A ironia infame de Blatter

Meus caros, não posso me dizer surpreso com a declaração de Joseph Blatter, presidente da Fifa, de que os homossexuais que eventualmente forem à Copa do Mundo de 2022, no Qatar, devem se abster de fazer sexo. A Fifa nunca foi uma entidade simpatizante para com os homossexuais, e não é de hoje que ajuda a manter, com sua omissão, a homofobia que cerca o futebol. Na última Copa, na África do Sul, país onde homossexuais podem até mesmo se casar, não foi falada uma única palavra sobre homofobia, e lá estavam atletas, dirigentes, e milhares de torcedores de vários países do mundo inteiro. Ninguém venha me dizer que não havia homossexuais entre eles, e não foi feita nenhuma recomendação sobre as atividades sexuais de quem quer que seja, ou seja, a Fifa soube ser ao menos correta. O futebol é capaz de fazer mágicas, pois iguala, dentro do campo, pobres, ricos, negros, brancos, asiáticos, cristãos, judeus, e muçulmanos. Tal como na Assembleia Geral da ONU, lá a humanidade segue o maravilhoso princípio que deveria norteá-la em qualquer situação: todos são iguais. Nas últimas Copas, vimos vários desses fenômenos ocorrerem, ninguém deixou de jogar por conta de racismo ou questões religiosas. O que estava em jogo era sempre a bandeira de seus países, e as regras da própria Fifa são claras nesse aspecto. Só não funciona para unir gays e héterossexuais, e Blatter aceita isso.

Eu não gosto muito de futebol, mas gosto das Copas, e não só por torcer pelo Brasil, mas por me emocionar com o congraçamento universal. Passo a acreditar um pouco mais na humanidade. Na Europa, começam a surgir os primeiros movimentos contra a homofobia no futebol, vejam lá o maravilhoso Paris Foot Gay. As palavras de Blater mostram que ele não dá bola (trocadilho obrigatório) para os homossexuais, e aceita a homofobia. Para a Fifa, pouco importa se existe gente que quebra lâmpada no rosto dos outros, ou mata o seu semelhante por conta da sexualidade. Homossexualidade no futebol, e isso já nos disse o grande Raí em seu livro, acontece dentro dos vestiários, no assédio de dirigentes sobre atletas novatos, ou mesmo entre jogadores, mantendo-se no gramado a regra da hipocrisia. Lembram-se da iniciação sexual de Pelé? . Richarlyson, o homem mais corajoso que conheço, soube enfrentar tudo isso muito bem. Impera o pensamento de que futebol é jogo de homem, gay não é capaz de jogar. E a mensagem da Fifa é essa: sejam hipócritas, ou abstenham-se. Faltam, ainda, 12 anos para o Qatar, mas a Copa de 2014 será aqui, em nossa casa. Vamos nos manifestar? Abraços do Cavalcanti.


Comentários

4 respostas para “A ironia infame de Blatter”

  1. Oi, Lourenço, tudo bem? Impressão minha ou estamos vivendo uma era das declarações infelizes? Vejo toda essa hipocrisia em torno do futebol como uma forma de mantê-lo um exercício de machinhos, heteroforjados. Não dou conta, afe! Sobre o Bolsonaro, aqui comentado, andei dando meus pitacos também, dá um pulo lá no blog. abraço!

    1. Fernandão, estamos vivendo uma era de muitas coisas infelizes – mas vamos aproveitar o espírito de natal, e olhar as boas. Futebol é, e nos será sempre, um assunto infinito, pois é onde a testosterona se reúne, e nem sempre manifestando o melhor de sí. Grande Richarlyson, sempre! Já Bolsonaro, esse ficará na minha mira o ano todo.
      Abração, obrigado pela visita!

  2. Olá, querido Lourenço.

    Não sei se você costuma ler a revista Veja. Eu mesmo não sou muito fã. Mas a profissão me obriga a ler de tudo. Sugiro que você passe pela seção Panorama, da edição que está nas bancas (com o caso WikiLeaks na capa). Há uma pequena entrevista com o deputado Jair Jair Bolsonaro, que, não sei como, faz parte da Comissão de Direitos Humanos e Minorias. É um absurdo atrás do outro. O cara chega a dizer que é “contra a boiolagem”, e emenda um “[não tenho nada contra os gays] Eles podem até votar em mim. Não tem problema.” Diz ainda que é a favor que os pais batam em filhos com tendências homossexuais. Veja que exemplo de postura. Que tipo de pessoa é capaz de nomear uma pessoa assim para um cargo desses? Com gente assim no poder, como é possível haver políticas que impeçam o preconceito? E o pior é que essa postura não se restringe a homossexuais. Como você acha que ele cuidaria de outras minorias? Estou tomado por uma profunda decepção.

    Beijos

    1. Dado, concordo plenamente, e somo minha indignação à sua. Mas esse é o Brasil em que vivemos, nem sei para que lado ir, só não perco a fé. Apesar de muitos pesares, continuamos indo para a frente, e melhoramos. Só lutando, dia após dia, é que vamos expulsar gente como ele do Congresso – veja que ele teve votos suficientes para ficar lá, tem gente por aí que não só pensa como ele, mas adora essa filosofia.
      As vezes me indago quanto falta para 2012….
      Abração do Lourenço

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