Reeleito, Temer discursa em tom conspiratório em Convenção do PMDB

Cúpula do PMDB em convenção que reelegeu Michel Temer presidente do partido - Foto: Divulgação
Cúpula do PMDB em convenção que reelegeu Michel Temer presidente do partido – Foto: Divulgação

Não se pronunciou a palavra “golpe”. A tarde que o vice-presidente Michel Temer reservou para se reeleger presidente do PMDB foi toda ela dedicada a falar sobre democracia. Às avessas. Em oito minutos de tom conspiratório, o peemedebista evocou a memória de Ulisses Guimarães para relembrar períodos dramáticos da redemocratização e compará-los com o atual momento político. Chegou a beijar o anel de um velho rival de partido ao insinuar a falta de “moderação e equilíbrio” ao governo Dilma em contraste com os tempos de um José Sarney. Sem mencionar o nome da presidenta, acenou para a oposição também tacitamente.

Temer assumiu o microfone na Convenção Nacional do PMDB sob os aplausos de quem já tinha vencido. Começou seu discurso confundindo. Tratou o racha no partido como “pluralidade” e rasgou elogios às “discussões democráticas” promovidas na já “histórica” convenção. Deu um pouco de sono quando lembrou seus tempos de advogado na OAB durante a “convocação da Assembleia Constituinte e Diretas Já”. Suas palestras, admitiu, eram insuficientes: “Eu ia fazer palestras por todo País, mas não eram elas que convenciam. O que me ancorava, inspirava era o PMDB”. Aí o discurso empolgou.

Sob aplausos, reverenciou o “doutor Ulisses Guimarães” sem entrar em muito detalhe. Apenas o suficiente para falar da formação da Assembleia Constituinte em pleno governo peemedebista, “quando o País era governado com moderação e equilíbrio pelo presidente José Sarney”. Foi quando suas frases cifradas ganharam obscuridade maior.

Rejeitou que a democracia “garantida pelo PMDB” esteja em risco “porque nossas instituições demonstram vigor, mas”… Mas o país “enfrenta uma gravíssima crise política e econômica”. Em aceno para a oposição, retomou seu discurso liberal de “valorizar a iniciativa privada e a competitividade com ajuste que racionalizem a administração por meio de reformas estruturantes”. Mas também sobrou tempo para se apropriar de um discurso petista e falar por duas vezes em “garantir e ampliar os avanços sociais e a igualdade de oportunidades para todos”. Era quando as palmas cessavam.

Elas só voltou a bater forte quando Temer frisou que “o desemprego é uma praga nacional” e o “quadro recessivo, o desemprego crescente e a carestia são realidades que devem ser combatidas”.

A parte final do discurso foi novamente para acariciar o PMDB e deixar claro que, além de reeleito, tolera e discursa para a ala peemedebista que pede rompimento imediato com o governo, decisão que deve ser tomada em 30 dias. Quando esse dia chegar, faltarão duas semanas para a votação do impeachment pela Câmara dos Deputados se respeitado o prazo estimado por Eduardo Cunha, um dos primeiros peemedebistas a romper com o governo.

Até lá, o PT deve sangrar. Poucos ainda resistem no PMDB, como a amiga pessoal de Dilma, Kátia Abreu, que na sexta alfinetou Temer: “Só um capitão covarde abandona um navio na hora da tempestade e o PMDB não é um capitão covarde”.

O cenário contrasta com as últimas palavras de Temer na Convenção: “Não é hora de dividir os brasileiros, acirrar ânimos, mas construir pontes, e é o que o PMDB está fazendo.” Para concluir em tom mais convincente: “Sairemos unidos em torno de um ideário para resgatar a República e encontrar a via do crescimento econômico, unidos por um futuro melhor, unidos pelo Brasil.”


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