Diário da Política República de Congonhas

Fernanda Cruz/Fotos Públicas (04/03/2016)
Fernanda Cruz/Fotos Públicas (04/03/2016)

O que mais me intrigou nessa operação cujo nome remete ao nazista Martin Heiddeger foi terem interrogado Lula na Polícia Federal do Aeroporto de Congonhas. Ninguém tinha sido levado para lá. Não era a sede da PF mais próxima à casa de Lula. Não era um local seguro, ao contrário, podia ser facilmente invadido.

Minha primeira hipótese é que o plano original era, depois do interrogatório, embarcá-lo num voo para Curitiba. Com toda a segurança – justificativa que Moro deu para a condução coercitiva. E que o plano teria sido abortado quando Moro percebeu a reação popular dentro e fora do aeroporto a favor de Lula, a demonstrar que se ele não entregasse Lula ali em Congonhas mesmo de volta à liberdade as consequências seriam imprevisíveis.

Data vênia, Moro não cometeu apenas o erro grosseiro da condução coercitiva, já criticada pelo ministro do STF, Marco Aurelio Melo, único do Supremo a pespegar um puxão de orelha no juiz federal de Curitiba. O erro que ele cometeu foi ter colocado tropas na rua para cercar locais e levar a depoimento pessoas totalmente inofensivas, barricadas na frente do Instituto Lula protegidas por homens em uniforme de campanha, exibindo metralhadoras.

A Polícia Federal esperava encontrar resistência armada? Seria para passar às pessoas a ideia de que estavam caçando pessoas perigosas? Mas, espera lá. Há um artigo na Constituição que diz explicitamente que ninguém pode ser considerado culpado sem sentença transitada em julgado. Como é que a própria Polícia Federal, autorizada por Moro, transforma em culpada uma pessoa que ainda não é? O erro dele foi instalar em algumas ruas de São Paulo um clima que a muitos lembrou 1964. O erro dele foi tomar o rumo oposto que uma investigação deve ter. O sigilo é fundamental. Por ter quebrado o sigilo o delegado Protógenes foi afastado da Polícia Federal e a Satiagraha foi anulada.

Na Aletheia repórteres da Folha de S. Paulo chegaram ao prédio de Lula às cinco e meia da manhã, antes dos agentes da PF e contam isso abertamente no jornal. Como se fosse um furo. Isso é quebra de sigilo ou não é? O erro de Moro foi ter oferecido um espetáculo à imprensa com fins políticos perfeitamente definidos.

Não sei se ainda tem alguma isenção para continuar nesse caso. Minha segunda hipótese para a escolha de Congonhas foi um recado. O recado é o seguinte: lembram-se da “República do Galeão”? Seu nome agora é “República de Congonhas”.

(*) A reflexão heideggeriana sobre o ser encontra-se no encalço da interpretação grega da verdade como Alétheia.


Comentários

Uma resposta para “Diário da Política República de Congonhas”

  1. Alex, os tempos estão mudando, como dizia Bob Dylan. A fala do Lula, verdadeiro discurso de lançamento da campanha para 2018, é um divisor de águas. E a republica de congonhas (em minúsculas) confirma que, quando a História se repete, é como farsa, e das bem ridículas.

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