Meus caros, há 20 anos, 9 de novembro de 1989, eu tinha prova de Direito Civil, na PUC de São Paulo – sou filho da PUC, com orgulho. Mas o professor chegou dizendo que não aplicaria a prova. Todos nós deveríamos voltar para casa e assistir ao Jornal Nacional. Já chegara ao Brasil a notícia de que os portões de Berlim estavam abertos, os alemães iam e vinham, o muro tinha caído. Aquilo era história, nós tínhamos de ver, a prova ficava para a semana seguinte. Eu já estava acompanhando a abertura das fronteiras da Hungria, suspeitava que aquilo estava por acontecer, e aconteceu. Confesso que chorei. Era história demais acontecendo na minha frente. A mesma Berlim, que foi a capital gay da Europa no início do século XX, sobreviveu ao nazismo, às bombas da segunda guerra, e a 40 anos de divisão, de separação. O muro era o grande símbolo da Guerra Fria, durante a qual eu nasci, como também nasci depois de 1964. Eu tinha 23 anos, e naquele final de 1989 nós também votamos na primeira eleição para presidente desde a revolução. Não votei no Collor, mas a democracia era uma realidade, e a perspectiva para a década de 1990 era inebriante – eu seria advogado, em um Brasil democrático, em um mundo mais livre. Tudo isso foi lindo, eu vivi essa história. Ser jovem e acreditar na vida é inebriante. É delicioso ser tão ingênuo, pois a realidade sempre é mais complexa do que gostaríamos.
Berlim, que viveu dividida por mais de 40 anos, se unificou, voltou a ser a maravilhosa capital gay da Europa, com seu vice-chanceler e seu prefeito gays. Tudo isso vem à minha cabeça neste momento em que nós, homossexuais brasileiros, estamos lutando para aprovar o PL 122/06, e somos acusados de nazistas. Sejam nossos detratores apenas desinformados, ou preconceituosos, ignorantes, homofóbicos, o que quer que sejam, querem nos negar um instrumento de proteção da cidadania, mantendo uma distância, entre nós e a sociedade, tão surreal e letal quanto o muro que caiu há 20 anos. Não gosto de muros, e já não sou mais tão jovem. A enquete promovida pelo site do Senado Federal está aí. Vamos votar, vamos lutar, vamos acreditar.
E vocês? Já votaram? Vão votar a favor ou contra? Nos acham nazistas?
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