Capote já velho, foto de Richard Avedon
Capote já velho, foto de Richard Avedon

Caríssimos, estou adorando o livro Ensaios, de Truman Capote, editado no Brasil pela editora Leya. Não sei de caminho melhor para quem queira entender os Estados Unidos da segunda metade do século XX, quanto ler escritores como ele. Já falei aqui de Gay Talese e Gore Vidal, e devo a Tom Wolfe ao menos um post. Já disse que Vidal é vital. Embora ele tenha escrito basicamente ficção, seus livros mais recentes, os autobiográficos Palimpsesto e Navegação de Ponto por Ponto, contam passagens invejáveis de sua vida e dos Estados Unidos nas mesmas décadas.  Ele realmente foi íntimo de gente como o presidente Kennedy e Tennessee Williams. Vidal e Capote sempre foram inimigos figadais, detestaram-se, acabaram se estapeando nos tribunais, em um caso vencido por Vidal, quando Capote já estava decaído e destruído pelo álcool. Capote escreveu ficção e não ficção, são dele os maravilhosos Breakfast at Tiffany’s e A Sangue Frio . Vidal, e muitos outros, diga-se, sempre acusaram Capote de mentir deslavadamente em seus livros, mas isso não tira o mérito de seus relatos sobre diversos personagens e sobre momentos bárbaros de seu país. Ele morreu com apenas 59 anos, era homossexual assumido, media apenas 1,60m, mas era um gigante quando escrevia. Vidal também é homossexual assumido, mas alto como um poste, e não morreu ainda, tem 85 anos, e uma língua ainda fiada.

Em Ensaios você descobre um Marlon Brando sensível e cansado do sucesso, embora muito jovem, com uma inteligência muito além da média em Hollywood, como foi poucas vezes retratado por outros autores. Também Mae West surge de forma surpreendente, humana, e sem graça, em um jantar em sua homenagem, e Elizabeth Taylor dialoga com ele tendo ainda a traqueia aberta pela traqueotomia que a salvou de uma pneumonia quase fatal em Londres. Um chá com a baronesa Karen Blixen, nome verdadeiro de Isak Dinesen, é deslumbrante, pois traz uma das raras descrições detalhadas daquela mulher maravilhosa, tão diferente da figura de Maryl Streep, que a viveu no cinema. Ele também narra sua viagem à União Soviética em 1955, plena Guerra Fria, acompanhando a turnê de uma montagem de Porgy and Bess. Enfim, o livro é puro new journalism.  Obrigatório para quem gosta e queira ler. Recomendo enfaticamente. Abraços do Cavalcanti.


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