Arma de ação em massa

Enquanto isso em paris,
Enquanto isso, em Paris…

Meus caros, de preconceito e homofobia nós já falamos muito neste espaço, por isso eu acho fundamental comentar uma forma eficaz e maravilhosa que o movimento gay desenvolveu para combater esses males da sociedade. Precisamos, sim, lutar por nosso espaço e quebrar paradigmas. Ao ler esses termos, muitos de vocês já podem enxergar faixas de protestos, gás lacrimogêneo e pedras atiradas – não, fiquem tranquilos. Batalhas campais são para outros grupos e reivindicações, gays agem de outra forma. Nossa arma? O beijo gay em público. Não mata, não machuca, não fere terceiros, e nem quebra vidraças. É uma demonstração de amor e afeto que, em público, causa um rebuliço daqueles, garante a atenção da imprensa, deixa os preconceituosos furiosos, e vai abrindo, pouco a pouco, espaço para que a sociedade nos aceite como seres normais. O beijo em público é a granada dos gays!

Ordem e Abraço
Ordem e Abraço

Em São Paulo, há alguns anos, um “beijaço”, como chamamos no Brasil agora, colocou em cheque um shopping center situado em plena Rua Frei Caneca, coração do quadrilátero gay paulistano. A despeito do endereço, a segurança do shopping  abordou agressivamente um casal de meninos que se beijava em um de seus corredores.  O movimento gay, rápido e bem articulado (se não, não sobrevivemos), juntou mais de uma centena de casais gays na praça de alimentação do shopping e, dado momento, todos se beijaram, em público, em frente a uma enorme audiência, e de vários veículos da mídia. O shopping se rendeu à realidade dos fatos, e hoje em dia, casais gays trocam manifestações de afeto e se beijam lá dentro, sem dramas. O apelido do shopping hoje? Gay Caneca! Lógico que as bibas têm de ter noção da realidade, e, tal como qualquer casal hétero, pois a regra é a mesma, não podem se jogar no banco e partir para o “Não precisa embrulhar que eu vou comer aqui!”.

 
Franceses, ao ataque!
Franceses, ao ataque!

Semana passada, em Brasília, dois amigos gays foram intimidados pelo proprietário de um bar chamado Leblon, por conta de um mero beijo no rosto. Pois na quarta-feira, às 20 horas, lá estará um pelotão de bibas para um beijaço em frente ao referido estabelecimento. O proprietário não vai mudar a forma de pensar, mas vai passar a respeitar mais os gays. E na França, neste domingo, grandes beijaços foram organizados em cerca de 10 cidades. Em Paris, a coisa rolou na praça central do Forum Dês Halles, coração da cidade, e reuniu centenas de casais de meninos e meninas, jovens e velhos. Às quatro horas em ponto, deu-se o sinal, e foi aquela beijação geral. Alguns transeuntes gritaram palavras contra, mas a reação dos casais foi apenas a de se abraçar e beijar com mais força. Minutos depois, tudo acabado e uma salva de aplausos. Toda a mídia acompanhou, o beijo gay esteve em todos os telejornais da França, ninguém morreu – talvez de inveja, não sei bem, e o afeto gay, até hoje muito confinado aos nossos guetos, ganhou espaço público. Temos muito chão pela frente, mas o exército é enorme e internacional, e a arma, absolutamente pacífica, é de comunicação em massa.

E vocês, acham o beijo de duas pessoas do mesmo sexo nojento e imoral? Sairiam correndo se vissem um casal gay se beijando? Acham que nós estamos destruindo as bases de nossa sociedade?


Comentários

26 respostas para “Arma de ação em massa”

  1. “E vocês, acham o beijo de duas pessoas do mesmo sexo nojento e imoral? Sairiam correndo se vissem um casal gay se beijando? Acham que nós estamos destruindo as bases de nossa sociedade?”
    SIM, COM ABSOLUTA E INEQUÍVOCA CERTEZA.

  2. Alexandre,
    Se já tens marido, tens sorte e coragem. Parabéns.
    Abraço do Lourenço

  3. oi Guilherme Lourenço

    Adorei, a forma super bem humorada de tratar um assunto que ainda assusta avisados e desavisados pelas ruas do mundo. acho que demonstrações de carinho devem sempre ser bem vindas de gays ou não gays o mundo precisa de paz e é desta forma que viveremos melhor, é o que acho. parabéns Gui

  4. Pois é !!

    Com relação a questão !!

    Se eu visse um casal homossexual se beijando, que atitude eu teria … bom .. não são de atitudes homéricas – acho que cada um sabe de si, e não faria nem diria absolutamente nada, porém, quando se está em público, você está sujeito a sentir na pele a opinião e os “calores” das emoções dos populares !! Aí sim !!! dependendo do que você faz !!! O “bicho pode pegar” !!!

    Portanto …

    Se fosse um beijo comportado, como demonstração de amor e carinho, .. geraria uma pequena surpresa pela visão incomum !! mas, passaria e tudo bem !!! ou nem isso !!! (acho que o pessoal já acostumou .. será ???)

    O que causaria comoção (isso tanto pra casal homo quanto hetero) seria duas pessoas com demonstração efusiva de afeto, pensando que estavam a sós … praticamente na “cama redonda” .. porém, esquecendo que está em praça pública !!

    Será que estou certa ????
    Acho que é por aí !!!

  5. Adorei a tática !!!

    O Movimento gay está na sucessão das “minorias” que, desde a década de 60 vem lutando por seu espaço.

    Que seria da igualdade racial sem Martin Lutherking (é assim que se escreve ??) …

    Ou da igualdade feminina, sem as feministas de trinta, quarenta anos atrás ?? (ainda seriámos Amélias)

    Vão em frente … que o espaço estará garantido.

    Li seus outros posts, e concordo com muitas coisas.

    O que ajuda muito é o fato dos homossexuais terem muito dinheiro. E, não sejamos hipócritas !! Vivemos num mundo capitalista !!! Quem tem dinheiro, tem poder !!

  6. Olá Lourenço,

    Boa tarde!

    Pois então, é complicado esta questão beijaço. Eu aprovo a ideia sim, acho louvável, mas tenho receio das consequencias como a Iasmim citou.

    Beijar em público, e ainda por cima escandalosamente, causa um embaraço e constrangimento para quem observa. Independente de ser um beijo gay, lésbico ou hétero.

    Para mim, o que vale é bom senso. E no caso de nós, gays, tem o agravante do preconceito, repulsas etc. ´

    A sociedade brasileira ainda é muito insipiente nesta parte de demonstrações públicas de afeto entre homossexuais, apesar de que várias cidades – leia-se grandes centros urbanos – estarem acostumadas. Agora, imagina os interiores do Brasil? Complicou mais ainda.

    Mesmo assim, apoio a ideia do beijaço. Hoje, observo que os adolescentes têm esta questão da homossexualidade muito mais resolvida que muitos adultos… Evolução da vida, não tem jeito.

    No mais, gerais!

    Dá-lhe, beijos!

    Gus
    Belzonte – doce de leite com queijo

  7. Lourenço e João,
    Obrigado por suas palavras.

    Iasmim,
    Entendo o seu temor, mas também acho que é o melhor que os homossexuais podem fazer. O medo do confronto físico sempre existe e por isso a polícia deve se preocupar em garantir a manifestação pacífica. Com o tempo e a princípio “ameaçados” pela possibilidade de beijaços como esses, os donos de estabelecimentos públicos como restaurantes, lojas, etc pensarão melhor antes de dar vazão ao seu preconceito tacanho.

    Lendo o comentário do Lando, me dei conta de que por nunca haver trocado carícias em público, nunca fui reprimido. Mas já presenciei o horror que as pessoas sentem ao ver 2 homens se beijando. Quando assisti o filme O segredo de Brokeback Mountain (filme maravilhoso, que por preconceito não ganhou o Oscar) fui obrigado a me mudar de lugar, pois duas amigas sentadas atrás de mim soltavam gritos de horror, mais condizentes com uma platéia do filme “o massacre da serra elétrica”, a cada beijo que os atores trocavam. E não foi só neste filme, não. EM TODOS OS FILMES que assisti com a temática homossexual masculina, o público (em especial as mulheres) solta gritinhos de desaprovação a cada manifestação de amor entre os atores! Curioso observar que os homens heterossexuais parecem não se incomodar tanto com a homossexualidade feminina como as mulheres com a masculina.

    Ro,
    Infelizmente temos de nos posicionar de forma mais consciente. Entendo o que você diz e manifestar ou não carinho homossexual em público dependerá de cada um, mas precisamos garantir o direito daqueles que tem vontade de agir desta forma. Talvez pessoas mais velhas ou mais tímidas não queiram “se expor” por questão de hábito ou timidez. Mas dado o fato de que beijar e andar de mãos dadas não é crime, temos todo o direito de fazê-los em público.
    Aceitar a imposição da maioria heterossexual contra tais demonstrações é um sinal de sentimento de inferioridade, que deve ser combatido. Não importa se lançamos mão do direito ou não, o importante é assegurá-lo!

    Abraços,
    AC

  8. Avatar de Mario J. Silva
    Mario J. Silva

    Lourenço, e se nós, frequentadores de seu blog, começarmos o nosso beijaço virtual?

    Pode ser assim: Gays e héteros mandam um beijo na boca de quem quiser aqui. Assim podemos já ir derrubando preconceitos aqui mesmo. Talvez seja uma idéia estúpida, mas pense sobre isso, ok?

    Pra começar, um beijo na boca pra você!

  9. Enquanto isso, no Brasil, na maior cidade do país !!! matéria IG Esporte

    As centenas de convidados que foram ao Parque São Jorge na noite de segunda-feira se animaram pela primeira vez com uma provocação transmitida nos telões. No desenho animado, um gavião passava a bola entre os pés de um veado, com meias rosa, vestido com um uniforme semelhante ao do São Paulo.
    O presidente do Timão, até se desculpou, mas quem se atreve a fazer um protesto do tipo “beijaço” na porta de um estádio de futebol onde se encontra a maioria dos homofóbicos de plantão ??? Coincidência ou destino, nos dois protestos citados no post, estive lá, o primeiro em SP +/- 10 anos,confesso que tive receio em beijar em público meu namorado na época, pois ainda hoje se vê “nojo” na cara dos “normais”, mas fui em frente, pois havia organizado uma “caravana” em Campinas pra tal situação !!! A lotação gritou na Bandeirantes. e mas recentementeem Brasilia, estou aqui por conta de um concurso público,onde no iníciodo ano deixei SP…pelo fato de estar no centro das decisões políticas do país, pensei não ver direitos humanos serem desrespeitados… engano. Aqui até o protesto na frente do bar, resultou em queixa por parte de pessoas que se sentiram ofendidas com mais esse “insulto do público LGBT”. Fica a pergunta, protestar como; com beijos e flores, até manchar nossas roupas brancas de sangue ou teremos que pegar em armas pra fazer valer nossos direitos,
    Porque um beijo incomoda tanto assim !?

  10. Não vejo com bons olhos essa liberação como tu dis de afeto gay, se não fazemos quase nada e temos todo esse preconceito imagine liberdade total de beijo, abraço..etc.
    Sou adepto do carinho as escondindas, um sorriso, uma piscadela, um toque…etc. Melhor mesmo é a relação homem com homem sem provocar olhares, risadinhas ou até mesmo constrangimento de outros.

    Abraço

  11. Avatar de Paulo Gratão
    Paulo Gratão

    Eu vivo batendo nessa tecla. Conheço amigos que se dizem muito bem resolvidos e negam-se a mostrar o afeto em público. Eu entendo os seus receios, mas não acredito que sejam justificativas plausíveis.

    Hoje em dia, as pessoas olham para o beijo gay na rua como se fosse uma nave extraterrestre pousando naquele lugar. Acredito que se os próprios gays deixarem de ter preconceitos consigo mesmo, e com o amor que sente pelo parceiro, tomando coragem de demonstrá-lo a todos, a coisa se tornará mais comum e aceita pela sociedade.

    E viva o amor rs…!

  12. Meu caro, faço minhas as palavras da musa Leila Diniz: um cafuné na cabeça, malandro, eu quero até de macaco. Veja as relações entre as pessoas. As milhares de pequenas agressões do cotidiano, como o que fura a fila, o celular que toca na Pina Bausch, o agressivo do trânsito, o gesto obsceno na rua, a cara fechada no elevador, o silêncio em resposta ao seu cumprimento… com isso todos já se acostumaram. Gente, 2009! E já com cenas de Carnaval 2010 na TV. Quem ainda tem tempo de dar bola para beijo gay? Beijas.

  13. Parabéns mais uma vez ao AC pelo belo texto – e ao Lourenço também, claro! Mas AC, você me fez rir – nas duas correções! Isso acontece, isso acontece… Mas eu adoooooro ler textos bem escritos, como fazem aqui neste blog. Uma pessoa que não sabe escrever bem não saberá passar adequadamente as suas ideias, mesmo que sejam boas.

    Penso em muitas, muitas coisas enquanto leio os posts deste blog, assim como os comentários… coisas pessoais… enquanto isso vou admirando o que vocês escrevem. Parabéns a todos mais uma vez e obrigado por me possibilitarem essa leitura. Grande abraço.

  14. Oi Lourenço,

    Eu acho que beijo é uma coisa bonita e só começa a me incomoda quando o casal (hétero ou homo) exagera na ‘caliência’ do beijo, embora a cena não vá estragar o meu dia também.

    Agora o “beijaço” me preocupa um pouco… Acho que pode acabar tendo efeito contrário. Explico: quem aceita bem os gays não será afetado e quem não aceita só vai radicalizar mais o discurso, ou seja, afasta ainda mais quem já é distante.

    Na verdade, nem é uma questão gay. É o problema ação-reação.

    Imagina se fosse um monte de héteros se beijando. Quem tem uma cabeça boa em relação à sexualidade não ia ficar horrorizado, mas os moralistas de plantão iam usar o dado beijaço como argumento para o seu preconceito.

    Eu me pergunto se não é dar bala para a artilharia ‘inimiga’…

    Um bom dia para vc e seus leitores. 🙂

    Beijinhos

  15. É …hoje não é meu dia! EXTENSÃO! COM X E S!
    É o sono…

    1. Menino, vá dormir! E sonhe com os anjos – daqueles lindos de morrer.
      Beijo do Lourenço

  16. Só para corrigir (não reli meu comentário antes de mandá-lo): EXTENÇÃO É COM X e não com S como escrevi.

  17. Lourenço,

    Acho a idéia do beijo excelente. Antes de precisarmos de “beijaços reivindicantes”, beijos discretos, andar de mãos dadas (vi alguns casais andando assim ontém na Avenida Paulista sem ninguém estranhar) e manifestações civilizadas de amor são uma arma bastante eficaz contra o preconceito.
    A primeira vez que fui a uma boite gay (há 25 anos atrás) quase fui expulso. Pensaram que eu era heterossexual e estava reprovando o fato de ver casais de homens dançando agarradinhos. O dono do local me chamou de lado e disse que havia recebido algumas reclamações dos frequentadores. Quando disse que também era homossexual e que só estava surpreso por ver aquilo, e que de forma alguma estava recriminando ninguém, o clima melhorou.
    Acho que tudo é uma questão de costume. As pessoas precisam se acostumar a ver demonstrações de carinho e não ficar com medo de que essa demonstração extrapole os limites. Acho que o que mais atemoriza é essa idéia que a maioria dos heterossexuais tem de que TODOS os homossexuais são promíscuos e só pensam em sexo e que algo que começa como um simples beijo, se torne uma relação sexual pública brevemente.
    Por isso, fico bastante decepcionado com a parada gay em São Paulo, que em minha opinião não contribui para melhorar a imagem do homossexual. Divulgam-se muitos números grandiosos, mas se esquecem que quantidade não é qualidade. Estive presente na última parada e consegui ficar por 5 minutos. A parada, na verdade, é um carnaval com trios elétricos e muita gente bêbada e drogada. Assisti uma parada gay em Nova York, no começo dos anos 90 e fiquei emocionado com a tranquilidade, seriedade e importância que a parada tem. As pessoas desfilam por representações (faculdades, serviços, clubes, categorias profissionais, etc). Obviamente existem pessoas em roupas mais ousadas, mas a presença constante da polícia evita cenas de nudez, como as que eu já presenciei na Avenida Paulista. Acho inacreditável que alguns pais levem seus filhos para assistirem a parada em SP. Se os tivesse, não os levaria JAMAIS! Não gostaria de correr o risco de ter de explicar cenas inexplicáveis.
    Para aqueles que me acham careta, gostaria de lembrar que existem pessoas que ganharam a vida com o público gay, convivem com gays há anos e ainda assim são muito mais caretas, pois temem associar o nome de seu estabelecimento comercial ao público gay. Como exemplo cito o dono de um bar e restaurante bastante conhecido nos Jardins e bastante frequentado pela comunidade gay, que criou uma polêmica há alguns anos por não querer “macular” o nome de seu restaurante associando-o, formalmente, ao público gay. E os gays parecem não ter se incomodado muito com isso, pois frequentam o local e outro restaurante do mesmo dono, como se nada tivesse acontecido.
    Nos países desenvolvidos uma poderosa arma dos homossexuais sempre foi a pressão econômica (mais um tema legal para um post, não Lourenço?). Acho que deveríamos usar este tipo de arma mais frequentemente no Brasil.
    Espero que algum dia ainda possamos demonstar nosso amor em público sem que isso incomode tanto aos heterossexuais. Sempre achei que ter que me esconder, para dar um simples beijo em um namorado é uma das grande violências psíquicas a que somos submetidos.
    Abraços a todos,
    AC

    PS. Lourenço, nunca escrevi sobre estes assuntos e acho que estava meio ansioso para fazê-lo em um blog que considerasse adequado e sério. Por isso desculpe a estensão de meus comentários, o que certamente denota minha ansiedade. Uma hora passa…

    1. AC querido, este espaço é teu. Já disse que você, BA, GUS, Iasmim, são mais que comentaristas, são meus amigos queridos. Portanto, venha, escreva, comente, sugira, sinta-se em casa. Nossas ansiedades são normais, e é botando para fora que se resolvem. Divida teus medos e pensamentos sem preocupação, e todos nós vamos acolhe-lo carinhosamente. E estejas certo de que, um dia, todos poderemos demonstrar nosso afeto em público, e não falta tanto tempo assim não.
      Receba meu abraço mais carinhoso,
      Lourenço

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