Para uma Bienal que tem como tema A Vida Moderna, nada mais justo que fazer uma homenagem ao arquiteto de origem suíça e naturalizado francês Le Corbusier (1887-1965), justamente no ano do cinquentenário de sua morte.
Le Corbusier pode ser considerado um dos pais da arquitetura moderna, já que propôs cinco princípios que deviam constituir a base de sua linguagem, como o uso dos pilotis, tornando suspensas as construções, e da planta livre, espaços internos amplos não mais atrelados à concepção estrutural.
Os cinco pontos de Le Corbusier são constitutivos do Convento de La Tourette, uma de suas mais belas construções, nos arredores de Lyon, inaugurado em 1960, por encomenda da Ordem dos Dominicanos. O lugar recebe até janeiro mostra com 12 obras do artista indiano Anish Kapoor.
Projetado para atender até 100 monges, o convento possui dois grandes blocos: o convento propriamente dito, com salas de aula e dormitórios, e a capela. O volume da capela é igual ao de todos os cem dormitórios, como se cada habitante do mosteiro tivesse também seu próprio espaço na igreja.
Desde 2009, o convento, atualmente habitado por menos de dez monges, possui um programa de arte contemporânea, abrigando seus espaços para a inserção de trabalhos que dialogam com o edifício histórico de Le Corbusier.
“As obras expostas interagem com a arquitetura de formas múltiplas, seja por meio dos jogos de reflexos em espelhos, seja no diálogo dos materiais e das texturas das paredes de concreto com a cera, ou enfim pela ressonância entre as entradas de luz e as esculturas circulares”, explica frei Marc Chauveau, que vive no local e é o curador da exposição.
O resultado, de fato, é deslumbrante, e o adjetivo, que merece ser evitado em textos jornalísticos, aqui não dá conta nem de perto do que significa de fato a junção Le Corbusier-Kapoor. Primeiro, porque a construção é de fato uma obra-prima, especialmente a capela, com jatos de luz coloridos, conseguidos não com o uso de vitrais, mas da pintura de cores básicas nas barras das janelas.
Depois, porque a obra de Kapoor, com fortes características espirituais, encaixa-se com respeito e adequação ao espaço. Se a vida moderna está em colapso, como aponta de certa forma a Bienal de Lyon, Le Corbusier se mantém como um de seus pilares inabaláveis.
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