Trans-formação

Patricia Rousseaux/Foto: Nellie Solitrenick
Patricia Rousseaux/Foto: Nellie Solitrenick

No universo acadêmico, o prefixo “trans” remete ao que está “entre”, “através” e “além” das disciplinas, consideradas apenas segmentos do conhecimento. ARTE!Brasileiros nasceu há cinco anos com a convicção de que a arte possui a capacidade de ser um catalisador particular da ideia de que é preciso reagrupar os saberes para buscar a compreensão do mundo. É uma ferramenta especial para acompanhar a reflexão do indivíduo contemporâneo acerca de seu sofrimento. A arte possibilita a justaposição de mensagens,  ela “sabe”. Sua mediação como experiência cognitiva e sensorial permite um encontro de trans-formação. Uma experiência com o outro que vai “além”.

A força psíquica de cada sujeito, único, imerso em seu tempo e em seu território, as diferentes formas de expressão, a escolha de linguagens e suportes fazem da obra de arte um canal excepcional, em que, ao longo da história, o homem deposita seu legado. Na arte contemporânea, por falta de um nome melhor para denominar a arte a que temos acesso depois do Modernismo e das vanguardas, a diversidade explode. O “através” aparece nas escolhas dos discursos dos artistas e dos diretores artísticos.

Diferenças sociais, ódio político e religioso, intolerância às diferenças de gênero, defesa de territórios e violência contra refugiados que migram globalmente deixando para trás parte da sua história, tudo isso irrompe criando, na obra dos artistas, entrelaçamentos culturais que “falam”. As questões e dúvidas do indivíduo contemporâneo se fazem presentes, dando lugar a outra concepção de beleza.

Em entrevista ao crítico de arte brasileiro Frederico Morais, intitulada Linguagem Material, e publicada parcialmente na revista Tate Etc. de número 14, em abril de 2008, Cildo Meireles disse: “Construí meus trabalhos a partir da linguagem. Procuro me distanciar de uma abordagem patológica da arte, isto é, da arte como sendo uma autobiografia do autor”. 

Nesta edição, reunimos exposições de diferentes partes do mundo, com artistas estrangeiros que mergulham e traduzem para as artes visuais as características sociais e culturais de diferentes países. No Brasil, livros e mostras que se debruçam sobre artistas imigrantes – Yolanda Mohalyi, Lasar Segall, Lina Bo Bardi – que aqui se estabeleceram e construíram parte da história da arte nacional. A cobertura das bienais de Lyon e Istambul, das feiras Frieze e Fiac, de mostras e iniciativas que abordam, as questões de gênero e identidade sexual.

ARTE!Brasileiros acompanha, desde o seu começo, com jornalistas especializados, curadores, historiadores, antropólogos e críticos de arte, o trabalho de artistas brasileiros e estrangeiros, exposições nacionais e internacionais, inúmeras bienais, a criação e o andamento das instituições culturais, as publicações de pesquisas e livros, e, claro, o mercado que só cresceu nas últimas três décadas.

Nosso público ganhou força, nossa edição bilíngue ganhou terreno. Em 2012, ganhamos o Prêmio Antônio Bento, da Associação Brasileira de Críticos de Arte, dedicado ao melhor trabalho de divulgação de artes visuais na mídia no ano de 2011. Desde sempre, tentamos ser o mais sério possível, com a reflexão e a informação. Tivemos a alegria de acompanhar artistas jovens, que estavam começando e cresceram, e aqueles já consagrados, que se firmaram e ganharam novos espaços. Desenvolvemos também uma divisão de encontros e seminários que permite ouvir a experiência de especialistas nacionais e internacionais, e que alcançou um público cada vez mais ávido. Finalmente, temos hoje uma plataforma digital com agenda semanal, entrevistas em vídeo e reportagens, os primeiros passos de nossa ARTE!TV.

Queremos agradecer a todos os colaboradores que acompanharam as dificuldades de colocar em pé uma empreitada como esta, em um Brasil que chegou tarde na educação e que, não obstante suas mazelas, é uma referência internacional de cultura, e também aos patrocinadores que apoiam esta iniciativa. Esperamos, de coração, ter fôlego para ir em frente.


Comentários

Uma resposta para “Trans-formação”

  1. Avatar de ana maria sigal
    ana maria sigal

    Um texto forte,compromissado com uma visão de mundo particular,Um texto corajoso que no meio de uma crísis mundial,pode se posicionar com uma ideia de como continuar vivendo,parabéns Patricia! apostamos ao Folego ana

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