A biruta
Invisível, o ar em movimento varia em intensidade.
Sua voz é um sussurro na brisa ou um grito no tufão.
Penetrante, o vento invade as frestas e envolve os corpos. Carrega em seu percurso pólens que fertilizam à distância.
Símbolo de eficácia e simplicidade, a biruta é o instrumento definitivo quando se pergunta: De onde o vento sopra? Qual a sua força?
Em todos os aeroportos do mundo, magnânima, lá está. Um pedaço de pano em forma de coador de café e um aro de ferro: A biruta.
Corporificar o vento é sua alma.
Expressar suas infinitas direções sua arte.
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Aluga-se família. De preferência mãe com boa aparência e filhos colaborativos. Mínimo 2, máximo 4. Sem restrições quanto às idades. Paga-se bem, sob a forma de diárias. O preço será combinado durante uma entrevista de reconhecimento (sem compromisso), realizada na padaria Recanto dos Pães (esquina da Rua Açores com a Avenida Napoleão Vergueiro, Vila Nova Mariana), todas as segundas-feiras das 7 às 8:30 da manhã (não é necessário, para a entrevista, agendamento prévio nem levar as crianças, apenas levar as fotos). Contato: Cândido Pereira.
Câmera oculta
Capturada uma cena íntima entre a flor e o beija-flor:
“não sou flor que se cheire, menos ainda, que se beije!”
o beija-flor, coitado, desolado voou
e, sem dar um pio,
foi cantar outra flor.
Doces
O vendedor albino estacionou seu carrinho de doces coloridos. Olhou o céu um dia e raivejou com as nuvens: Eu sou a pior pessoa que conheço!
Nunca mais foi visto nas ruas do bairro.
Poesia
Para o Ferreira Gullar, a poesia nasce do espanto.
Para Bruna Beber, do farelo.
Eu tento parir meus versos. Com fórceps.
Mas eles não nascem.
Sopa de letrinhas
Sopinha que inspira esta crônica-concreta e é santo remédio para exaltação dos ânimos.
*Psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo, psicoterapeuta e coordenador do Projeto Quixote aurolescher@gmail.com
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