Renato Janine Ribeiro, filósofo e ex-ministro da Educação, perdeu acesso temporário a sua página no Facebook devido a um grande número de “visitas”. Não se sabe se feitas por fãs de suas palavras ou se por pessoas que rejeitam suas ideias e tentam impedir que ele se manifeste normalmente em um veículo público e de livre acesso.
Leia a seguir o que diz Janine a respeito do ocorrido:
“Passei mais de 24 horas sem acesso a minha página no FB, que além disso foi bloqueada ou suspensa, aparentemente porque houve uma massa de pessoas dizendo que eu não era eu.
Tenho razoável convicção de que porto a mesma identidade desde que nasci, isto é, sem dúvida mudei muito, mas pelo menos a certidão de nascimento, o RG, a CNH e o passaporte sempre tiveram o mesmo nome…
Não tenho dúvida alguma de que o ataque foi político. Teria sido efetuado por muita gente ao mesmo tempo.
O que pensar disso? Que, possivelmente, num momento de conturbação como o que vivemos, há extremistas interessados em calar vozes que tomam posição política, sim (sou a favor da esquerda), mas de maneira moderada e mantendo o diálogo.
Minha crença, e receio, é que seja mais um sinal de que há gente querendo impedir qualquer diálogo.
Ontem, falei no Grêmio do Colégio Porto Seguro. O assunto era a escolha do curso superior. Fui a convite dos alunos. Um deles, no final, me perguntou sobre a situação política. Muito gentil, ele, muito oportuna a pergunta, só que demoraria mais duas horas para responder, discutir, dar a palavra às vozes discordantes (isso seria essencial, eu jamais faria uma prédica a alunos). Pois eu disse a ele: crises econômicas passam, a queda do PIB é ruim, gente perde emprego e tudo o mais. É ruim. Mas o pior não é isso, é quando um país perde sua alma.
Se prosseguirmos a guerra civil verbal que ora vivemos, pode ser que ela não chegue a uma guerra civil armada. Mas conto uma história. Um amigo chileno saiu de seu país após o golpe de Pinochet. Sua família, como muitas, estava rachada. Tipo um irmão pró Allende, outro pró Pinochet. Romperam. Na geração seguinte, nasceram primos irmãos que nunca se conheceram. Sabiam que o outro existia, mas nem o conheciam. Mais uma geração, e nasceram primos em 3.o grau que nem sabem da existência um do outro.
É isso o que queremos?
Amigos rompem pelo Facebook, por causa de política. Isso vale a pena?
É esse tipo de ódio, de que fui alvo anteontem e ontem, que faz um país perder sua alma. Para isso, é difícil haver cura. Um ou dois anos de medidas econômicas duras fazem superar uma crise (tomara). Assassinar o tecido social é muito mais grave, dura muito tempo, e às vezes nem tem remédio.”
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