Morreu na manhã desta sexta-feira (18) no Rio de Janeiro, aos 79 anos, o crítico de cinema José Carlos Avellar. Ele enfrentava um linfoma e não resistiu às consequências do tratamento quimioterápico.
Responsável pela programação dos cinemas do Instituto Moreira Salles – IMS desde 2008, Avellar tem longa trajetória de colaborações para a história do cinema brasileiro.
Também jornalista e cineasta, entre as décadas de 1960 e 70, Avellar dirigiu o curta-metragem Treiler e também atuou como produtor, editor e diretor de fotografia. Como crítico, publicou ensaios como Imagem e Ação, Imagem e Som, Imaginação (1982), O Cinema Dilacerado (1986), A Ponte Clandestina – teorias de cinema na América Latina (1995) e O Chão da Palavra: Cinema e Literatura no Brasil (2007).
O velório de Avellar será realizado no domingo (20h), a partir das 10h30, no Cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju (RJ).
Leia a íntegra de nota divulgada pelo Instituto Moreira Salles
O IMS lamenta informar o falecimento de José Carlos Avellar, figura de extrema importância no cinema nacional. Nascido em 1936 no Rio de Janeiro, Avellar construiu uma carreira de crítico reconhecida internacionalmente, pontuada pelos vários livros que escreveu e organizou, por uma quantidade imensa de artigos (muitos deles publicados no Blog do IMS), e por uma atuação marcante como gestor público. Até a data de sua morte, Avellar desempenhou o cargo de Coordenador de Cinema do IMS.
Formado como jornalista, Avellar consolidou sua trajetória de crítico cinematográfico no Jornal do Brasil, onde atuou por vinte anos. Seus textos foram publicados em diversos veículos no exterior, incluindo catálogos de festivais importantes, como o de Locarno. Sua relevância para a crítica internacional também pode ser percebida na sua participação em júris oficiais e de crítica de festivais de grande porte como o de Veneza e Cannes, além de ter sido, por muitos anos, o representante brasileiro do prestigioso Festival de Berlim, decidindo que obras do cinema nacional serão exportadas para o Berlinale. Em dezembro de 2006, foi condecorado pelo governo francês com a láurea de Chevalier des Arts et Lettres. Uma parte considerável de seus escritos está reunida no site pessoal Escrever Cinema.
Seu trabalho crítico pode ser visto de forma mais concentrada nos seis livros que publicou, dos quais se destaca O chão da palavra: cinema e literatura no Brasil(2007), no qual analisa clássicos como Vidas secas, Dona Flor e seus dois maridos, Memórias do cárcere, entre outros. Apesar da idade avançada, Avellar nunca deixou de acompanhar de perto os lançamentos cinematográficos, frequentando anualmente o Festival de Cannes.
Como gestor público, trabalhou em cargos importantes, como vice-diretor e diretor da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, e como vice-presidente da Associação Internacional dos Críticos de Cinema (Fripesci), além de curador do Festival de Gramado (de 2006 a 2011). É necessário destacar, ainda, seu papel de diretor, de 1995 a 2000, da Riofilme, lendária distribuidora que teve um papel fulcral na chamada “retomada” do cinema nacional, lançando 94 longas entre os anos de 1992 e 2000, como Amarelo manga e Lavoura arcaica, e produzindo obras de sucesso comercial e crítico como Central do Brasil. O filme recebeu o prêmio máximo no Berlinale, o Urso de Ouro, além do Urso de Prata pela atuação de Fernanda Montenegro. Na época, Avellar comentou à Folha de S. Paulo: “É a primeira vez em Berlim que um filme ganha dois prêmios do júri oficial. É duplamente significativo”.
Desde 2008, Avellar é responsável pela programação dos cinemas do Instituto Moreira Salles. No Instituto, criou a coleção de DVDs, na qual se lançou pela primeira vez no mercado brasileiro obras indispensáveis do cinema internacional e nacional, como Shoah, o extenso documentário de Claude Lanzmann sobre o holocausto, eCabra marcada para morrer, obra-prima de Eduardo Coutinho. Pela sua curadoria na área de cinema do IMS, Avellar recebeu o prêmio Faz Diferença do jornal O Globo em 2014.
Uma faceta pouco lembrada de Avellar foi a sua incursão como cineasta nos anos 1960 e 1970: dirigiu um curta-metragem, Treiler, e codirigiu outros dois. Além disso, trabalhou em outras áreas mais específicas, tendo exercido o papel de diretor de fotografia, produtor e editor em outras obras. Deste modo, pôde conhecer o outro lado da mesa, saindo do papel oficial de crítico e explorando em primeira mão o fazer cinematográfico.
Seus amigos e admiradores ressaltam uma característica fundamental do crítico: sua memória. Avellar era capaz de rememorar cenas específicas, descrevendo em detalhes um singelo plano, de um filme assistido décadas atrás. Seus artigos e ensaios exibiam um vasto conhecimento da produção mundial e da história do cinema, e articulavam a difícil relação entre a sétima arte e outros campos de conhecimento, como a psicanálise.
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