À direita da direita do PSDB

Ganhar a eleição a prefeito ele não vai.  Esse risco nem a cidade nem o PSDB correm, mas vai aproveitar a campanha para divulgar a face mais reacionária que o partido jamais teve.  Fotomontagem/Reprodução/Facebook
Ganhar a eleição a prefeito ele não vai.Esse risco nem a cidade nem o PSDB correm, mas vai aproveitar a campanha para divulgar a face mais reacionária que o partido jamais teve. Fotomontagem/Reprodução/Facebook


O cenário branco
ficou mais branco ainda. De susto. Quando uma voz anasalada começou a ser ouvida, as paredes se perguntaram o que aquele senhor que parece moço, mas fala como um velho e usa camisas de golas estranhas e nó de gravata idem, estava fazendo ali, num programa supostamente jornalístico.

Talvez fosse uma jogada para aumentar a audiência. Somando o seu ao Ibope do programa de João Doria Jr. (Show Business, na Band, alguém já assistiu por mais de dois minutos?), talvez a TV Cultura batesse todos os recordes negativos com a sua presença. Seja como for, lá estava aquele estranho no ninho imaculado.

Aos poucos, à medida que fazia suas perguntas muitas vezes formuladas sem grande atenção à construção gramatical, resultando incompreensíveis para quem fala o idioma português, pudemos ver qual era o seu papel ali no Roda Viva. Estavam sendo abertas para ele as portas da TV Cultura pelo governador Geraldo Alckmin, seu amigo, com vistas às suas pretensões eleitorais de 2016.  E as de Alckmin em 2018.

Se aquilo fosse uma luta de boxe e não um programa de TV, daria para supor que, antes de entrar na rinha, Doria teria ouvido de seu técnico: “Vai pra cima dele, bate sem dó e arrebenta com ele”. Foi o que se viu – e ao vivo – a seguir. Doria parecia estar mais interessado no impeachment do que o próprio Eduardo Cunha. Cobrava, pressionava, acuava o entrevistado no canto do ringue, não o deixava respirar. Mas, para surpresa geral, Cunha parecia o advogado da presidente Dilma. Derrubava todos os argumentos de Doria, os quais, convenhamos, mostravam claramente que ele não tinha a menor ideia do que a Constituição de 1988 diz a respeito de impeachment.

O embate, travado no ano passado, revela o maior perigo que representa a possível escolha de João Doria Jr. candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Se os tucanos são acusados de serem de direita, você ainda não viu nada. Doria está à direita desse PSDB, que é considerado de direita. Ele lembra, em quase tudo, corte de cabelo, penteado, sorriso postiço e roupa, os políticos de oposição da Venezuela. Aliás, faria mais sucesso lá do que vai fazer aqui.

A possibilidade (ou a ameaça) de ser o candidato tucano na maior cidade do Brasil é muito grande porque Alckmin gosta dele – e gosta dele porque Doria sempre vem acompanhado por uma boa parcela do PIB nacional – apesar de “Bebê Johnson”, como já começa a ser conhecido, nunca ter caído nas graças dos caciques do PSDB, como apregoa, mas sim de suas mulheres. É hábil em cultivar amizades femininas – sem segundas intenções, por favor. Covas não ia com sua cara, mas ele ficou amigo desde criancinha de Lila. Para se aproximar de Alckmin a escada foi Lu, sua mulher, ultimamente conhecida como Mulher Maravilha, tal a quantidade de voos que costuma fazer. Em retribuição à amizade, Alckmin costuma comprar anúncios polpudos em algumas das 18 revistas de Doria, cujos leitores reunidos certamente conseguem lotar uma Kombi.

Filho de João Dólar
Doria se aproximou do PSDB em 1983. Seu pai, apelidado João Dólar devido ao invejável talento de fazer dinheiro com vento – como bom exemplo,  um curso de treinamento para vencer na vida chamado Mind Power – era membro da Democracia Cristã, assim como Franco Montoro. O governador recém-eleito chamou o filho do amigo, que não tinha vocação para nada ao reduto de seus auxiliares mais diretos, num casarão da rua Madre Teodora, no Jardim Paulista, em São Paulo, e não no palácio, onde revelou talento para criar atritos com seus chefes devido à sua insuportável obsessão em achar que deve ser o dono do pedaço onde quer que chegue. Encarregaram-no de organizar eventos, para mantê-lo ocupado, o que mais tarde foi fazer também na presidência da Paulistur, quando Montoro nomeou Covas prefeito de São Paulo. Nessa época, forneceu infraestrutura para os comícios da Sé e do Vale do Anhangabaú, que foi seu único papel nas Diretas Já. A imagem de militante contra a ditadura que tenta vender hoje é para tucano ver. Desafetos brincam: “Está mais para Direita Já que para Diretas Já”.

Os que o conhecem mais de perto se dividem em dois grupos: os que dizem que é muito rico e os que dizem que é muito, muito rico. Seu principal cartão de visitas é o escritório localizado no mesmo prédio do Nizan Guanaes, o famoso 2277 da Faria Lima, em frente ao Iguatemi, provavelmente o metro quadrado mais caro de São Paulo, onde recebe as visitas mais ilustres.

Doria vende tudo
Tendo provavelmente herdado o tino comercial de seu pai, ele enriqueceu fazendo relações públicas até às últimas consequências e cobrando por tudo o que isso represente, seja a cadeira mais próxima ao ministro de um almoço-palestra do Lide, seja apresentar um empresário a outro, ou estipular em R$ 90 mil o fim de semana do casal empresário e esposa nos convescotes-seminários em lugares paradisíacos, como a Ilha de Comandatuba, na Bahia, onde comanda o andamento das atrações ao ar livre trilando um apito que é, segundo alguns, de ouro e, segundo outros, dourado.

Muitos empresários viraram as costas para ele depois de receberem faturas por eventos para os quais acharam que tinham sido convidados, mas outros o apoiam e ao menos um deles, o Tutinha, o considera seu guru. Os microfones da Jovem Pan, que ecoam as opiniões mais reacionárias do momento, estão permanentemente abertos para ele, portanto.  

Seu poderio econômico, somado ao dos empresários de seu clube particular, deverá ser um forte handicap para derrubar todas as barreiras dentro dos diretórios municipais do PSDB, onde jamais atuou. É muito provável que ele tenha sucesso nessa empreitada, principalmente num período em que as campanhas não poderão ser irrigadas por empresas.

O pior virá depois. Ganhar a eleição a prefeito ele não vai. Esse risco nem a cidade nem o PSDB correm, mas vai aproveitar todos os espaços da campanha eleitoral para divulgar a face mais reacionária que o partido jamais teve, conduzindo-o, inexoravelmente, cada vez mais para a direita. Se for o candidato, o PSDB não terá nada a ganhar, mas tudo a perder. I


Comentários

6 respostas para “À direita da direita do PSDB”

  1. Esse cara é mais uma jogada da esquerda ! PSDB não é de direita, nem aqui nem na china ! Por favor povo acorde ! PSDB é do mesmo saco de farinha do PT ! Bolsonaro 2018

  2. Avatar de Janyerick Carneiro
    Janyerick Carneiro

    Advinha quem ganhou a eleição em 1 turno?
    Aceita que Dói menos!

  3. Avatar de Thiago Ignácio
    Thiago Ignácio

    Não sabia dele. Mas será meu candidato!

  4. Devagar com o andor: a raiva do paulistano com Haddad pode colocar qualquer um no poder. Além disso, quando se souber qual o candidato do PSDB, automaticamente ele levará os votos antipetistas – e a ida para o segundo turno estará garantida.

  5. Avatar de Welbi Maia Brito
    Welbi Maia Brito

    O governador Geraldo Alckmin apoia as prévias e respeita a decisão da militância do partido. Diferente de outros partidos que o candidato é escolhido pelos caciques. O vencedor da disputa interna terá o apoio de Alckmin, o que pode ser decisivo nas eleições da prefeitura de São Paulo este ano.

  6. Avatar de Denilson de O Moura
    Denilson de O Moura

    Achei o texto bom e subi pra ver o autor, sem surpresa: Alex Solnik.

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