Condensação e deslocamento

Entrada da galeria Vallois, em Paris, onde Henrique Oliveira apresenta a mostra "Fissure"/Foto: Hélio Campos Mello
Entrada da galeria Vallois, em Paris, onde Henrique Oliveira apresenta a mostra “Fissure”/Foto: Hélio Campos Mello

Após a sua apresentação no Palais de Tokyo com a instalação Baitogogo, criada em 2013, e que até hoje permanece no Museu servindo de ambientação para o trabalho do educativo, o jovem brasileiro Henrique Oliveira não sai de Paris. Até 28 de novembro com a exposição Fissure, na Galeria Vallois, e também presente no Jardin des Plantes, mais uma vez, o artista imprime sua marca na cidade. Oliveira usa madeira de tapumes, objetos usados, sofás, colchões, vestígios da vida cotidiana e os esculpe recriando novas formas. As instalações e esculturas emergem de colunas, paredes e passam a formar parte do ambiente. Cavernas, protuberâncias, braços que se alongam, cavidades.

Desde 2009, Henrique Oliveira afirma que seu objetivo é “criar tensão no espaço”. As paredes deixam de ser as mesmas uma vez que Oliveira se apodera delas. A escultura Condensação, na página ao lado, composta por um bloco de 11 colchões justapostos na posição vertical. O interior deste bloco foi escavado, e seu estofamento, retirado e agrupado na forma de uma nuvem que flutua dentro da cavidade.

"Sem Título" ("Protuberâncias" #2,#3 e #4), 2015, instalação, técnica mista/Foto: Patricia Rousseaux
“Sem Título” (“Protuberâncias” #2,#3 e #4), 2015, instalação, técnica mista/Foto: Patricia Rousseaux

Além de aludir ao fenômeno físico da condensação do vapor d’água em nuvens de chuva, o título da obra nos lembra o estudo A Interpretação dos Sonhos do Sigmund Freud que inspirou durante anos o movimento surrealista, no começo do século XX. Condensação e deslocamento são processos psíquicos que ocorrem no inconsciente e permitem trazer para a “fala”, principal ferramenta do trabalho psicanalítico, determinados conteúdos do sonho, enquanto outros são omitidos, alguns deles combinam entre sí e se fundem, aparecendo de forma manifesta. Outra parte do conteúdo do sonho, seja por mecanismos de censura ou traumáticos, fica como escondida, deixada para trás.

"Condensation", 2012–2015 foi apresentada pela primeira vez na galeria Milan de São Paulo, na exposição "Realidade Líquida". Essa obra é resultado das inquietações do artista quando visitava New Orleans, após a cidade ter sido devastada pelo furacão Katrina. Centenas de colchões apareciam jogados trazendo como lembrança um dia a dia destruído com milhares de pessoas desabrigadas/Foto: Patricia Rousseaux
“Condensation”, 2012–2015 foi apresentada pela primeira vez na galeria Milan de São Paulo, na exposição “Realidade Líquida”. Essa obra é resultado das inquietações do artista quando visitava New Orleans, após a cidade ter sido devastada pelo furacão Katrina. Centenas de colchões apareciam jogados trazendo como lembrança um dia a dia destruído com milhares de pessoas desabrigadas/Foto: Patricia Rousseaux

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