Soporífero e claustrofóbico

Réplica do galpão da Frieze Projects criada por Rachel Rose/Foto: Plastiques Photography/Frieze
Réplica do galpão da Frieze Projects criada por Rachel Rose/Foto: Plastiques Photography/Frieze

Ao entrar em uma feira de arte – ao menos do porte da Frieze – sempre me sinto sufocado com o número extraordinário de obras de arte (excessivamente caras), dispostas como artigos de luxo ao longo de fileiras de estandes. Além disso, os projetos arquitetônicos das feiras de arte às vezes induzem o espectador a um estado de desorientação soporífera que o leva a uma sensação de estar constantemente perdido. Essas duas características estiveram presentes na 13ª edição da Frieze London, a segunda maior feira de arte contemporânea da Europa (depois da Art Basel), dirigida este ano por Victoria Siddall.
Concentrando mais de 160 galerias vindas de quase 30 países, a Frieze deste ano foi dividida em três setores. O principal reuniu galerias de maior força e renome; Focus, setor dedicado a jovens galerias de arte experimental; e Live, com performances e obras interativas (e que estreou no ano passado).

Alguns estandes foram projetados este ano pelo estúdio de arquitetura Universal Design Studio de Londres. Enquanto as galerias David Zwirner e Lisson tentavam atrair a atenção de colecionadores com obras importantes dos artistas Yayoi Kusama (pela Zwirner), Anish Kapoor e Lawrence Weiner (pela Lisson), a Buchholz seduziu os visitantes mais ingênuos com um imenso boneco inflável do Gato Felix criado pelo artista Mark Leckey, e a Massimo De Carlo, com um majestoso inseto cor-de-rosa fixado na parede, criado por Carsten Höller.

A Frieze 2015 mostrou-se elegante em termos de aparência e conservadora em termos de conteúdo. Foram exibidas inúmeras pinturas em telas grandes, a galeria londrina Victoria Miro reuniu pinturas no estilo abstrato-expressionista do artista Secundino Hernández e a David Kordansky, de Los Angeles, optou por uma mostra individual de pinturas em neon da artista Mary Weatherford. Além disso, telas de Günther Förg, Jacqueline Humphries e Sophie von Hollerman ocupavam toda a parede do estande da Greene Naftali e dois trabalhos impressionantes do artista Pietro Roccasalva foram trazidos pela Zeno X de Antuérpia.

Se por um lado a pintura teve grande espaço este ano, por outro, faltaram obras em vídeo-arte (felizmente, com exceção dos filmes em 16 mm de Amy Siegel exibidos pela Simon Preston). A escultura foi solenemente representada pela Hauser & Wirth, cujo estande construído em largas dimensões foi inteiramente ocupado por pedestais na cor cinza sobre os quais estavam nomes de peso como Paul McCarthy, Phyllida Barlow e Louise Bourgeois.

A Gagosian reuniu em uma mostra solo os incríveis desenhos e esculturas do artista britânico Glenn Brown. Por sua vez, The Sunday Painter, de Londres (que estreou esse ano na Frieze), trouxe apenas um trabalho da artista Samara Scott: uma piscina cheia de água e vários dejetos – amaciante de roupas da marca Lenor, óleo de cozinha, cera, restos de comida e outros detritos de forma fascinante. A artista descreve seus trabalhos como “brilhos pútridos tremulantes, como os esgotos sob um clube de travestis”.

A delegação brasileira foi formada pelas galerias Luisa Strina, apresentando, entre outros trabalhos, colagens incríveis de Rauschenberg, Fortes Villaça com obras de Damián Ortega e Gusmão + Paiva, além das jovens galerias Jacqueline Martins e A Gentil Carioca, do Rio de Janeiro. Sem dúvida, um dos estandes mais interessantes da feira foi o da Mendes Wood DM, que exibiu esculturas dos artistas Neil Beloufa, Daniel Steegman Mangrané e Adriano Costa, este último com seu trabalho em escultura – um tabuleiro de xadrez montado com espelhos, disposto sobre o piso.

Duas obras do Frieze Projects ofereciam aos curadores e colecionadores exaustos uma rota de fuga, ou descanso: a instalação Comfort Zone, do coletivo AYR, consistia em uma série de ambientes pintados em tons pastel e equipados com camas de casal e tomadas para recarregar celulares. Enquanto isso, um amplo túnel criado pelo artista Jeremy Herbert levava os visitantes a um cavernoso ambiente no subsolo da feira, entre andaimes que sustentavam o galpão.


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