Gide, Genet, e Mishima.

André GideQueridos, a Revista Veja desta semana fala sobre a nova edição dos livros de André Gide, agora completa, com duas obras inéditas. Gide veio depois de Proust e antes de Genet, teve coragem de falar abertamente sobre sua homossexualidade, e escreveu uma obra prima sobre o tema, Corydon. Agora, o livro está disponível em todas as livrarias, fácil de encontrar. Gide mostra como a homossexualidade sempre esteve presente em toda a nossa cultura desde a Grécia antiga, explica como e onde estávamos. Eu acho esse livro bárbaro, fundamental, coloco Gide no mesmo patamar de Proust, Genet e Mishima.

Reconheço em Gide todo o seu valor, mas existe um ponto em que eu acho que Genet e Mishima o ultrapassam. Ele vai até a Grécia antiga em sua busca e se torna assumidamente helenista, vale dizer, prega a antiga visão de que a homossexualidade aflora naturalmente entre homem mais velho e rapaz mais novo, mestre e discípulo, etc. Neste modelo, que não deixa de ser uma visão válida, o desejo sexual se justifica, se nobiliza, pelo bem que o mais velho traz ao mais jovem, que se entrega em benefício próprio. Tudo bem, nada contra, eu mesmo adoraria ter vivido da Grécia Antiga, e iria para a cama com Sócrates na boa. Michel Foucault, em A História da Sexualidade, segue a mesma linha. 

Mishima, arrasando no modelito samurai.
Mishima, arrasando no modelito samurai.

 Genet e Mishima não buscam essa justificativa indulgente, que absolve o desejo homossexual pela troca benéfica, eles enfrentam os princípios morais da cultura judaico-cristã e o expõem como humano, carnal, natural. Em Confissões De Uma Máscara, Mishima narra o desejo aflorando mesmo antes da maturidade física, e mostra um menino, de apenas 6 anos de idade, adorando o cheiro dos soldados. Querelle, o marinheiro de Genet, quer ser possuído por outro homem viril, ele quer dar o rabo, desejo homossexual em estado puro. Genet e Mishima transcendem os temores morais, e eu acho que, ao fazê-lo, eles superam Gide. Mas, querem saber? Deixem a filosofia e as discussões para lá e caiam na farra sem medo ou pudores. Leiam todos eles, Mishima, Gide, e Genet Proust pode ficar para o final.


Comentários

13 respostas para “Gide, Genet, e Mishima.”

  1. Querido, eu também não li nada disso ainda. Vi Querelle, o filme e achei o enredo bem interessante. Não sei se entendi o formato muito bem, as narrações alternadas com textos, achei meio esquisito, mas enfim… dentro do esperado. Mas eu vou aproveitando as dicas e lendo, devagar e sempre… bjk, Jane

    1. Beijão Linda, curta suas férias.
      Beijão do Gui

  2. Meu caro, esse ano eu diminuí um pouco as horas de trabalho, assim terei mais tempo e disposição para ler. Adoro suas recomendações, embora boa parte desses livros me sejam familiares. Mas sempre tem uma coisa nova. Por ora, já que estou indo para a praia, vou ler P. D. James, que é bem mais leve. Mas na volta vou seguir seu roteiro. Beijas.

  3. Minha lista de espera de leitura anda tão nerd que chega a dar vergonha! 😀

    Definitivamente não estou passando por uma fase intelectual da minha vida. Mas as dicas são SEMPRE bem vindas. Obrigada. 🙂

    Beijocas

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