Mishima, novamente

Meus caros, adoro abrir uma semana com boa notícia: mais um livro de Yukio Mishima nas livrarias, e um dos melhores.  Chama-se O Pavilhão Dourado, e conta a história de um adolescente mentalmente perturbado, que vive na fronteira entre o Japão antigo e tradicional, representado nesse livro por um templo antigo e sagrado, e a sociedade do Japão moderno, que começa a se desenhar já durante a Segunda Guerra Mundial. Foi exatamente o período em que Mishima começa sua carreira de escritor, e vive seus próprios conflitos com sua sexualidade e sua visão da cultura japonesa. O personagem principal, Mizogushi, é absolutamente perturbado, por uma série de razões, e suas relações com o mundo ao seu redor o levam a um labirinto cada vez mais profundo e complexo. Quando  conhece outro personagem, Kashiwagi, o desejo e as ideias de uma relação homossexual só acabam piorando sua mente. Esse é um universo riquíssimo para ser explorado por Mishima, mestre em perfis complexos e ricos, e na cultura japonesa. Um mito no Japão, ele chegou a ser indicado ao Prêmio Nobel mais de uma vez, o que é curioso em se tratando de uma sociedade conservadora como a japonesa.

Mishima era o pseudônimo de Kimitake Hiraoka, mas acabou conhecido por ambos os nomes. Homossexual, saiu do armário de forma lindíssima, com o livro Confissões de Uma Máscara, clássico absoluto da literatura homossexual, e de conteúdo quase totalmente autobiográfico. É impossível distinguir, ainda hoje, o que no livro foi realmente realidade ou não, mas a história do menino que vê despertar seu desejo por homens, e se esconde atrás de máscaras para ocultar sua personalidade, poderia ocorrer em qualquer país do mundo. Em uma passagem deslumbrante, o personagem se depara com uma pintura de São Sebastião, com seu corpo maravilhoso contorcido pelo sofrimento das flexas, e atinge seu primeiro orgasmo. Mishima sempre afirmou que esse fato foi real, que foi assim que ele descobriu o sexo, e se reconheceu como homossexual. Ele chegou a se fotografar imitando a pintura, de forma absolutamente homoherótica. Acabou se suicidando de maneira espetacular. Mishima é lindo, um dos maiores autores homossexuais do século XX, eu o comparo a Gide e Genet. Seus livros são lindíssimos, obrigatórios para gays e héteros. Estão todos nas livrarias. Abraços do Cavalcanti.


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