“Brasileira tem que ir à urna e votar em mulheres”, defende diretora na ONU

Chegou a hora das mulheres fazerem mais política - Foto: EBC
Chegou a hora das mulheres fazerem mais política – Foto: EBC

O aumento da participação das mulheres nos espaços de decisão política podem acelerar a redução da desigualdade entre homens e mulheres, defendeu a subsecretária Geral das Nações Unidas e diretora-executiva da ONU Mulheres, Phumzile Mlambo-Ngcuka. Criada em 2010, a organização é o “braço” da Organização das Nações Unidas (ONU) para a promoção da igualdade de gênero. 

Ao ser questionada sobre a presença e mulheres como chefes de Estado na América Latina, Phumzile lamentou que, dos cerca de 200 países que existem atualmente, somente 20 mulheres ocupem as funções de chefes de Estado e governo. “Precisamos de mais mulheres chefes de Estado, dentro e fora da América Latina”, disse.

Ao defender mais espaço para a mulher na política, ela disse que a sociedade precisa mudar para reverter a situação de desigualdade enfrentada pelas mulheres. “O que se exige do líder de um país? Honestidade, integridade, amor ao seu povo e dedicação ao serviço. Esses atributos são tão fortes na mulher quanto no homem. O homem não tem o monopólio desses atributos” disse. “Não digo que todos os homens são maus e todas as mulheres são boas [no poder], mas como tivemos poucas mulheres no governo ainda não descobrimos a força da mulher.”

Mulher vota em mulher
Phumzile  lamentou que o Brasil, apesar de ter uma mulher na presidência, tenha poucas mulheres nos espaços políticos. De acordo com ela, a América Latina tem cinco dos dez países que mais se aproximam da igualdade de representação entre homens e mulheres nos espaços de poder. “O Brasil não é um deles. Ele é um dos quatro países no final da lista, que tem cerca de 10% de representatividade feminina [na política]. É ainda menor que a média global de 22%”, lamentou. “A brasileira tem que ir a urna e votar em mulheres”.

A diretora-executiva da ONU Mulheres destacou que somente com o esforço conjunto de líderes políticos e da sociedade vai ser possível alcançar a igualdade de gênero prevista nos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que substituem os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, vigentes até o fim deste ano.

Filhos
Phumzile disse que a desigualdade de gênero, com a divisão desproporcional de tarefas entre homens e mulheres, como a responsabilidade de ter que ficar em casa para cuidar dos filhos, é um dos principais obstáculos para a independência econômica feminina e tem que ser combatido. “A maternidade as confina em casa e não as deixa sair para fazer o que podem enquanto cidadãs.”

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) usa o termo “maternidade penalizada” para definir a desigualdade entre homens e mulheres e a perda de oportunidades em razão da não divisão dessas tarefas. “Na plenitude da vida, em países de renda média, mulheres perdem de 30% a 70% da renda só porque tiveram filhos, seja só por oportunidades que não podem aproveitar, seja por baixa remuneração”, argumentou.

Segundo a diretora da ONU Mulheres, os governos devem promover ações voltadas para aumentar a participação dos homens nos cuidados com os filhos, especialmente a licença paternidade, além de trabalhar pela redução na diferença de renda entre homens e mulheres. Na média global as mulheres ganham 24% menos.

“Quem é homem nasce com privilégios e quando se fala contra a inclusão das mulheres, vê-se que o privilégio não está claro para quem tem… você não entende, porque não passou por isso” disse. “Por isso tentamos colocar todos no lugar das mulheres, para que vejam como é estar do outro lado”.

A ativista defendeu também o direto das mulheres de decidir sobre o seu corpo e se posicionou favorável à legalização do aborto. “Os governos e a sociedade devem oferecer um ambiente saudável e seguro para que as mulheres tomem essa decisão. Se os governos não fornecerem as leis certas e o ambiente certo vai acontecer de qualquer forma”, disse.

Primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente da África do Sul de 2005 a 2008, Phumzile, também integrou o parlamento de seu país e foi vice-ministra do Departamento de Comércio e Indústria (1996-1999) no governo de Nelson Mandela, que, segundo ela, foi um grande defensor das mulheres.


Comentários

Uma resposta para ““Brasileira tem que ir à urna e votar em mulheres”, defende diretora na ONU”

  1. Avatar de Ricardo Carvalho
    Ricardo Carvalho

    Direito à integração, inteiração e respeito em tudo que se refere aos processos decisórios no desenvolvimento social não se discute sobretudo para as mulheres e esta premissa envolve não só os grupos de destaque ,mas as mulheres representadas em todas as classes de excluídos . No entanto é convite à reflexão que todo indivíduo tem ,por finalidade , uma missão e o grupo social dos gêneros revela aspectos naturais e antropológicos que não devem passar despercebidos nas formações culturais com medida racional no desenvolvimento humano e seus desdobramentos .

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