Você ficou excitadinho com a detenção do marqueteiro João Santana?
Acha que, por esse caminho, fica mais fácil chegar àquele indivíduo que tira o seu sono? Afinal, é por ele – ou melhor, contra ele – que se move aquele procurador acusado de espancar a própria esposa.
Interessante como o sistema da Justiça se amolda à pauta dos jornais, não? Você, leitor fiel dos principais diários do País e devoto dos deuses que apresentam os telejornais de maior audiência, deve ter notado essa coincidência.
Afinal, ser midiota não significa necessariamente ser estúpido.
O midiota é, na essência, uma pessoa que tem sua visão de mundo condicionada pela crença literal em toda notícia ou opinião que coincide com suas próprias convicções.
Ou seja, o midiota está preso em um círculo de verdades absolutas, do qual não pode sair porque não desenvolveu o senso crítico necessário para fazer aquela pergunta cretina: será?
Aquele que tira seu sono chama-se Luiz Inácio Lula da Silva.
O que ele fez?
Ele conduziu um governo que tirou milhões de pessoas da miséria, usando políticas públicas que produziram o fenômeno da mobilidade social, pela primeira vez na história do Brasil.
Com isso, demonstrou que se pode obter bons resultados econômicos com um modelo no qual o Estado funciona como estimulador de iniciativas que contribuem para a redução das desigualdades.
O contrário disso é o sistema chamado liberal, segundo o qual o Estado não deve se meter nos negócios privados, a não ser em casos de delinquência.
Essa questão é tão antiga que pode ser encontrada num diálogo de Crime e Castigo, escrito por Dostoiévski entre 1866 e 1871.
Nesse diálogo, o personagem Piótr Pietróvitch Lujín defende a novidade da “economia política”, dizendo que, quanto mais individualistas forem as pessoas, mais chance tem uma sociedade de progredir.
Essa dicotomia também está presente na Constituição, no trecho em que define os princípios da atividade econômica, onde convivem conceitos como soberania nacional, inviolabilidade da propriedade privada, função social da propriedade e dos negócios, busca do pleno emprego, redução das desigualdades, livre concorrência, defesa do consumidor, e garante ao Estado o papel de intervir na atividade econômica.
Infelizmente, a Constituição não desenhou o caminho para um plano nacional de desenvolvimento sustentável, o que reduz o alcance das medidas oficiais nas crises cíclicas do capitalismo.
Quando aparecem dificuldades, os opositores do modelo em curso sacam aquela outra parte da Constituição e tentam reinventar a roda.
Para isso, é necessário mobilizar a massa de manobra, essencialmente formada por analfabetos políticos.
E a grande falha dos governos desde Lula da Silva tem sido justamente a limitação do processo de mobilidade social ao aspecto do consumo.
Os governos petistas criaram uma nova casta de consumidores, mas não trataram de estimular a educação política. E mesmo você sabe que o consumidor sem consciência se torna medroso, conservador e vulnerável às pregações apocalípticas.
Talvez você mesmo, midiota a caminho da perfeição, seja alguém que foi beneficiado por essas políticas, mas não teve a oportunidade de aprender o que é consciência de cidadania.
Vê como é complicado?
Mais simples é sair à janela e bater lata para apoiar um procurador que considera o homossexualismo parte da conspiração comunista internacional.
O problema é que, nesse círculo da intolerância, você acaba chutando o próprio rabo.
Para ler e ver: Iogurte Activista, por Marcelo Adnet.
*Jornalista, mestre em Comunicação, com formação em gestão de qualidade e liderança e especialização em sustentabilidade. Autor dos livros “O Mal-Estar na Globalização”,”Satie”, “As Razões do Lobo”, “Escrever com Criatividade”, “O Diabo na Mídia” e “Histórias sem Salvaguardas”
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