Ele sempre foi fofinho, nenê era chamado pão-de-queijo. Hoje, com 17 anos é pão de batata. Saborosíssimo. Seus hormônios às tampas. Testosterona, nem se fala.
Tudo ficou melhor, mais adestrável, quando tia Nágila descobriu que ele vinha usando, há um ano, xampu para crina de cavalos Mane´n Tail. Indicação de Igor, obscuro hair designer. Deixaria sua cabeleira ainda mais ereta.
Seu espírito também.
Doses cavalares de metilcloroisotiazolinona enfuriavam o potro indomável. Foi substituído imediatamente, após a descoberta, por Johnson´s Baby para Cachos Definidos.
Um dia, aos 2 anos de idade, sua mãe pilotava o aviãozinho em colheradas certeiras na boca sempre aberta, um hangar disponível a tudo que fosse gostoso. A sopa de letrinhas é o brasão da família que atravessa gerações e geografias.
Naquele dia específico, naquela colherada específica, uma fatia fina de cenoura cozida chegava à boca do pão-de-queijo quando, exatamente naquele instante, uma cólica intestinal fustigou seu redondo rostinho. Os nenês costumam ter cólicas. Sua mãe não se lembrou disso e, apressada, interpretou: Sebástian não gosta de cenoura!
E assim ficou decretado. Ele próprio tinha certeza disso. Engulhava só de ver o tubérculo.
Foi a Carol, do Nono C, que o salvou, 10 anos depois: Um dia, na cantina da escola, decote generoso e batom vermelho, ela mordiscava uma cenoura de médio porte. Atiçava explicitamente todas as células de Sebástian. Encostou-lhe na parede. Experimenta! Agora! Ele controlou o enjôo e obedeceu.
Aos 12 anos Sebástian descobriu que gostava de cenoura. E que amava Carol.
São namorados desde então. Ela ainda está no segundo ano do ensino médio. Foi expulsa da primeira escola porque vinha frequentando demais a Biblioteca. Esfolhava o papel-seda da Bíblia Sagrada para enrolar seus baseados. Àquela época, todo o Gênesis já tinha sido fumado. Ele está prestando vestibular, não sabe se jornalismo ou publicidade. Seu pai aprova o namoro (quem não tem capivara que atire a primeira pedra) e torce para que o filho faça jornalismo. Sua mãe, ainda hoje se diz surpresa quando lembra daquela história da cenoura.
Como pode alguém mudar de gosto tão completamente!
*Psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, psicoterapeuta e coordenador do Projeto Quixote aurolescher@gmail.com
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