Em entrevista ao programa Espaço Pública, exibida pela TV Brasil, realizado na terça-feira (5), a cineasta Anna Muylaert disse que a falta de acesso aos filmes incomoda mais que a pirataria. Seu mais recente lançamento, Que horas ela volta? (2015), foi premiado, elogiado pela crítica especializada e alcançou um grande público, onde parte da audiência veio dos downloads ilegais e da compra de DVDs piratas.
Um exemplo que retrata a realidade descrita por Anna, é o filme “Tropa de Elite” dirigido por José Padilha, que tem como personagem principal o icônico Capitão Nascimento (Wagner Moura)teve mais de 1 milhão de copias pirateadas e passou a ser um dos filmes mais falados e assistidos na história do cinema brasileiro
De acordo com a cineasta, Que horas ela volta? fez sucesso inicialmente em cinemas de arte, mas o debate gerado pelo tema abordado levou o filme às periferias e vendedores de filmes piratas. Moradores de municípios afastados dos grandes centros baixaram o filme da internet e exibiram para a comunidade. “Quando você faz um filme político, que gera debate quer que seja visto. Se o mercado não vai cumprir isso, que vá de outra maneira. Eu prefiro que seja visto”, afirmou Anna.
“Que horas ela volta? mostra a realidade da classe média-alta da cidade de São Paulo de forma instigante . O filme retrata a rotina de uma família e da empregada doméstica, a pernambucana Val. A estrutura hierárquica construída na relação patrão e empregado é ameaçada quando a filha de Val, Jéssica, sai de Pernambuco e vai para São Paulo prestar vestibular.
Além de comentar sobre o acesso elitizado às telas de cinema de todo Brasil, Anna falou da posição da mulher, tanto no filme, quanto no mercado cinematográfico. “É um filme muito feminino. É muito crítico, mas chega um momento em que ele vai para o coração. A conexão que a mulher tem com o filho é talvez a maior força da natureza humana”
No Castelo Rá Tim Bum (programa infantil exibido pela TV Cultura nos anos 90) a diretora disse que criou várias histórias da série, fez a coordenação e seu nome não está nos créditos. “Acho que a questão é que, historicamente, é uma novidade a mulher trabalhar. Lembro de mães de amigas minhas que eram jornalistas e não podiam assinar. Havia uma exploração na questão do crédito”, completa.
“O filme realmente mexeu numa ferida para ambos os lados da porta da cozinha”. concluiu
MAIS:
Anna Muylaert foi capa da edição 99 de Brasileiros, de outubro de 2015. Leia a reportagem.
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