De um lado, o primeiro e o décimo do ranking de duplas da ATP exibindo um tênis apático, desentrosado e irreconhecível para dois jogadores dessa categoria. Do outro, uma parceria argentina que, para se distanciar e evidenciar ainda mais a péssima atuação dos rivais, vivia um início de noite iluminado: acertava praticamente tudo quando devia, confirmava ponto atrás de ponto no primeiro serviço e fazia o adversário correr atrás da bola com golpes paralelos e cruzados precisos.
Assim foi, sobretudo na sua primeira metade, a partida em que a dupla brasileira Marcelo Melo e Bruno Soares foi eliminada, nas quartas-de-final do Brasil Open de Tênis 2016, no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, pelos argentinos Guilhermo Duran e Andres Molteni, por 2 a 1, com parciais de 6/1, 2/6 e 10/8.
No primeiro set, a impressão que se teve era de que os brasileiros em quadra não eram Melo, o melhor duplista do mundo na atualidade, e Soares, autor, dias atrás, de um feito magistral: conquistar dois torneios de duplas do Grand Slam, no Aberto da Austrália, num intervalo de apenas 16 horas e 29 minutos.
Descoordenados, frios, com pouca comunicação, distantes um do outro e mal posicionados em quadra, Melo e Soares viram, assustados, os argentinos confirmarem o primeiro, o terceiro e o quinto serviços e quebrarem o segundo e o quarto, de maneira fulminante, no início do jogo. Quando os mineiros perceberam que estavam em quadra numa partida eliminatória de quartas-de-final,o placar já mostrava 5/0 para los hermanos.
Com muito sacrifício, os brasileiros conseguiram fechar seu primeiro serviço na partida – mas os adversários, confiantes, carimbaram o seguinte e, com muita rapidez, fecharam o set inicial em 6/1. Um a zero. Público silencioso e assustado na quadra central do Brasil Open.
Melo e Bruno conseguiram ao menos passar a sensação de que haviam entrado no jogo no início do segundo set. Trocaram pontos até o 2/2, os argentinos ainda estavam melhores no jogo e mostravam maior desenvoltura para confirmar seus serviços. No melhor momento delos hermanos neste período, Duran cobriu os 2,03 metros de Marcelo “Girafa” Mello com lobby belo e preciso.
Curiosamente, a maré ameaçou virar pouco depois deste lance. Mesmo apresentando um tênis bem inferior ao exibido na estreia, Melo e Bruno conseguiram confirmar o serviço e quebrar seguinte dos rivais, fazendo 4/2. Em seguida, mantiveram o ritmo e tomaram outro dos argentinos. Set fechado em 6/2 para os mineiros empate em 1 a 1.
Era momento de sofrimento no super tie-break. A regra: quem fizer dez pontos primeiro leva. Se empatar em nove a nove, vai a dois. A parcial começou até equilibrada, com troca de pontos até o 3/3. A partir daí, a segurança e a confiança da dupla argentina ressurgiram e voltaram a fazer a diferença. Com paralelas bem encaixadas, devoluções de saque fortíssimas e ótimo aproveitamento do primeiro serviço, Duran e Molteni chegaram com facilidade a 9/6. Triplo match point.
Novamente com muito esforço, os mineiros anularam dois deles. Mas, com uma devolução de serviço cruzada brilhante, os argentinos fecharam o super tie break em 10/8, no limite do vai a dois, e a partida por 2 a 1.
Melo e Soares estão fora do Brasil Open de Tênis. Jogaram mal diante de uma dupla que, com atuação sublime, não perdoou a falha. Como lição, fica a necessidade de treinar com afinco até os Jogos Olímpicos para aprimorar, sobretudo, entrosamento, posicionamento e movimentação em quadra da dupla. Isso porque os dois, apesar do conhecimento mútuo, jogam há muito tempo com outros parceiros na ATP só agora voltaram a atuar juntos para enfrentar a Rio 2016.
Ficou claro também que eles precisam conversar mais em quadra. Estranhamente, os amigos de infância em Belo Horizonte mostraram, neste confronto, um distanciamento e uma frieza que chamaram a atenção. Em nenhum momento foram sombra dos amigos que se entendem muitas vezes apenas pelo olhar. Agora, é treinar forte e reparar esses pontos até os Jogos Olímpicos.
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