Há quem ainda desdenhe e duvide da importância da história em quadrinhos como gênero narrativo. A maioria defende seus argumentos fazendo a equivocada interpretação de que se trata de subliteratura infanto-juvenil. A esses desavisados, é recomendável assistir ao curta-metragem Histórias em Quadrinhos, de Rogério Sganzerla. Produzido em 1969, a partir da técnica do table top – o quadro a quadro, que caracteriza os quadrinhos -, o segundo filme de Sganzerla é dedicado a inventariar a importância desse gênero subestimado que fascina o homem, desde o começo do século XIX. Histórias em Quadrinhos está disponível no maior portal de vídeos da rede. Dez minutos de atenção e conceitos serão mudados.
Esforço conjunto de décadas dos irmãos Rubens, Carlos e Artur Matuck, As Aventuras de Sir Charles Mogadom e do Conde Euphrates de Açafrão, que acaba de ser lançado, é uma obra ambiciosa e instigante. Inscreve-se fácil nessa seara de grande invenção que o melhor dos quadrinhos proporcionou nos últimos tempos. A obra dos Matuck remete a coisas tão díspares quanto a ficção assombrada de Poe, o seriado Perdidos no Espaço e animações como Jonny Quest. Começou a ganhar os primeiros traços na infância de Rubens, quando, aos 11 anos, passou a criar no lado virgem da embalagem de um remédio chamado Mogadom os primeiros desenhos de uma história que se tornaria sua grande obsessão. Com o apoio dos irmãos Carlos e Artur – que dividem ideias, desenhos e textos -, a história, enfim, se materializa e chega às livrarias em edição primorosa pela Editora Terceiro Nome.
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Predominante, nos dez episódios que integram As Aventuras de Sir Charles Mogadom e do Conde Euphrates de Açafrão, a utilização do lápis de cor resulta em um trabalho de forte apelo lúdico. Rubens, um dos grandes aquarelistas do País, adota uma técnica que aprendemos na infância. Esse traço ingênuo e a multiplicidade de cores ganham proporções oníricas que surpreendem e enchem os olhos. Um universo fantástico e surreal, com sabor imediato de convite. As aventuras vividas por Charles e seu grande amigo, o Conde Euphrates – que à noite tem o poder de transformar-se no navio Nicolaus Copernicus, e invadir os sonhos das pessoas que habitam a fantástica cidade de Damar – estabelece diálogo com a própria história dos quadrinhos. Ao reverenciar fontes primorosas, como Flavio Colin, Angelo Agostini, Carl Barks, Winsor McCay e nosso Ziraldo, presta grande homenagem ao gênero. O livro ainda traz textos assinados pelo crítico Oscar D’Ambrosio, que esclarece o minucioso processo de produção, e até realiza entrevistas fictícias com os personagens criados pelos Matuck.
Entre devaneios e encontros com figuras reais e históricas – como o grande brasileiro Alberto Santos-Dumont – os irmãos Matuck levam os quadrinhos brasileiros à fronteiras pouco exploradas. Senhores passageiros, boa viagem!
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