Genet, um gênio centenário

Queridos, o mundo gira, a Lusitana roda, e eu volto a falar de Genet. Ele e Mishima são meus padrinhos na homossexualidade, e estou certo de que não sou uma raridade. Depois de amanhã, domingo, 19 de dezembro de 2010, ele faria 100 anos, homenagens estão sendo prestadas mundo afora. Já comecei as minhas em junho, aproveitando a efeméride dos 40 anos da vinda dele a São Paulo, quando se deu o episódio da visita à primeira-dama do Estado de São Paulo, em que conseguiu salvar as  crianças sequestradas pela ditadura, leiam meus posts lá de trás. Seus livros e peças de teatro são leitura obrigatória para todos nós, Nossa Senhora das Flores e Querelle animaram a masturbação de muitas gerações. Tamanho era o seu talento literário, que o fato de ter sido um ladrão, em uma fase de sua vida, ficava menor, desimportante. Ele acabou sentenciado à prisão perpétua, por ter acumulado mais de dez condenações criminais. Foi por pressão de gente como Cocteau, Picasso e Sartre, que Le Président de La République, Vincent Auriol deu a ele o perdão judicial – e ele não aprontou mais. Pelo menos não roubou mais nada, diga-se. Ele chegou a entrar para a famosa Legião Estrangeira, divisão de elite do exército francês, mas acho que foi guiado mais pelo fetichismo das fardas que por qualquer outra coisa, pois foi posto para fora exatamente por ter sido pego em flagrante ato homossexual obsceno, fato de que sempre se orgulhou, e contava a torto e a direito.

É bem verdade que ele sempre mentia muito a respeito de si mesmo, sua imaginação vulcânica, e um ego do tamanho do mundo, acabavam por impor as mais fantásticas versões para a própria vida, as quais foram depois depuradas por seu biógrafo, o também maravilhoso Edmund White. Ele adorava ser maldito, e fez um sucesso tremendo assim. Não foi exatamente feliz em sua vida, aquele que foi provavelmente seu maior amor, Abdhalla, se suicidou em Paris, em 1964, o que o jogou em uma longa depressão. Ele teve muitos romances, mas poucos amores. Para mim, suas melhores peças de teatro foram O Balcão e Os Biombos, obras maravilhosas, mesmo para quem não goste de ler teatro, valem muito a pena. No final da vida, ele canalizou quase toda a sua energia para causas políticas, como a Palestina, e os Panteras Negras, nos Estados Unidos. Ajudou-nos aqui no Brasil, mas foi coisa pontual, ele pouco nos conhecia. Morreu em Paris, em 1986, sozinho, em um quarto de hotel e, seguindo sua vontade, foi enterrado na Argélia, em um túmulo simples, discretíssimo. Sartre, que era Sartre, já dizia que ele era um gênio, a obra dele está aí, fácil de encontrar nas livrarias, no sebo eletrônico, e pela net. Homossexuais ou não, aproveitem. Abraços do Cavalcanti.


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