As medidas de mobilidade adotadas na capital paulista este ano, como as reduções de velocidade nas marginais, terão um custo político, mas devem salvar muitas vidas. A expectativa é do secretário municipal de Transportes, Jilmar Tatto, em declaração nesta terça-feira (15). Em evento promovido pela Rede Nossa São Paulo, ele disse que “vai valer a pena”.
Segundo Tatto, a implementação das medidas levará à redução de 250 mortes no trânsito este ano, segundo cálculos da prefeitura. De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), no ano passado, 1.249 pessoas morreram por causa de acidentes de trânsito no município. A redução de lesões no trânsito já libera 60 leitos hospitalares por dia no Sistema Único de Sáude (SUS). “A partir desse dado, começamos a tomar medidas que não estão sendo fáceis, porque o usuário do carro, entre a sua segurança e a velocidade, uma boa parte prefere a velocidade. Tem um problema profundo cultural, que temos que mudar. Há grupos organizados na cidade que não deixam a mudança acontecer”, disse ele.
Entre as mudanças implementadas estão a redução dos limites de velocidade, o aumento da fiscalização, o espaço especial para motociclistas durante as paradas em semáforos, a sinalização para pedestre, as ciclovias, as faixas exclusivas de ônibus e redução da velocidade dos coletivos. Nas pistas expressas das marginais Pinheiros e Tietê, desde o dia 20 de junho, a velocidade máxima caiu de 90 quilômetros por hora (km/h) para 70 km/h e, nas pistas locais, a redução passou de 70 km/h para 50 km/h.
Outros países
Segundo a coordenadora de projetos de Saúde e Segurança viária do WRI Brasil, Marta Obelheiro, o país registra 116 mortes no trânsito por dia. “No trânsito, isso acontece todos os dias, mas as pessoas ainda não despertaram e isso não gera a comoção que deveria. É como se fosse a queda de um avião por dia.”
Por isso, de acordo com Marta, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda a velocidade máxima de 50 quilômetros por hora em vias urbanas. Cidades como Tóquio, Londres, Nova York, Paris e Chicago já adotam há anos essa velocidade máxima. No caso da França, que promoveu a mudança na década de 90, foram evitadas 580 mortes em dois anos. Recentemente, Paris iniciou a discussão e reduziu ainda mais a velocidade, de 50 km/h para 30 km/h. “Em alta velocidade, a pessoa tem menos tempo de reagir e evitar a colisão”, explicou.
O consultor da OMS Roberto Victor Pavarino Filho cita também o exemplo de países como a Suécia, que desde a década de 90 optou por priorizar a vida com vias mais seguras aos pedestres. No Brasil, o grande problema, para o consultor, é a falta de entendimento da população. “Há que não entenda, mas há também quem não queira [a redução de velocidade]”, disse. “Os fundamentos [das medidas de mobilidade] são técnicos, mas a decisão é política, no termo mais grego, de administração da polis”, acrescentou.
*Com Agência Brasil
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