francesa Charlie Hebdo foi atacada por radicais jihadistas, deixando um saldo de 12 mortos. A partir daí, o Pegida assumiu uma postura xenofóbica contra os islâmicos.
Após a chanceler alemã Angela Merkel declarar que o país estava disposto a receber cerca de 1 milhão de refugiados, o grupo acirrou sua oposição contra as políticas migratórias defendidas pelo governo.
A página oficial do grupo no Facebook, que já alcança a marca de 179 mil curtidas, publicou uma espécie de manifesto declarando todos os seus princípios. Chama a atenção o tom racista. Com intenção de preservar a cultura alemã, o Pegida pede a intensificação da guarda nacional nas fronteiras, o fim da imigração legal de refugiados e a deportação de imigrantes ilegais. Alegam, ainda, que o problema dos refugiados deve ser resolvido no país de origem deles, e que a Alemanha não tem nada a ver com isso.
Os radicais pedem ajuda dos países da União Europeia para barrar a onda migratória, com a justificativa de que os vizinhos precisam se unir para preservar a cultura do Velho Continente. “Nós, os povos das nações europeias, precisamos nos unir para conservarmos e defendermos nossos valores, nossa cultura e nossa liberdade. Os governantes alemães querem abolir o povo natural de nosso país, para nos substituir por uma sociedade multicultural. Eles querem estabelecer um Estado multiétnico em solo alemão – este é um comportamento de traidores”, diz o manifesto, disponível na página do Facebook do grupo.
Recentemente, segundo a polícia alemã, um protesto organizado pelo grupo extremista reuniu cerca de 20 mil pessoas em Dresden, uma das regiões mais conservadoras da Alemanha. Nessa mesma cidade, o Pegida chegou a lançar uma candidata a prefeita, Tatjana Festerling , que atingiu 10% das intenções de voto.
Os conservadores não são a única voz na Alemanha. No mesmo dia da manifestação organizada pelo Pegida, cerca de 15.000 pessoas, também saíram nas ruas de Dresden para defender o abrigo aos refugiados no país, ostentando o lema “coração em vez de ódio. A hashtag #pegida
no Instagram retrata a divisão que vive Alemanha: alguns usuários defendem o movimento, mas a maioria condena as ações realizadas pelo grupo.
À Brasileiros, o professor de política da Universidade Martin Luther Halle-Wittenberg, Michael Kolkmann, acredita que o futuro do movimento é incerto. “É importante lembrar que nos últimos meses surgiram diversos movimentos contra o Pegida, e a maioria deles pacíficos. Então, precisamos esperar para ver os rumos que o movimento irá tomar”, afirma Kolkmann.
Luca Schooss, estudante alemão de ciências sociais, se diz espantado com a onda conservadora que se espalha pela Alemanha em pleno século 21. “O Pegida vem crescendo de uma forma preocupante. Uma onda machista, racista e homofóbica em um grau que nunca vi antes”, afirma.
Nos últimos meses, foram registrados ataques violentos diários a refugiados na Alemanha. O Ministro Federal do Interior, Thomas de Maizière, foi a rede nacional pedir que o povo se unisse contra os extremistas, “que estão espalhando veneno pelo país”.
O escritor Jürgen Elsässer fez um apelo na revista alemã Compact pedindo a intervenção das Forças Armadas para que o povo alemão resista às medidas tomadas por Angela Merkel. Tatjana Festerling, a candidata em Dresden declarou recentemente o clima que a Alemanha vive: “Já estamos vivendo uma guerra contra os refugiados”
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