Meus caros, não me recordo de ver algum momento na história em que a homofobia estivesse tão em pauta, e por tanto tempo. Trata-se de um fenômeno único, mas, quero crer, sem volta. Desde o brutal ataque com lâmpadas de vidro ocorrido ano passado, filmado por câmeras de segurança na Avenida Paulista, que gerou as imagens impressionantes que tomam noticiários da televisão até hoje. Não vejo passar uma semana sem que o tema volte à baila, com notícias aqui e ali. Essa semana a revista Época nos deu a primeira página, com uma bela imagem. A indagação da revista é sobre o paradoxo de vermos os gays serem cultuados durante o Carnaval, e tão perseguidos durante o resto do ano. Será que o princípio do “liberou geral” do Carnaval permite aos próprios homofóbicos uma fulgurante saída do armário? Lógico que sim, nós e as torcidas do Corinthians e Flamengo, somadas, sabemos que homofóbicos são sempre aqueles que não têm suas sexualidades não resolvidas, e buscam desesperadamente uma fuga por meio da destruição de quem o fez. O meio acadêmico está cheio de trabalhos a respeito. Como se diz em jargão jurídico: é “jurisprudência pacífica”. Só que não se sabe ao certo como resolver.
Um caminho é claro e inequívoco: deve-se dar aos delitos toda a visibilidade possível. Inaceitável o medo de alguns em reportar às autoridades as violências sofridas, deve-se jogar o máximo possível de informações na mídia. Nesse aspecto, o crime da lâmpada de vidro acabou por prestar-nos um grande serviço. Sempre que se falar em homofobia, podem crer que as imagens lá estarão, dentro do lar de todos os brasileiros. Agora foi a Época, nota 10, adorei.
Tolerância zero – essa foi a máxima que ajudou a limpar Nova York do crime, e era uma cidade antes muito violenta. E olhem que eu detesto Rudy Giuliani, um facínora, ex-promotor público e prefeito, que bancou o durão, até se vestiu de mulher em um evento público, e limpou aquela cidade, outrora reduto de todas as máfias possíveis e imaginárias. É, sim, o paradoxo dos paradoxos. Eu vivo elogiando bons políticos estrangeiros, gente como Ted Kennedy e seu irmão John, o presidente assassinado. Eram dois cafajestes de primeira, mas lutaram pelos direitos civis como pouca gente fez na história americana, e brigar no legislativo americano é tão difícil quanto no nosso, vamos sempre nos lembrar da guerra que foi a aprovação da lei Shepard-Bird, que deu grande proteção aos homossexuais americanos. Vamos confiar que Marta Suplicy, Maria do Rosário, e a própria Ellen Gracie, consigam realizar o que sabemos que estão tentando. Ayres Britto está demorando muito (será que bota seu processo na pauta amanhã?). Guerra é guerra, e estamos nela, agora para ganhar. Abraços de um esperançoso Cavalcanti.
Deixe um comentário