Sobrou até para a oposição: quem ganha com o maior protesto da história?

Foto: Cristina Graelmil/RPC
Manifestantes usam máscara de Sérgio Moro na Avenida Paulista – Foto: Cristina Graelmil/RPC

O protesto contra o governo neste domingo (13) já é considerado o maior da história. Segundo medição preliminar do Datafolha, pelo menos 500 mil pessoas foram para a Avenida Paulista, 100 mil a mais do que nas manifestações pelas Diretas Já, em 1984. No restante do Brasil, as marchas também foram grandes, reuniram 1,8 milhão de pessoas segundo a PM. Se havia alguma dúvida de que o protesto seria um desastre para o governo, a multidão não deixou dúvidas. Coube ao principal nome da oposição, Aécio Neves (PSDB-MG), a demonstração de que ele também não é o herdeiro natural da cadeira de Dilma Rousseff. Vaiado ao lado do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), saiu da Avenida Paulista deixando a interrogação: quem capitaliza com a manifestação?

Tudo indica que o nome da vez é o juiz federal responsável pela Operação Lava Jato, Sérgio Moro, lembrado em cartazes de protestos em todo o País. O volume de apoio foi tamanho que ele decidiu publicar uma nota dizendo-se “tocado” e sugerindo às “autoridades eleitas e partidos” que deem ouvidos à “voz das ruas”. Moro, por outro lado, é um dos principais alvos dos defensores do governo, que consideram ilegal a condução coercitiva a que sujeitou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva há duas semanas.

Enquanto a resposta não vem, Brasília se mobiliza. Lula deve decidir nos próximos dias se aceita um cargo de ministro no governo Dilma, enquanto o Senado só pretende ir a plenário depois que o Supremo Tribunal Federal (STF) julgar os recursos para o rito do impeachment, o que deve acontecer na próxima quarta-feira (16). Até lá, será tempo para que a presidenta reúna seus apoiadores de olho nos próximos passos.

A imensa adesão aos protestos desse domingo reverte a trajetória de queda dos atos anti-Dilma no ano passado. Só mesmo o show midiático das últimas semanas para mobilizar a parcela da população que começou 2015 disposta a derrubar Dilma Rousseff da presidência, mas que terminou o ano menos convicta disso. Exemplo foi a diminuição dos protestos ao longo de 2015 justamente quando o impeachment prosperou no Congresso. Qual o paradoxo?

Um dos autores do livro Mascarados: A verdadeira história dos adeptos da tática Black Bloc, o pesquisador, filósofo e professor da USP Pablo Ortellado arrisca um palpite. Em entrevista à Brasileiros, ele concorda que, de fato, quem foi às ruas gosta pouco do PT, mas não é só. “Os manifestantes são antipetistas, mas também têm uma descrença profunda no sistema político brasileiro. Para eles, o PT é um caso mais extremo de corrupção que está espalhado por todo o sistema.”

Essa parcela da população também “começa a sentir que estava sendo usada por esse sistema corrupto para tirar Dilma e substituir por atores políticos talvez mais corruptos do que o PT, em particular o deputado Eduardo Cunha, sobre quem as denúncias foram se acumulando no decorrer do ano”.

O protesto de domingo “tenderia a ser pequeno dado o envolvimento de grupos políticos”, mas a ação do Ministério Público do Estado de São Paulo na semana passada – que pediu a prisão do ex-presidente Lula – e a ação de Sérgio Moro, na anterior, concentrou a indignação popular contra o PT, incensando os manifestantes. “Do ponto de vista político, a ação do MP de São Paulo terá um duplo papel. Por um lado estimulou a mobilização de domingo porque as pessoas mobilizadas têm o sentimento de que a situação de Dilma está chegando perto de sua conclusão. Por outro lado, os setores que defendem o governo vão usar o episódio para deslegitimar a Lava Jato.”


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