“Um legado para fotojornalistas e pesqui-sadores.”?É com esta frase que Luis Humberto define seu mais recente livro Do lado de fora da minha janela. Do lado de dentro da minha porta (Editora Tempo d’Imagem). Mas basta uma rápida folheada para percebermos que é muito mais que isso. Uma leitura mais atenta nos dá a exata percepção da importância do olhar fotográfico desse que pode ser considerado o mestre de muitos fotojornalistas brasileiros. Não só do ponto de vista prático, mas também do teórico, visto sua vida acadêmica (foi um dos fundadores da Universidade de Brasília e quem lá criou o curso de Fotojornalismo) e seu importante papel em levar à reflexão da imagem jornalística: uma foto codificada que necessita de interpretação para ser compreendida.
Luis Humberto respira fotografia há 48 anos. Seu olhar foi forjado no que de melhor existia no fotojornalismo. É possível vermos em suas imagens a influência direta daquele que é considerado o pai do fotojornalismo moderno, o alemão Erich Salomon (1886-1944) que com suas “imagens cândidas” dos primeiros anos do século XX, nos ensinou a escrever com a luz, quando as palavras não davam ou não podiam dar conta do que era preciso narrar.
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É dessa forma que, na época da ditadura militar, as fotografias de Luis Humberto se tornaram fundamentais. Simples, diretas, mas com forte dose de sarcasmo e de posição do homem político, ele procura nos contar o que seu olho testemunha dentro dos palácios governamentais.
Como a conversa “sigilosa” entre o deputado Eurico Rezende e Ulysses Guimarães, no Congresso em 1977, tendo ao fundo uma camareira espanando o pó das mesas, ou a foto feita na rua com uma mulher que parece indecisa entre dois rumos a tomar, da década de 1980. Metáforas da vida cotidiana. Luis Humberto, desde o início, defende a responsabilidade ética do fotojornalista. Em seu livro Fotografia, Universos e Arrabaldes, publicado em 1983, já afirmava: “Sua responsabilidade é imensa porque o resultado de seu trabalho não pode ser decorrente da observação fria e impessoal das coisas que o cercam e dos fatos que ocorrem a sua volta; e, sim, a consequência de uma atitude consciente, apaixonadamente participante e, sobretudo, honesta, em face desses mesmos fatos e coisas traduzidas em imagens”.
E essa parece ter sido a tônica de seus trabalhos nessas décadas. Um olhar singular, um olho que, ao testemunhar fatos, deixa para nós testemunhos de mundo, seja de coisas aparentemente banais, como as importantes cenas de um nosso passado, ainda não tão distante.
Mas Luis Humberto não é refém de seus olhos. Com o mesmo virtuosismo com o qual passeia pelo fotojornalismo, ele o faz no cerrado, na vida familiar, nas fotos que faz enquanto caminha por Brasília, cidade que resolveu habitar na década de 1960, deixando para trás o Rio de Janeiro – natal e sua formação de arquiteto.
Como escreve o também fotógrafo Salomon Cytrynowicz, ou Samuca, como é conhecido e que é junto com a curadora Rosely Nakagawa, responsável pela construção do livro: “As imagens se encadeiam como em uma peça musical de movimento único, mas repleto de variações. Realizadas com motivações e estados de espírito distintos, muitas vezes ao mesmo tempo, mas por trilhas paralelas, as fotografias resultam em cinco universos, amalgamados por uma visão única de vida: liturgia do poder, o cerrado, o homem e o espaço, paisagem doméstica e tempo veloz, títulos de exposições realizadas por Luis Humberto ao longo de sua trajetória, reapropriados para dar nomes aos fluídos capítulos sem fronteira que se seguem”.
Uma trajetória de vida dedicada à imagem, à memória de um País. Imagens de pequenas coisas que refletem luzes diversas. Ou como ele próprio afirma: “Sou fotógrafo, mas sou muito mais que isso. Não tenho necessidade de me fixar em uma coisa só. E é essa a graça da fotografia!”.
Para os fotógrafos, a graça é ter um mestre como Luis Humberto!
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