A condução coercitiva e o pedido de prisão preventiva do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas últimas semanas deram ainda mais força para um turbilhão que acomete o País. Insuflados, os movimentos que pedem a derrubada da presidenta Dilma Rousseff se encontram em manifestações neste domingo (13). Em defesa de Lula e da democracia, a esquerda também reencontra suas forças e marca sua própria manifestação, para o próximo dia 18.
Para o filósofo Pablo Ortellado, professor da Universidade de São Paulo, a polarização política no Brasil é um fator que tende a crescer e deve ser visto com temor. “O processo de polarização, que já está insuportável, vai se intensificar ainda mais. Estamos indo rapidamente para uma situação parecida como a da Venezuela, que se acostumou a ver gente morrendo em passeata”, diz. Na opinião de Ortellado, no entanto, o PT não tem outra saída a não ser “se mobilizar de maneira cada vez mais forte”, e complementa: “Do contrário, o partido vai desaparecer como força política. O PT está nas cordas, para ele agora é uma questão de vida ou morte”.
A condução coercitiva que tirou Lula de sua residência às 6h da manhã para depor, a mando do Ministério Público Federal, pela 24ª fase da Operação Lava Jato, e o pedido de prisão preventiva do ex-presidente, feito pelo Ministério Público de São Paulo, foram duramente criticadas pela comunidade jurídica. No último caso, até a oposição ao governo questionou a ação.
Para Ortellado, ambas as ações policiais foram abusivas, carecem de fundamento jurídico e servem para deslegitimar a Lava Jato como um todo, ainda que cada instituição comande uma investigação própria. “O pedido do MP-SP é muito pobre, mal escrito, mal fundamentado, mal investigado, parece muito ter motivação política. Sobre o MPF, para mim ainda não está claro se todo o processo investigativo tem orientação política.” A antropóloga Esther Solano, professora da Unifesp, no entanto, diz que a Lava Jato “já surgiu política”. “Quando a Justiça se politiza, ela perde a sua capacidade de ser justa. E isso é muito perigoso para o País”.
Para Esther, o pedido do MP-SP a três dias da manifestação contra Dilma foi uma “falta de responsabilidade”. “É uma coisa mal feita. Imagina a hipótese de a juíza acatar a decisão do MP e decretar a prisão do Lula, imagina como poderemos acalmar os ânimos. Tudo vem sendo feito com pouca responsabilidade institucional. Como MP, juiz ou promotor, você tem que assumir uma responsabilidade e não ficar inflamando os ânimos. Nós podemos viver um drama no domingo. Me preocupo com a falta de bom senso e responsabilidade”.
Sobre o enfraquecimento de Dilma, isolada politicamente, Ortellado diz que dificilmente a presidenta resistirá no cargo até 2018. Para ele, a ida de Lula a algum de seus ministérios poderia salvar o governo: “Lula é, de longe, o maior articulador político do País. Se ele for para o governo e Dilma o empoderar a agir politicamente como uma espécie de super ministro, acho que o governo dela pode ter uma sobrevida”.
O movimento, no entanto, pode manchar a imagem do ex-presidente. É o que defende Esther. “Se ele aceitasse um ministério agora seria interpretado como uma forma de se livrar da Lava Jato. Uma jogada dessas prejudicaria a imagem dele. Eu acho que ele não deveria aceitar o ministério”.
Para que o governo e o PT sobrevivam, a antropóloga defende uma guinada radical à esquerda:“Tanto Dilma quanto os líderes do PT precisam assumir uma posição de auto-crítica, e de alguma forma, uma reformulação de idéias”.
*Colaborou André Sampaio
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