Gerda Wegener, a personagem vivida por Alicia Vikander, está em um salão de artes em Paris, recebendo um sem-número de olhares ansiosos por sua obra com uma pergunta: estaria aqui a modelo que inspira a artista? A resposta é não. A linda e fotogênica ruiva Lili Elbe está em casa, protegida de observadores curiosos que tanto a amedrontam. Ela teme que sua beleza estampada nas telas pelas mãos de Gerda seja embaçada ao surgir como o pintor Einar Wegener, interpretados por Eddie Redmayne, o britânico que ganhou, no ano passado, o Oscar de melhor ator por A Teoria de Tudo, em que ele vive o físico e cosmólogo britânico Stephen Hawking.
Em A Garota Dinamarquesa, que estreia no Brasil no dia 11 deste mês de fevereiro, Redmayne, tanto na pele de Einar como na de Lili, consegue despertar a curiosidade do público sobre se vai mesmo conseguir se superar na próxima cena. Sim, ele vai. Vale dizer que a atriz e bailarina sueca Alicia Vikander não fica atrás e leva a trama nas mãos com uma habilidade ímpar. Ela mostra que Gerda, em 1910, já era a mulher que todo mundo gostaria de ter, sem nada de antigo ou ultrapassado. O diretor Tom Hooper, também britânico, teve a sensibilidade de um gênio ao escolher essa dupla para interpretar um casal.
Mas antes de assistir a esse filme, esqueça estereótipos ou quaisquer convicções preexistentes. Pense seriamente no que você faria se alguém que ama desejasse ser outra pessoa, mudar completamente. O longa exala a doçura de um amor profundo entre duas mulheres, ainda que Lili tenha nascido com um pênis. Ousado e cuidadosamente delicado, o filme de Hooper é uma mostra de como o cinema retrata com traços de veracidade dramas escondidos atrás de tabus. Qual o peso de estar aprisionado em um corpo que não é seu? O filme mostra que é imenso. Lili morreu em 1931, em Dresden, na Alemanha, devido a consequências pós-operatórias em sua quinta cirurgia para readequação sexual. Essa ousada iniciativa seria a primeira operação de gênero na história.
Mais afeto
Baseado na novela da escritora norte-americana Patricia Highsmith, Carol conta a história de uma milionária infeliz no casamento, vivida pela encantadora Cate Blanchett, que se apaixona por uma jovem vendedora de uma loja de departamentos, mas que almeja ser fotógrafa, papel de Rooney Mara. Já em cartaz nas salas de todo o País, Carol é de uma beleza escandalosa, começando pelo figurino da década de 1950. Não é preciso enaltecer as qualidades cênicas das atrizes, mas preste atenção na delicadeza e na sofisticação da iluminação escolhida pelo diretor Todd Haynes.
A exemplo do pioneirismo de Lili Elbe na cirurgia para mudança de sexo, o livro Carol é considerado a primeira publicação de um romance lésbico com final supostamente feliz.
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