O museu como playground

Se nos anos 60, Nelson Leirner estava no olho do furacão com seus happenings provocativos, hoje, aos 84 anos, ele ainda é atual, irreverente e inspirador. O projeto Playgrounds tem como tema sua instalação de 1969, realizada no vão livre do MASP,  na inauguração do novo edifício do museu, em plena avenida Paulista. O local é o sismógrafo das manifestações político-sociais e, quando John Cage esteve na cidade, ao andar pelo belvedere exclamou: “Essa é a arquitetura da liberdade”!.

 Em Playgrounds, Leirner construiu peças de grandes dimensões que contavam com a participação do espectador, dentro do espírito da pop arte. O evento reuniu objetos pensados especialmente para a mostra, além de outros mais antigos. Alguns foram vítimas de vandalismo, mas imediatamente reparados. Playgrounds, em sua versão atual, não se prende necessariamente à instalação de Leirner e conta com seis artistas: Ernesto Neto, do Rio de Janeiro; Yto Barrada, do Marrocos; Céline Condorelli, da França; e Rasheed Araeen, do Paquistão, além dos coletivos Contrafilé e Grupo Inteiro, ambos de São Paulo. A mostra receberá público que poderá circular pelo vão livre e pelo segundo subsolo do MASP, dando continuidade à ideia de interação entre o museu e o público, que já estava contemplada na pauta do casal Bardi quando a arquiteta Lina desenhou o museu e Pietro Maria, seu diretor, o aprovou. Para o argumento exposto é bom destacar que os artistas convidados são de gerações e tendências diferentes, e se quiséssemos unificá-los seria pelo interesse de todos eles pela arte pública. 

Entre todas as propostas a de Céline Condorelli talvez seja a mais literal. A francesa reinterpreta O Carrossel, trabalho proposto por Lina em 1942. Celine se notabilizou por desenvolver uma obra fluida, na qual incorpora as linguagens de arquitetura, design e literatura. Seus projetos tangenciam a funcionalidade estrutural do objeto e levam em conta o público e seu entorno. O mais vivido do grupo, o paquistanês Rasheed Araeen, com mais de 80 anos, mora em Londres e é reconhecido como um dos integrantes do minimalismo britânico. Suas estruturas geométricas, construídas por linhas verticais e horizontais, se mantêm unidas por uma rede de diagonais e dão vida a qualquer espaço onde são instaladas. Os cubos seriais e coloridos são moduláveis e permitem que o público os reconfigure. Rasheed nem precisaria dizer que é engenheiro de formação; seu trabalho carrega forte influência dos andaimes de construções.

Contrastando com a experiência de Rasheed, o Grupo Inteiro, formado por jovens brasileiros, se movimenta em dois polos: a interatividade física, com um Trepa-Trepa construído a partir da estrutura de um ônibus, e duas estações com oficinas para pensar arte. Enquanto Ernesto Neto propõe Caminhando o Caminho, deixando o visitante manipular a passagem traçada dentro do museu, Yto Barrada, uma artista marroquina que vive em Paris, deixa o espectador livre para descobrir sua arte de apelo popular. Formado em São Paulo no ano 2000, o Grupo Contrafilé tem a metrópole como foco de investigação e inspiração para envolver pessoas, grupos e comunidades. O coletivo costuma interagir com outros em sua imersão em problemáticas situacionais, conseguindo atrair um número significativo de adeptos. 

O projeto Playgrounds de hoje faz parte da reformulação do programa educativo do MASP iniciado em 2015. A curadora Luiza Proença diz que não se trata de, a qualquer custo, atrair mais público para o museu, mas “de sensibilizar os frequentadores e despertar neles o interesse de saber o que há lá dentro”. O MASP, assim como vários museus internacionais, investe no projeto educacional realizado desde o momento em que a exposição é concebida, com o objetivo de contribuir na formação do público e dividir conhecimento, atingindo grupos diferentes e mais amplos. Desde o ano passado, a instituição passa por reformulação e seu desempenho maior foi trazer de volta os cavaletes expográficos de Lina Bo Bardi, objetos simbólicos da personalidade e singularidade do museu. Playgrounds se insere no esforço da nova direção de resgatar projetos seminais de seus primeiros anos. Esse evento pode abrir janelas para o desconhecido, para o jogo impregnado de humor e indagações suficientes para fazer conexões inteligentes e mobilizadoras.

Serviço: PLAYGROUNDS 2016
De 18 de março a 24 de julho
2º subsolo e Vão Livre do MASP
Avenida Paulista, 1578 – São Paulo/SP
(11) 3149-5959


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