A reality-novela do SBT: Branca de Neve e 1 anão

CAPÍTULO 1

Cena 1Exterior. Dia.
O portão automático se abre, dando passagem a um automóvel comprido, branco embaixo e preto na capota. A câmera levanta, mostrando a mansão de onde o veículo partiu, com dois andares, varandas e janelas grandes, algumas árvores altas, uma boa chaminé. Corte para o detalhe dos pneus que arrancam em alta velocidade.

Cena 2 Interior do veículo.
Ao volante do Lincoln presidencial, vemos um homem de idade indefinida. A pele não é vincada, mas há sinais de plástica no rosto. Os olhos são protegidos por óculos escuros. O cabelo é basto, bem penteado e que definitivamente afasta a ideia de que o seu portador seja idoso. As ruas estão livres, é sábado à tarde em São Paulo.

Cena 3 Exterior. Rua.
No farol da esquina Morumbi com Giovanni Gronchi, ele para obrigatoriamente. A vendedora de jornais, uniformizada, apregoa a manchete: “Hoje completam-se nove anos do atentado de 11 de setembro“. Ela percebe que os vidros estão levantados. Ainda assim, agita o jornal na frente do motorista. Ele não dá atenção.

Cena 4 Exterior. Dia. Complexo Anhanguera. Sede do SBT.
Plano geral: o Lincoln presidencial encosta na vaga do grande pátio, onde há uma estrela e um nome: Silvio Santos. O condutor desce do veículo e se encaminha para o camarim, onde um ritual o aguarda.

Cena 5 Interior do camarim de Silvio Santos.
Já sabemos que o homem do Lincoln é Silvio Santos. Frita dois ovos, um de seus pratos favoritos. Batem na porta. É o Roque, a mecha branca no cabelo o entrega. “Está tudo pronto para a gravação, seu Silvio!”, diz ele.

Cena 6 Interior. Auditório do Estúdio A.
Todas as poltronas do pequeno auditório estão ocupadas por mulheres. As idades variam, o sexo não. Homem não entra. Só o Roque. Ambiente festivo. Balões de gás, jogo de luzes, tudo ajuda a transformar o ambiente em uma história de conto de fadas. Roque é o maestro: indica o momento de cantar… de aplaudir… de gritar… e até de chorar. (Bem, mas isso somente nos momentos de muita emoção, reservados para o final do programa.) Silvio se transforma. Aquele sisudo condutor do Lincoln presidencial, agora no palco, é um brincalhão de marca maior. Ninguém é capaz de ficar sério quando ele começa a falar. Ninguém se lembra mais de seus pequenos problemas. Entra a vinheta musical: Agora é hora/de alegria/vamos sorrir e brincar/da vida não se leva nada/vamos sorrir e brincar/La-ra-ra-ra/La-ra-ra-ra…

Cena 7 Interior. Corredor dos estúdios.
No corredor, do lado de fora do estúdio, toca o celular pessoal de Silvio Santos. A secretária atende. É um chamado urgente, querem falar com o dono do aparelho nesse instante. A secretária convoca Roque, que leva correndo o celular até o patrão. É um intervalo da gravação. Não é hora de atender telefone, mas a palavra urgente dá um frio na barriga. Suas filhas estão viajando… “É minha filha?”, Silvio pergunta a Roque, preocupado. “Não, é o doutor Sandoval.” Refeito do susto, ele dispensa a ligação. “Peça para ligar depois da gravação.”

Cena 8 Interior. Camarim de Silvio Santos. Silvio Santos fala ao celular, enquanto termina o ovo frito que sobrou na frigideira.

“Diga, Sandoval, o que faz você telefonar para mim nessa bela tarde de sábado, sabendo que eu estou gravando? Há-há-há…”

“Temos grandes problemas no banco, Silvio.”

“No nosso banco?”

“Sim, o Banco Central está há três semanas lá dentro, fuçando.”

“Há três semanas? E ninguém me avisa?!”

“Só agora fiquei sabendo do rombo.”

“Rombo? Precisamos de quanto?”

“Dois bilhões… dois bilhões e quinhentos milhões… por aí… de reais!”

Locutor:

Assim, no dia 11 de setembro de 2010, Silvio Santos fica sabendo que uma de suas duas torres gêmeas tinha ido para o vinagre.

Fim do primeiro capítulo.

CAPÍTULO 2

Cena 1 Interior. Noite. Quarto do casal. Algumas esculturas de cristal da coleção particular de Silvio Santos embelezam o cenário.

Silvio Santos: Iris, fomos traídos pelo teu primo.

Iris: O que é isso, Silvio? É um enredo de novela?

Silvio: Sofri um grande desfalque no banco. Teu primo era o presidente.

Iris: Ele é o presidente.

Silvio: Ainda é.

Iris: Não pode ser. Você o tratava como um filho.

Silvio: Eu sei.

Iris: Vocês lutam boxe… Tem certeza de que a culpa é dele?

Silvio: Quase. Mas agora não vou fazer nada com ele. Não posso assustá-lo. O mais importante é o sigilo.
Isso não pode vazar.

Iris: Então, por que você está contando para mim?

Silvio: Porque eu confio em você.

Eles se abraçam. A música de fundo é Não se vá, com Jane e Herondy.

Cena 2 Flashback. O calen-dário indica o ano de 1992. Exterior. Noite. Plano geral mostra a fachada da mansão de Silvio Santos. Depois de saltar do carro, ele se aproxima da porta e com a chave tenta abri-la. Não consegue. Bate na porta, provocando muito barulho. Corta. Vemos no muro a silhueta de um revólver que se desloca em direção a Silvio. Aparece em seguida a mão que o empunha. Silvio então o reconhece.

Silvio Santos: Olá, caro sogro, estou tentando entrar na minha casa, mas não estou conseguindo.

O sogro: A Iris trocou a fechadura. Afinal, vocês estão separados.

Silvio Santos: O senhor poderia abaixar o revólver?

Cena 3 Um dia de setembro de 2010. Interior. Dia. Um gabinete muito bem mobiliado em um bairro caro de São Paulo. Das janelas, avista-se a Avenida Paulista quando as persianas são abertas. Em cena, o senhor Antonio Carlos Bueno, diretor executivo do Fundo Garantidor de Crédito do Banco Central; Silvio Santos e sua mulher, Iris, de mãos dadas (conforme entrevista n’ O Estado de S. Paulo de 14/11/2010).

Antonio Carlos Bueno: É um prazer recebê-lo. O que podemos fazer para ajudá-lo?

Silvio Santos: Como o senhor já sabe, meu banco necessita de um aporte de 2,5 bilhões.

Antonio Carlos Bueno: É uma quantia expressiva… Nunca fizemos um aporte desse tamanho. Aliás, nunca fizemos aporte algum desde que o Fundo Garantidor foi criado, logo depois do rombo do Banco Nacional…

Silvio Santos: Eu compreendo. Mas eu garanto que vou devolver tudo. Meu nome ainda tem algum valor…

Antonio Carlos Bueno: Muito bem.

Silvio Santos: Dou todas as minhas empresas em garantia. Só não quero que nem os funcionários do banco nem os depositantes sejam prejudicados.

Antonio Carlos Bueno: Vamos analisar. E como o senhor pretende devolver o empréstimo?

Silvio Santos: Em 10 anos, com três anos de carência, prestações semestrais, sem juros.

Antonio Carlos Bueno: Sem juros? Impossível.

Silvio Santos: Com juros é que é impossível!

Iris: Calma, Silvio. Eu fico muito preocupada com a saúde dele…

Silvio Santos: Há-há-há… Olha quem fala!

Cena 4 A mesma sala do FGC. Outra reunião. Antonio Carlos Bueno e Silvio Santos estão sentados, concentrados na leitura de papéis. Entra alguém. Eles não percebem quem é a princípio. De repente, Silvio Santos reconhece o recém-chegado e se dirige a ele, Wadicco Buchi, diretor do Panamericano e ex-presidente do Banco Central nesses termos.

Silvio Santos: o que você está fazendo aqui? Eu não o convidei!

Cena 5 Outubro de 2010. A mesma sala. Silvio está de terno preto, mas a gravata é amarela, combinando com o lenço do paletó. Depois de insistir mais uma vez que não pagará juros, Silvio Santos joga uma frase de efeito na mesa.

Silvio Santos: Senhores, esta é a nossa 26a reunião. Se vocês querem quebrar o banco do Silvio Santos, vocês podem quebrar, mas terão de assumir essa responsabilidade.

Mantendo a elegância, ele se levanta e sai, em sinal de protesto. Permanece por alguns minutos na antessala.

Cena 6 Silvio Santos é chamado de volta à reunião. Desta vez, além de Antonio Carlos Bueno está na sala Gabriel Jorge Ferreira, presidente do Conselho do Fundo Garantidor de Crédito. Ele é quem toma a palavra.

Gabriel Jorge Ferreira: Chegamos a um acordo. Vale frisar que, de acordo com ele, não só a instituição financeira será vendida; todas as participações societárias entregues em garantia deverão ser vendidas.

Silvio Santos: Eu queria fazer apenas uma solicitação: posso vender o SBT por último?

Gabriel e Antonio Carlos cochicham rapidamente.

Gabriel Jorge Ferreira: Muito bem. Fica estabelecido que o movimento de venda do SBT será iniciado no último ano do prazo de dez anos.

Silvio Santos: Sem juros.

Gabriel Jorge Ferreira: Sem juros.

Fim do segundo capítulo.

CAPÍTULO 3

Cena 1 Dia 11/11/2010. Interior. Dia. Sala da presidência do Grupo Silvio Santos. O presidente,
Luiz Sandoval, chama seu chefe.

Luiz Sandoval: Vem ver, Silvio, aqui no computador.

Silvio se aproxima. Em um site de notícias, assinado por Sonia Racy de O Estado de S.Paulo, há uma nota em destaque: “Hoje ainda, o Banco Central vai fazer um anúncio de peso“.

Silvio Santos: Então, vai ser hoje?

Luiz Sandoval: Com certeza. Deve ser hoje.

Cena 2 Dia 11/11/2010. Interior. Noite. Gabinete da presidência do Grupo Silvio Santos. Luiz Sandoval fala ao celular.

Luiz Sandoval: Prepare-se para as entrevistas. Estamos soltando nosso comunicado. O Banco Central não comunicou, comunicaremos nós.

Cena 3 Dia 12/11/2010. Exterior/Interior. Dia. Em frente ao salão Jassa, rua Iguatemi, São Paulo. Silvio Santos salta do carro. Veste calça e camisa preta. Entra no salão, amplo e espelhado. Silvio Santos é o cliente mais importante. Logo que chega, sorrindo, é claro, cercam-no manicures, a moça do café, a massagista. Ele se ajeita na cadeira. Jassa o atende.

Silvio Santos: Precisamos levantar o nosso ibope. Tem alguma ideia?

Jassa: Conheço um cara que é fera.

Silvio Santos: Fale com ele. Me mantenha informado.

Cena 4 Dia 12/11/2010. Noite. Interior da mansão Silvio Santos. O telefone fixo na mesinha de centro toca uma vez. Logo Silvio Santos atende. Do outro lado, ouve uma voz de mulher.

Mônica Bergamo: Alô, Silvio, aqui é a Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. Você está bem? Tudo bem com você?

Silvio Santos: Você já me viu mal?

Mônica Bergamo: O SBT está à venda?

Silvio Santos: Se pagarem 2,5 bilhões de reais, eu vendo!

Cena 5 Interior Mesma mansão. Algum tempo depois. Silvio Santos ao telefone com um jornalista.

Silvio Santos: Não, Eurípedes Alcântara, o SBT não, eu vou fazer de tudo pra não vender o SBT. Você conhece a história do rei que gostava de comprar coisas absurdas? Um sujeito propôs a um amigo que tinha um camelo: “Vamos dizer ao rei que teu camelo fala. Como ele gosta de comprar coisas estranhas, vai pagar uma fortuna por ele”. E lá se foram eles falar com o rei. “O camelo fala?”, perguntou o rei. “Ainda não, mas vai falar em 20 anos”, disse o sujeito. “Minha proposta é: o senhor nos hospeda esses 20 anos, enquanto ensinamos o camelo a falar”. O rei disse: “Tudo bem, com uma condição: depois de 20 anos, se o camelo não falar, vocês serão enforcados. Topam?”. O dono do camelo quis fugir. O outro disse: “Calma, calma. Em vinte anos, o camelo pode morrer, o rei pode morrer, nós podemos morrer…”

Cena 6 Interior. Estúdio. Opinião do repórter.

O repórter: Se vender o SBT antes das outras empresas do grupo, Silvio Santos afunda as outras empresas. Sem a TV, elas murcham. Vão anunciar onde? Na Globo? O SBT tem de ser vendido por último. Mas o banco também é bom segurar, pois, bem administrado, pode gerar muitos recursos.

Cena 7 Domingo, 14/11/2010. Interior. Dia. Auditório do Programa Silvio Santos. Uma pergunta no ar: “Como estará o humor dele hoje?”. A jornalista Alline Dauroiz, de O Estado de S. Paulo, está no auditório. Antes da gravação, Silvio Santos conversa com as colegas de trabalho.

Silvio Santos (sorrindo): Sabe que esta semana aconteceram coisas que me deixaram muito triste, quase em depressão. Aí, conversei com um amigo que foi para a Índia, e ele me contou uma história: “Não fique triste, Silvio. Sabe que uma vez eu vi no chão um passarinho doente. Estava frio e para aquecê-lo peguei um punhado de m… e o cobri. O passarinho melhorou e ficou tão quente e feliz que começou a piar.”
(Silvio pia como um passarinho.)

Silvio Santos: Então, um gavião ouviu os pios, deu um rasante e comeu o passarinho. Moral da história: Nem sempre quem te põe na m… é teu inimigo; nem sempre quem te tira da m… é teu amigo. E o mais importante: passarinho que está na m… não pia.

Cena 8 Terça-feira, 16/11/2010. Interior. Noite. Um salão de 100 m2 no terceiro andar da livraria Fnac, em Pinheiros, São Paulo. Muitos repórteres e fotógrafos. Parece cobertura de campanha presidencial. Na mesa preparada para os autógrafos, ainda vazia, um exemplar do livro Recados Disfarçados, de Iris Abravanel. Amigos e funcionários do SBT circulam. Se seus pensamentos pudessem ser lidos, estaria escrito: “E agora?”. Vestindo esporte chique, Carlos Alberto de Nóbrega conversa com jornalistas.

Carlos Alberto de Nóbrega: O Roberto Marinho começou a Rede Globo com 60 anos. Por que o Silvio não pode recomeçar sua vida aos 80? Um dia, o Silvio me disse: “Se eu perder tudo, vou recuperar tudo de novo”.

Repórter: Agora, pensa bem, precisa ter coragem para fazer uma proposta do Fundo Garantidor como ele fez. Imagina qualquer um de nós… Um dia você chega em casa e descobre que não tem mais nada!

Carlos Alberto: Ele tem muito mais do que aquilo…

Repórter: Evidente…

Carlos Alberto: Eu queria estar tão mal quanto ele… Eu só queria ter 10% da sua “maldade”… Você não ia me ver aqui a essa hora… Eu estaria num iate, numa ilha…

Repórter: Mas tem de ter coragem e sangue frio para propor uma coisa dessas: “Me dá 2,5 bilhões que eu devolvo em 10 anos, sendo que eu tenho 80!

Carlos Alberto: Precisa ser honesto!

Cena 9 Interior. Noite. A autora já está autografando exemplares. Forma-se uma fila de tamanho razoável. Quase todo o elenco está lá. Até o “mordomo” da Hebe. Eliana atrai os olhares masculinos. Em meio a repórteres, Patrícia Abravanel usa sapatos enfeitados com cristais. De contos de fadas. Confessa que ainda não leu o livro da mãe. Nem viu todas as suas novelas.

Patrícia Abravanel: Mas Revelação, eu vi inteira.

Repórter: Como vai ser a festa dos 80 anos do teu pai?

Patrícia: Minha mãe tem planos de levar todo mundo para Miami…

Repórter: Como é o aniversário dele geralmente?

Patrícia: Igual na tua casa. Parabéns, aquele abraço, presentes…

Cena 10 Interior. Noite. Daniela Abravanel se aproxima da roda.

Repórter: Como vai ser a festa de 80 anos do teu pai?

Daniela Abravanel (sorrindo): Meu pai vai ter uma festa?

Repórter: Não sei… Acho que não… Ele não tem cara de fazer festa de aniversário… Eu nunca vi.

Daniela: Ele falou em uma entrevista recente: “Parei de comemorar aniversário faz tempo. Agora, que vou fazer 80 anos, vou fazer festa?”. Eu acho que festa-festa não vai ter.

Repórter: Ele liga para aniversário? Presente?

Daniela: Ele liga pra família reunida.

Repórter: O que você vai dar para ele?

Daniela: Cristal Swarovski. Ele coleciona.

Repórter: Mas o que de cristal Swarovski?

Daniela: O último que a gente deu foi a Branca de Neve e um anão.

Repórter: Teu pai anda inspirado, hein? Ele tem contado fábulas maravilhosas. Você leu? A do camelo que fala… A do passarinho… Ótimas. Eu estava lendo a história dele, ele é realmente um caso único. Com 16 anos já era o melhor camelô do Rio. Está lá no livro do Arlindo Silva. Você leu?

Daniela: Não.

Repórter: Leia.

Daniela: Eu conheço essas histórias em audiovisual, ele contando e eu escutando.

Repórter: Quando ele era criança, com 11 anos, não tinha grana para o cinema…

Daniela: Passava debaixo da catraca…

Repórter: Ou entrava andando de costas, enquanto os espectadores saíam. Genial. Você tem o sorriso dele. Igualzinho.

Cena 11 O lançamento do livro. O salão vai ficando abarrotado. Chega Moacir Franco. Um gaiato canta aquela marchinha: “Ei, você aí, me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí!“. Alguém pede para ele cantar o Hino do Palmeiras. Moacir refuga.

Moacir Franco: Não é hora… Não é hora…

Aproveita a chegada do Ratinho para abraçá-lo e circular. A roupa do Ratinho é de quem tem café no bule e a cara também. Ele esbanja otimismo.

Repórter: Se te acontecesse o que aconteceu com o Silvio Santos, se você descobrisse que está quebrado, o que você faria?

Ratinho: Eu me borrava todo…

Repórter: O que você vai dar de aniversário para ele?

Ratinho: Não sei. No ano passado, eu dei uma escultura de cristal, muito bonita. Uma mulher nua. De um artista italiano.

Repórter: Cristal Swarovski?

Ratinho: Não.

Cena 12 Interior. Noite. O salão da Fnac está vazio, hora de fechar a livraria. Surgem dois retardatários que desembarcam da escada rolante. O mais escandaloso é Raul Gil.

Raul Gil: Aonde é esse troço? Cadê a Iris?

A seu lado, em silêncio, José Messias, o mais veterano jurado de calouros da TV.

Assessores conduzem os dois até uma sala íntima, guardada por seguranças. Em cadeiras encostadas à parede, a família reunida. Iris, filhas, genros… Quando Raul Gil desponta, Iris o recebe no centro da sala. Ele a abraça e segura suas mãos. Momento de emoção. Raul Gil faz um discurso.

Raul Gil: Quando eu trabalhava na TV Bandeirantes, certa vez fui entrevistado por um jornal. E, durante a entrevista, eu elogiei Silvio Santos. O repórter perguntou para mim: “Por que você está elogiando tanto o Silvio Santos? Você quer trabalhar no SBT?”. E eu disse: “Não, não quero ir para o SBT, não preciso, eu estou bem aqui na Bandeirantes”. No dia seguinte, a manchete do jornal foi: “Raul Gil diz que não precisa do Silvio Santos”. Veja que maldade! Eu amo o Silvio!

Fim do terceiro capítulo.

CAPÍTULO 4

Cena 1Quarta-feira, 17/11/2010. Interior. Dia. Boris Casoy está no telefone falando com o repórter.

Repórter: Boris, ontem eu estive no lançamento do livro da Iris. Não tive coragem de dizer às pessoas, aos artistas, à filha dele, que o SBT estava com data para terminar. Mais dez anos. Acaba em 2020. Acaba como empresa do Grupo Silvio Santos, é claro, levando em conta o que disse o presidente do Conselho do Fundo Garantidor.

Boris Casoy: Não tenha tanta certeza. Muita coisa pode acontecer em dez anos. Ele ainda pode dar um jeito.

Repórter: Você se dá bem com ele até hoje?

Boris Casoy: Me dou socialmente, nos cumprimentamos.

Repórter: Mas por que você saiu do SBT depois de nove anos?

Boris Casoy: Eu recebi uma puta duma proposta da Record.

Repórter: E o Silvio não cobriu?

Boris Casoy: Tivemos duas reuniões, de duas horas cada uma. Ele me ofereceu a mesma coisa que a Record, mas eu não quis ficar para não me aporrinhar. O Silvio pressionava muito para o jornal ser mais popular. Não só o jornal, ele queria tudo mais popular. Até o Jô. Ele fazia sugestões de entrevistas…

Cena 1a Túnel do tempo. Estamos em 1993. Interior. Dia. Camarim do Silvio Santos. Enquanto ele frita um ovo, conversa com Jô Soares.

Silvio Santos: O seu programa é excelente, Jô. Muito bom mesmo. E vai ficar melhor ainda. Eu tenho algumas sugestões que vão estourar o Ibope. O que você acha de entrevistar a mulher barbada?

Cena 2 Interior. Dia. Voltamos ao Boris Casoy ao telefone com o repórter.

Repórter: O Silvio Santos sempre quis fazer do SBT um grande Programa Silvio Santos. Esse é o seu público. Mas me diz uma coisa, Boris: você não achou estranho o Silvio escolher um sujeito sem experiência de banco para dirigir um banco?

Boris: Não…

Repórter: Puxa, o banco era a galinha dos ovos de ouro. E ele colocou para cuidar alguém que não conhecia galinheiro.

Boris: Pode parecer, mas não é estranho. Seu grande conselheiro é um cabeleireiro…

Cena 3 Dia 17/11/2010. Interior. Dia. Sala da presidência do Grupo Silvio Santos. O presidente, Luiz Sandoval, anuncia sua demissão depois de 40 anos no Grupo e 28 na presidência (conforme entrevista a Marili Ribeiro, em O Estado de S. Paulo).
Luiz Sandoval (triste): Ele queria decidir de uma maneira, eu de outra. Virou um conflito. Caso eu não concordasse, ele sugeriu que eu pedisse demissão. E foi o que eu fiz. É uma questão de opinião. É como um casamento que vai se desgastando. Fiquei na presidência do Grupo por 28 anos. É muita coisa.

Cena 4 Dia 26/11/2010. Sábado. Interior. Noite. Cobertura do Jassa. Ele e o convidado, o senhor X, estão na varanda principal. Cada um com seu Scotch na mão.

Jassa: Meu caro amigo, você é o homem perfeito para levantar o Ibope do SBT. Queria te pedir uma coisa: escreva uma carta para o Silvio, dizendo que está disposto a ajudá-lo nessa hora difícil e à disposição dele. E eu levarei a carta para ele.

Senhor X (depois de sorver o scotch): Mas eu não sou amigo do Silvio, eu sou teu amigo! Posso escrever uma carta para você dizendo que, como você é amigo dele e quer ajudá-lo, eu estou disposto a ajudar. Pode ser assim?

Jassa se levanta e dá um beijo na bochecha direita do senhor X.

Cena 5 Dia 12/12/2010. Interior. Noite. Casa da família Abravanel no Condomínio Celebration, em Orlando, Miami, Estados Unidos. A mesa está posta para o aniversário em família. Mulher, filhas, genros, netas cantam juntos: “Parabéns a você/nessa data querida/muitas felicidades/muitos anos de vida“.

Daniela: Aqui está meu presente, papai. Abre.

Silvio desembrulha o pacote.

Silvio Santos: Que lindo! Justo o que eu queria ganhar: três anões da Branca de Neve.

Daniela: Cristal Swarovski.

Silvio Santos: Agora só faltam três anões…

Fim do quarto capítulo.

CONTINUA EM 2011.

BALAIO DO KOTSCHO – Aos 80 anos, o “rapa” do BC pegou Silvio Santos


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