Passada a Parada

Queridos, é dia de cair na real e encarar a realidade, atentando para alguns fatos sérios. A Folha de S. Paulo publicou uma pesquisa que mostra que 51% dos brasileiros é contra a adoção de crianças por homossexuais. O Superior Tribunal de Justiça até já decidiu a questão, mas assim pensa nossa sociedade. Esse número contrasta com os percentuais festivos que a revista Veja publicou semanas atrás, que mostravam que somos mais aceitos pelo Brasil de agora. Veja mostrou a opinião de jovens dos centros urbanos, e a Folha mostrou o Brasil inteiro. Tementes à realidade brasileira, nenhum dos candidatos à presidência compareceu ao maior evento público do Brasil. Lá estiveram o governador Goldman, que meramente cumpre o mandato-tampão deixado por Serra e não será candidato a nada, o prefeito Kassab, que afinal era o anfitrião da Parada, e Marta Suplicy, nossa fiel parceira. No mais, meus caros, continuamos na mesma luta de sempre, sem conseguir sequer aprovar a lei que criminaliza a homofobia. Temos visibilidade na mídia, mas muito chão pela frente. Lula assinou o decreto que institui o dia 17 de maio como dia oficial contra a homofobia, aquele que José de Alencar se recusou a assinar. Um ato simbólico, mas significativo, mínimo perto do que poderia fazer, mas ao menos ele o fez!

Quando se fala em preconceito e homofobia, rapidamente se jogam os evangélicos na fogueira, como se fossem eles os únicos. Que muitos deles o são é verdade verdadeira, todos os dias rejeito vários comentários me condenando ao fogo do inferno. Mas o resto do Brasil também o é, católicos e agnósticos, são-paulinos, corintianos e palmeirenses. Passada a Parada, essa é a realidade. Como mudar isso? Otimista como sempre fui, só digo uma coisa: deixemos o tempo passar. A Argentina está a um passo de aprovar definitivamente o casamento homossexual, e Portugal já o fez. Nos Estados Unidos a derrubada da lei que rejeita a entrada dos gays nas forças armadas é dada como iminente, e o caminho para a legalidade do casamento via judiciário também está sendo aberto à força. Aqui mesmo no Brasil, já temos os belos julgados dos tribunais de Brasília. Afinal das contas, também sabemos brigar! Abraços do Cavalcanti.