Hoje eu sou japonês

Meus caros, todos nós somos um pouco japoneses. São Paulo é a maior cidade japonesa fora do Japão, tivemos muitos imigrantes durante toda a primeira metade do século XX, o filme Gaijin,de Tizuka Yamasaki, é obrigatório. O interior de São Paulo foi colonizado por eles, sorte a dos paulistas. Depois foi nossa vez de exportarmos nossos dekasseguis, muitos dos quais foram e ficaram por lá, outros voltaram, mas todos, sem exceção, mandaram muito dinheiro para suas famílias aqui, ajudaram aos seus e aos nossos. Eu sinto uma forte influência deles, pois adoro a comida japonesa, não troco nada por um bom sushi, esqueçam o churrasco brasileiro.

Muitas vezes ficamos tão focados na eficiência deles no trabalho, e na riqueza, que não nos damos conta da beleza, da poesia com que eles conseguem ver o mundo. O equilíbrio e a serenidade dos templos e locais públicos, os bonsais, os desenhos nos canteiros de pedras brancas, o respeito férreo pela sabedoria dos mais velhos, isso é resultado de uma civilização milenar, que se perde desde antes dos Samurais. Uma forma maravilhosa de se conhecer um pouco mais sobre eles, é ler meu ícone Mishima, que teve olhos com que ver maravilhosamente aquele universo. Confissões de uma máscara e Pavilhão Dourado nos mostram um mundo que nos é desconhecido. Ambos são, portanto, leitura obrigatória, e fácil de se achar em qualquer boa livraria.

E vejam vocês, aquele que foi um dos maiores nomes da literatura nipônica, era também um ídolo nacional, adorado pelos japoneses, e era abertamente homossexual. Nada como uma civilização realmente avançada, para vermos o quão irrelevante é a sexualidade alheia, e o quão grande um homem pode ser reconhecido, sem que esse sideline interfira na sua imagem.

Portanto, queridos, as notícias tenebrosas que nos chegam do outro lado do mundo, na realidade estão falando, e muito, de nós mesmos. Pensei muito no apocalipse quando vi aquela pavorosa onda enlameada do tsunami engolindo aeroportos inteiros. E vamos nos lembrar que eles foram a única nação de toda a história que sofreu um ataque direto de armas nucleares, superaram o trauma de perderem a guerra, e, meros trinta anos depois, estavam comprando o mundo, com a riqueza que acumulavam. Eles são muitos, em tão pequeno espaço, mas vão superar tudo isso, e darão mais uma lição à toda a humanidade, de como vencer qualquer adversidade, por dura que seja. Hoje, mais do que nunca, eu sou japonês, fã de Mishima, e estou louco para comer sushi. Abraços do Cavalcanti.


Comentários

Uma resposta para “Hoje eu sou japonês”

  1. Meu caro, é outra cultura. Pelo pouco que conheço, uma cultura maravilhosa. E eles vêm mostrando muita delicadeza e muita força ao longo da história, vão vencer mais essa. Beijas.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.