“Brasileiras e Brasileiros”

“Reitero meu compromisso de honrar as mulheres, proteger os mais frágeis e governar para todos. Quero ser a presidenta de todos os brasileiros.” Repetidas tanto no discurso da posse no Congresso Nacional, onde detalhou as ações que pretende desenvolver em seu governo, quanto na fala mais emotiva no Parlatório do Palácio do Planalto, depois de ter recebido a faixa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, as frases soaram como resumo da missão a que ela se propõe nos próximos quatro anos. E também como uma mão estendida aos seus adversários, a quem pediu que se juntem na luta pelo fim da pobreza no Brasil.Mostrando uma clareza de ideias e um discurso articulado, Dilma garantiu que a luta de seu governo – que continuidade ao mais bem-sucedido presidente de toda a história do Brasil – será a de erradicar a pobreza extrema, e a criação de oportunidades para todos. Emocionada, ela afirmou: “Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos na mesa, enquanto houver famílias no desalento das ruas, enquanto houver crianças pobres abandonadas à própria sorte”, indicando que as prioridades dos oito anos do governo Lula serão as mesmas em seu governo. Dilma destacou o sucesso alcançado na melhora de vida de todos, lembrando que 25 milhões de brasileiros saíram da miséria e que 35 milhões se incorporam à classe média. Ela garantiu que isso vai continuar nos próximos anos, com o desenvolvimento sustentado do País, até que se acabe a pobreza e a miséria.

Os discursos de Dilma no Congresso e no Palácio do Planalto foram alguns dos pontos mais marcantes de uma festa de posse que levou 30 mil pessoas às largas avenidas de Brasília e à Praça dos Três Poderes. Na verdade, a festa de despedida de Lula, que encerrou oito anos de governo com inéditos 87% de aprovação pessoal e 83% ao seu governo (praticamente o dobro dos índices de seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso), e da chegada ao poder da primeira mulher Presidente da República na história do Brasil começou às duas e meia da tarde do dia 1 de janeiro, quando Dilma saiu de um carro oficial da Presidência, em frente à Catedral de Brasília, e se dirigiu ao veterano Rolls-Royce que, desde o começo dos anos 1950, serve como carro de desfile dos presidentes brasileiros. A chuva forte e o frio, típicos do verão de Brasília, a forçaram a fazer a troca de carro protegida por guarda-chuvas empunhados por seguranças, e entrar rapidamente no Rolls-Royce que já estava com sua capota de lona bege fechada. E foi assim, de forma não muito protocolar e prosaica, que começaram os momentos mais importantes da vida da mineira Dilma Vana Rousseff, ex-guerrilheira no começo da década de 1970, quando acabou presa por três anos, depois de ser torturada durante 22 dias pelos órgãos da repressão.

Da bela catedral projetada pelo comunista Oscar Niemeyer, o cortejo seguiu pela Esplanada dos Ministérios, projetada por Lucio Costa e Oscar Niemeyer, rumo ao Congresso Nacional. No caminho, a presidenta ainda tentou acenar para os heroicos populares que suportavam a chuva, já um temporal acompanhado por vento frio. Mas ninguém se importou se mal pôde ver a nova presidenta. Afinal de contas, o que realmente importava era testemunhar o momento histórico em que uma mulher iria suceder um operário metalúrgico na Presidência da República. Do Congresso, onde ela e seu vice Michel Temer prestaram o juramento de praxe e foram empossados, o cortejo seguiu para o Planalto, novamente no Rolls-Royce, agora de capota aberta, sem chuva. Antes, momento duplamente simbólico, a presidenta passou em revista a guarda de honra formada em frente ao Congresso, primeiro ato formal depois de empossada no poder.A chuva, talvez já mostrando respeito à mulher mais poderosa do Brasil, deu uma trégua. A presidenta e seu vice subiram a rampa do Planalto, acompanhados da filha de Dilma, Paula, e de Marcela, a bela e jovem mulher de Temer. À sua espera, estavam os emocionados Lula e Marisa. A passagem da faixa foi feita no Parlatório, consagrando um gesto tradicional que, nos últimos tempos, só não foi feito pelo general João Baptista Figueiredo, o último da ditadura, que preferiu sair pelos fundos para não entregar a faixa ao civil José Sarney. A festa de Dilma prosseguiu com a despedida de Lula, que, bem ao seu estilo, desceu a rampa rumo ao povo na Praça dos Três Poderes. A emoção correu solta, e Lula não conteve o choro. No Palácio, Dilma então deu posse aos 37 novos ministros. Nove mulheres, número inédito, e em seguida encontrou-se com presidentes e chefes de Estado que vieram para a posse. Os primeiros da fila foram nada menos que a Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, dois adversários lado a lado, muito sorridentes.

Dia Histórico
A festa do povo se mistura com a oficial. Nela, Dilma mira no futuro sem se esquecer do passado. Entre as nove mulheres do Ministério, Maria do Rosário, dos Direitos Humanos

Terminadas as solenidades – que incluíram uma interminável fila de cumprimentos a Dilma e Temer -, a festa prosseguiu poucas horas mais tarde com um coquetel no Palácio do Itamaraty lotado.Dilma se reencontrou com 17 companheiras de guerrilha e de prisão dos Anos de Chumbo. Hoje, senhoras entrando nos 60 anos, com a presidenta, simbolizaram a vitória final dos que lutaram contra a ditadura. A geração que enfrentou o arbítrio no final dos anos 1960 e começo dos anos 1970 já tinha sido homenageada em dois discursos, quando Dilma, emocionada, recordou “os que caíram na caminhada por um País livre”. Já passava das 10 da noite quando a presidenta, finalmente, foi para casa, a Granja do Torto, até a mudança próxima para o Palácio da Alvorada. Encerrava-se assim o primeiro dia da era da mulher no poder, já prometendo para o domingo (2) muito trabalho, com uma agenda lotada de reuniões com os mandatários estrangeiros.

Brasil elege Dilma Roussef


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