Em seu primeiro ano sob a direção do jovem historiador e especialista em mercado de arte Noah Horowitz, 36 anos, a Miami Art Basel não deve apresentar grandes mudanças em seu formato, ao menos por enquanto. É o que afirma o próprio diretor, que assumiu em agosto o comando da maior feira das Américas, após três anos na direção da The Armory Show (Nova York), e diz ainda estar se adaptando ao novo cargo.
Indicado por Marc Siegler, diretor-geral da Art Basel, Horowitz afirma estar mais preocupado, no momento, em manter o alto nível da feira e aprofundar as relações dessa com colecionadores e instituições de toda a América Latina. Cumprindo essa tarefa durante a ARTBO, em Bogotá, Horowitz conversou com a ARTE!Brasileiros e falou dos planos para os próximos anos e dos destaques da feira de Miami, que acontece entre 3 e 6 de dezembro e terá a presença de 267 galerias nesta edição, sendo 11 brasileiras. Leia abaixo a entrevista.
ARTE!Brasileiros – Você se tornou o diretor de uma das feiras mais importantes e estabelecidas do mundo. Como tem sido o trabalho? Qual é o espaço existente para apresentar novas ideias e propor novos caminhos em uma feira já tão consolidada?
Noah Horowitz – A coisa toda ainda é bem recente para mim. É importante dizer que eu assumi em agosto, e a maior parte das decisões mais importantes sobre a Miami Art Basel deste ano já havia sido tomada. Então ainda estou entendendo como a coisa funciona, e a partir da feira deste ano poderei ter mais ideias. De qualquer modo, meu cargo é chamado “director Americas” da Art Basel e, se a tarefa mais importante é dirigir a feira de Miami, a natureza do meu trabalho é também representar nossa marca e nossa instituição nos vários países das Américas. Com isso vem uma enorme quantidade de viagens, como esta para Bogotá, para conhecer os mercados e a produção artística locais, fazer contatos com colecionadores e instituições.
E, quando for o momento, você sente que haverá espaço para mudanças e novas propostas na feira?
Ainda é um pouco cedo para dizer. Uma novidade grande é que haverá a modernização do Convention Center, onde a feira acontece, uma obra que ficará pronta para a edição de 2017. Isso, por si só, dará várias oportunidades para a feira, um novo visual para ela. De qualquer modo, a feira já é a mais importante das Américas, pelos números que apresenta, pelo calibre das galerias e pelo rigor e ambição do que é apresentado. Há uma taxa de satisfação enorme das galerias que lá expõem, que querem retornar ano após ano. Já temos um nível muito alto para ser mantido. Mas, claro, estamos falando de um cenário muito competitivo, com cada vez mais feiras de arte, bienais e exposições no mundo todo. Temos que continuar inovando, criando programas especiais, debates e exposições para além da seção de estandes das galerias, reforçando a relação entre a feira e a cidade de Miami e assim por diante.
Em Bogotá você elogiou o tamanho da ARTBO, que reúne um número modesto de galerias se comparado com a Art Basel. Na sua gestão na The Armory Show você também diminuiu bastante o número de galerias, focando mais em qualidade que quantidade. Pretende fazer algo nesse sentido em Miami, diminuir a quantidade de expositores?
Na verdade, é outro contexto. Quando assumi a Armory havia mais galerias expondo lá do que na Miami Art Basel, em um espaço muito menor. Tínhamos que diminuir. Em Miami o foco é outro: seguir produzindo em altíssimo nível, continuar inovando os programas e projetos, e dar força à plataforma de financiamento colaborativo iniciada no ano passado, que financia projetos artísticos sem fins lucrativos pelo mundo e que permite o incentivo a trabalhos de pesquisa que tenham relação com nossa feira.
E como fazer para promover, na feira, debates e discussões que vão além da parte comercial, dos interesses de mercado?
Acho que os programas, os debates e as palestras da Art Basel Miami são fantásticos. Não deixam nada a desejar para as atividades promovidas pelos grandes museus e pelas grandes universidades do mundo, no que se refere ao nível dos convidados e aos tópicos discutidos. Discussões sobre a cena artística, sobre colecionismo, sobre produção e práticas artísticas. Essas conversas são uma grande demonstração de como as feiras podem contribuir para um diálogo que vai muito além da questão de compra e venda.
E o que você mencionaria como os destaques da edição de 2015?
Primeiro, o Survey, um setor iniciado no ano passado que dá às galerias plataforma para mostrar trabalhos históricos. Alguns exemplos são o projeto que a galeria espaivisor, da Espanha, vai fazer com o artista colombiano Miguel Ángel Rojas, ou ainda a exibição do trabalho de Roberto Burle Marx (1909-1994) que será feita pela galeria Bergamin & Gomide, de São Paulo. Outros setores que para mim são muito empolgantes são os que apresentam galerias mais novas. O Nova, por exemplo, é uma seção para projetos solos de novos artistas. Ela mostra um pouco do que está acontecendo hoje na América Latina, principalmente, mas também em outros lugares do mundo.
Nos últimos anos, a crise econômica em diversos países não parece ter afetado tanto o mercado de arte, ao menos em relação às grandes feiras, como a Art Basel. Como você analisa essa situação?
Bom, a grande crise de 2008 certamente afetou o mercado de alguma maneira. Mas a retomada foi realmente rápida e robusta. Acho que o que temos hoje é um mercado muito mais forte no que se refere a seus recursos e a seu alcance, e que está menos vulnerável a flutuações locais. A força de uma grande feira internacional como a Miami Art Basel está justamente em ter uma rede tão vasta de compradores vindos de todos os cantos, fazendo com que a crise em um país não afete significativamente o resultado final. Obviamente que este ano estaremos de olho no impacto que a desvalorização de moedas como o real ou o peso colombiano terá na feira. Mas me parece que deve ser mínimo, já que a força da Basel está justamente no fôlego e na extensão da rede que ela criou. Além disso, uma coisa que é real no mercado de arte é que, se houver realmente qualidade, as coisas vão dar resultado.
Falando no Brasil, como você vê o panorama das artes plásticas hoje no País, tanto em relação à produção quanto ao mercado?
Tem sido incrível assistir ao crescimento do País no mercado internacional e acompanhar as feiras de São Paulo e do Rio, ou também o que está acontecendo em Inhotim, por exemplo. Para nós é um mercado importantíssimo. Há 16 galerias brasileiras na edição da Miami Art Basel deste ano, o que é um número muito significativo, sem contar a enorme quantidade de artistas e colecionadores que vão à feira. A relevância do Brasil hoje, tanto pela força do mercado quanto pela qualidade da produção, não é mais apenas na América do Sul, mas no mundo todo.
Art Basel Miami Beach
De 3 a 6 de dezembro
Miami Beach Convention Center
1901 Convention Center Drive – Miami Beach/EUA
artbasel.com/miami-beach
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