Dias antes de fecharmos esta edição, diretamente da MGM Grand Garden Arena, em Las Vegas, veio a boa-nova: com Dancê, seu mais recente trabalho, a cantora e compositora Tulipa Ruiz acabava de conquistar seu primeiro Grammy Latino, na categoria Melhor Álbum Brasileiro de Pop Contemporâneo. Nepotismos à parte, como costuma brincar o pai de Tulipa, nosso colega Luiz Chagas, jornalista e músico que assina a coluna Discos de Brasileiros, nunca duvidamos que o talento e o carisma da moça a levariam longe.
Desde setembro de 2009, quando a repórter Helena Wolfenson publicou o perfil Entre Cantos e Cores – oito meses antes do lançamento de Efêmera, o primeiro álbum de Tulipa –, acompanhamos de perto cada passo da carreira da cantora e de seu valioso parceiro, o irmão Gustavo Ruiz (também filho de Chagas), produtor de todos os seus trabalhos e, como o pai, guitarrista de sua banda.
Para celebrar essa trajetória vitoriosa, fizemos em nosso site um balanço de todas as reportagens sobre Tulipa nas edições impressas. Há o perfil escrito por Helena, reportagem sobre Tudo Tanto, o segundo álbum, bastidores de gravações, um relato de Chagas sobre a experiência de tocar com a filha no Festival de Montreux na Suíça, em 2013, e a matéria mais recente, em que a cantora comenta Dancê, faixa por faixa. Leia as reportagens.
A seguir, um depoimento exclusivo de Tulipa sobre a noite inesquecível em Las Vegas.
“Quando fui indicada ao Grammy fiquei honrada e surpresa. É muito especial quando o seu trabalho é reconhecido também fora do seu país. Eu e Gustavo, meu irmão, produtor do disco e meu parceiro nas composições do Dancê, ficamos cheios de vontade de estar na premiação. Mas oscilamos, por conta do dólar nas alturas (a entrega do prêmio seria em Las Vegas). A dúvida durou pouco, afinal era um Grammy. Sabe Grammy? Pô, claro. Então fomos de mala e cuia e felizes da vida pela indicação. Isso já era o nosso presente. Vivemos muitas aventuras durante a viagem, meu visto quase não saiu, demoramos mais que o previsto para chegar a Vegas e perdemos algumas solenidades antes do dia da premiação. Mas estávamos ali e essa era a nossa conquista. Nunca acreditei que ganharíamos. Não passou pela minha cabeça nem pela do Gus. A onda era viver a cerimônia, conhecer pessoas, a cidade, los hermanos. Ganhar não estava na nossa lista de coisas a serem vividas. Quando Ana Carolina entrou no palco para falar dos indicados, respirei fundo e agradeci por estar ali. Agradeci pelo fato de a minha música me levar até ali. Agradeci cada aventura da viagem. Sem querer, entrei em estado de oração. Quando ela abriu o envelope e disse o nome do meu disco, Gustavo apertou meu braço e eu acordei. E me veio um filminho de todas as pessoas que fizeram e fazem música comigo, vieram meu pai e minha mãe, todos os discos da nossa vitrola, todos os shows, todas as pessoas que vão aos meus shows. Tudo isso numa fração de segundos. Ana falou o nome do meu disco e eu desabei, não consegui aguentar. Chorei e abracei o Gustavo. O impossível tinha acabado de acontecer. No trajeto até o palco só me vinha na cabeça que aquele prêmio era uma conquista minha e de todas as pessoas que fazem música na batalha, na unha, sem o auxílio das grandes majors. Vinham à cabeça todas as dificuldades para marcar show, prensar disco, distribuir, manter banda. Estavam ali comigo todos os meus amigos músicos e todos os meus amigos que gostam de música. Veio à cabeça o meu medo de avião. Subi no palco com a maquiagem borrada, descabelada, e feliz. Sabe o Grammy? Pô, claro. Ganhamos!”
Deixe um comentário