Sebastião Salgado quebra o silêncio e pede “responsabilização das empresas” no desastre em MG

Com atraso, o fotógrafo brasileiro falou sobre a tragédia em Minas Gerais - Foto: EBC
Com atraso, o fotógrafo brasileiro falou sobre a tragédia em Minas Gerais – Foto: EBC

Pressionado pelas redes sociais, o fotógrafo Sebastião Salgado finalmente se manifestou sobre  o rompimento das barragens em Mariana, Minas Gerais. Com oito dias de atraso, seu Instituto Terra divulgou um comunicado pedindo a “responsabilização das empresas envolvidas”.

As barragens romperam no dia 5, mas o comunicado só foi divulgado na noite de sexta-feira (13) por meio de um post em sua página no Facebook. No caminho do mar de lama em Mariana está a cidade de Aimorés, onde fica o Instituto Terra, fundado pelo fotógrafo Salgado e sua mulher, Lélia Wanick Salgado, no final dos anos 1990.

O instituto, que promove o desenvolvimento do Vale do Rio Doce, conta, em diversos projetos, com o apoio da Vale, acionista da mineradora Samarco, junto com a australiana BHP, responsáveis oficiais pela barragem. Um dos apoios foi dado ao grandioso projeto Gênesis, em que Salgado visitou 32 regiões do mundo, entre 2004 e 2012, com patrocínio da Vale, para registrar alguns dos locais mais intocados do planeta.

Por conta dessa parceria, internautas pediram um posicionamento do instituto e do próprio Salgado com relação ao rompimento das barragens. “Nenhum comentário sobre o desastre no rio Doce?”, perguntou Fernando Lessa. “Por favor, se posicionem quanto ao acidente da Samarco! É o mínimo que esperamos de vocês”, escreveu Regina Zeitoune.

A resposta finalmente chegou em forma de nota oficial. Nenhuma menção nominal nem à Samarco, nem à Vale. “O Instituto Terra entende que o momento exige ações urgentes dos poderes constituídos, no sentido de minimizar o sofrimento da população envolvida e dos impactos causados ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que deve atuar na responsabilização das empresas envolvidas, de acordo com a legislação brasileira, no sentido de efetivar a integral compensação pelos danos causado.”

O texto afirma que o instituto mobilizou seu corpo técnico na elaboração de um projeto para recuperação do Rio Doce. “A proposta prevê a criação de um fundo com recursos financeiros subsidiados pelas empresas responsáveis pelo desastre, que possibilite, além da recuperação de nascentes, absorver todos os investimentos e ações destinados à reconstrução das condições ecológicas, bem como gerar recursos contínuos para projetos sociais, econômicos e de geração de emprego e renda em toda a região que constitui essa bacia hidrográfica.”

Leia a íntegra da nota:

“Solidário a todos os atingidos pelo rompimento das barragens de rejeitos no município de Mariana, em Minas Gerais, em especial aos familiares das vítimas, o Instituto Terra entende que o momento exige ações urgentes dos poderes constituídos, no sentido de minimizar o sofrimento da população envolvida e dos impactos causados ao meio ambiente, ao mesmo tempo em que deve atuar na responsabilização das empresas envolvidas, de acordo com a legislação brasileira, no sentido de efetivar a integral compensação pelos danos causados.

Durante toda a sua existência, o Instituto Terra pautou-se pelo verdadeiro sentido da palavra sustentabilidade, buscando ser interlocutor, mediador dos conflitos locais, mas também apresentando soluções técnicas efetivas para promover o equilíbrio entre desenvolvimento e meio ambiente.

Diante do acontecido, o Instituto Terra imediatamente mobilizou todo o seu corpo técnico na elaboração de um projeto para recuperação do Rio Doce. A proposta prevê a criação de um Fundo com recursos financeiros subsidiados pelas empresas responsáveis pelo desastre, que possibilite, além da recuperação de nascentes, absorver todos os investimentos e ações destinados à reconstrução das condições ecológicas, bem como gerar recursos contínuos para projetos sociais, econômicos e de geração de emprego e renda em toda a região que constitui essa bacia hidrográfica.

O fundo deve permitir a criação de um patrimônio perpétuo para promover uma grande transformação no Vale do Rio Doce, saindo de um quadro de intensa devastação para um ambiente equilibrado, desenvolvido e produtivo.

O projeto já foi discutido com os Governadores de Minas Gerais e do Espírito Santo, bem como com o Governo federal. Cofundador e Vice-Presidente do Instituto Terra, Sebastião Salgado tratou do tema diretamente com a presidente Dilma Rousseff, na manhã desta sexta-feira (13 de novembro), em Brasília, que se mostrou empenhada e favorável à iniciativa, e assumiu o compromisso de criar um comitê para negociar com as empresas responsáveis pelas barragens de Mariana.

Além do Governo federal e dos Governos Estaduais, o plano para recuperação do Rio Doce deve envolver os governos municipais, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada, para pleno direcionamento dos recursos e tecnologias a serem empregados na região.

Já sabíamos que restabelecer a vida do Rio Doce seria um processo difícil e de longo prazo. Agora, exigirá mais empenho e urgência nas ações, bem como uma aprendizagem ambiental compartilhada com a sociedade.

Mais do que nunca, o resgate do Rio Doce, destruído ecologicamente pelo desastre, passará por medidas de recuperação de todas as nascentes da bacia, para garantir uma maior produção de água, bem como a reconstituição das matas ciliares e das reservas legais, para evitar a sobreposição e acúmulo de mais resíduos, assim como o fortalecimento de um modelo agroecológico de produção rural. Somadas a outras ações socioambientais e de monitoramento, de toda a cadeia produtiva, em especial a industrial, acreditamos que será possível alcançar o pleno restabelecimento da região.

O Instituto Terra reafirma seu compromisso com a missão de replantar a Mata Atlântica e trazer de volta a vida, a água, ao Vale do Rio Doce, com projetos conectados e voltados diretamente para a promoção do desenvolvimento pleno de um Vale que há anos sofre com os efeitos da degradação ambiental.”


Comentários

7 respostas para “Sebastião Salgado quebra o silêncio e pede “responsabilização das empresas” no desastre em MG”

  1. Não importa a causa. O que aconteceu foi porque a empresa construiu a barragem, ela não existia, não foi feita pela natureza. Logo a construção é de responsabilidade dela empresa. Todo o custo de recuperação da natureza cabe a ela empresa, dir o tempo que durar.

  2. Avatar de Maria do Socorro de Melo Sousa
    Maria do Socorro de Melo Sousa

    Na verdade as pessoas que se importam com essa calamidade e as que estão vivendo de fato o momento, ainda estamos meio paralisados, o impacto foi e é fundo, mas, é saudável para o nosso astral que pessoas sensíveis as causas que resultam no querer o bem viver para todos, já esteja aposto e com propostas possíveis de execução, muito importante o envolvimento de todos e em especial do cidadão daquele ambiente para aprenderem que cada um tem responsabilidade em zelar, fiscalizar e cobrar tudo a respeito do seu quadrado.

  3. Avatar de Josana Salles
    Josana Salles

    A responsabilidade das empresas neste desastre ambiental sem precedentes é real e deve ser punida de verdade. Agora o Sebastião Salgado não tem nada a ver com isso. Não exagerem jogando lama pra todo lado também de forma irresponsável e assim, cometam injustiças.

  4. Avatar de Eliane Saboto
    Eliane Saboto

    Não estão nem tentando impedir que a lama chegue ao mar. Nem tentando?

  5. Que bom que pessoas de projeção comecem a se manifestar frente a intolerável resignação dos brasileiros diante de um desastre ambiental cuja dimensão demonstra que o dano rompeu a resiliência de um ecossistema numa área de 500 km2, afetando ambiente e sociedade irreparavelmente! Poderia iniciar o projeto apocalipse.

  6. Avatar de Aêda Inês Faria
    Aêda Inês Faria

    É imprescindível que dirigentes de empresas, bem como prefeitos, governadores, presidente de nosso país sejam responsáveis por zelar pelo nosso patrimônio: nossa terra, nossa água, nossas riquezas, nossa cultura, nosso povo! Para isto estão colocados na função de gestores!

  7. Avatar de eliana bonini
    eliana bonini

    Até quando o Brasil vai funcionar assim:espera destruir tudo pra depois consertar? ???

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