Uma parceria de infância pela medalha de ouro

Marcelo Melo (de amarelo) e Bruno Soares atuaram no Rio e no Brasil Open e terão mais partidas antes de enfrentar os irmaõs Bryan e o uruguaio Pablo Cuevas nos Jogos. Foto: Bruno Lorenzo Fotografia/Divulgação Rio Open
Marcelo Melo (de amarelo) e Bruno Soares atuaram no Rio e no Brasil Open e terão mais partidas antes de enfrentar os irmaõs Bryan e o uruguaio Pablo Cuevas nos Jogos. Foto: Bruno Lorenzo Fotografia/Divulgação Rio Open

Os dois nasceram na mesma cidade, Belo Horizonte. São da mesma geração: apenas 19 meses separam as datas de nascimento. E também devotos ardorosos e incondicionais do mesmo clube, o Cruzeiro. Conheceram-se e tiveram as primeiras aulas e treinamentos no mesmo lugar, o Minas Tênis, clube tradicional da capital mineira conhecido por sua eficiência em formar grandes atletas e equipes. Jogaram profissionalmente juntos as temporadas de 2010 e 2011. E, acima de tudo, são grandes amigos. Os tenistas Bruno Soares, 33 anos, e Marcelo Melo, 32, apostam nessa afinidade para conquistar o ouro, ou ao menos um lugar no pódio, nas duplas de tênis da Rio 2016. Chegam às portas da competição entre os favoritos. “A parada não será fácil, a começar pela presença quase certa dos irmãos americanos Bob e Mike Bryan, a melhor dupla do tênis em todos os tempos, e também a do uruguaio Pablo Cuevas, vencedor do Rio e do Brasil Open 2016 (leia quadro)”, avalia Soares em entrevista à Brasileiros. “Mas nós voltamos a treinar e a jogar juntos. Faremos de tudo”, acrescentou. “Estamos talvez em nossos melhores momentos”, acredita Melo. “Vamos fazer o possível e o impossível para alegrar os brasileiros.”

Melo está em primeiro lugar no ranking de duplas da Associação dos Tenistas Profissionais, a ATP. É muito agressivo próximo à rede. Seus 2,03 metros de altura, que lhe renderam o apelido de Girafa, não o impedem de exibir técnica apurada, elogiada até por pesos-pesados do circuito. “Parabéns à superestrela brasileira”, postou em vídeo o sérvio Novak Djokovic, melhor tenista do mundo no momento, após a vitória de Melo no Aberto da França em 2015, ao lado de seu atual parceiro no circuito, o croata Ivan Dodig, sobre ninguém menos do que os Bryan Brothers. “Ele está preparando bons momentos para nós em 2016 no Rio de Janeiro”, completou Djoko, numa referência à Olimpíada.

Além da conquista em Roland Garros, são destaques em sua carreira a final em Wimbledon em 2013, as conquistas do Masters 1000 de Xangai em 2013 e 2015, do Masters 1000 de Paris de 2015 e a final do ATP World Tour Finals de 2014, todos nas duplas, além da decisão de Roland Garros em 2009 nas duplas mistas, ao lado da americana Vania King. É o sétimo brasileiro na história a chegar à final de um Grand Slam – e o primeiro desde Gustavo Kuerten. Nas duplas masculinas, Melo chegou ao menos à semifinal em todos os torneios de Grand Slam. Não é, definitivamente, pouca coisa. O Grand Slam é a principal categoria de torneio do tênis. Só existem quatro: Wimbledon, na Inglaterra, e os abertos da Austrália, Estados Unidos e França (Roland Garros).

Soares é o décimo do ranking. Esteve entre os três primeiros em 2013, mas parece jogar hoje tão bem, talvez até melhor, do que naquela ocasião. Basta lembrar o feito impressionante protagonizado por ele entre o início da madrugada e o final da tarde do último dia 31 de janeiro, quando venceu dois torneiros de duplas de Grand Slam, no Aberto da Austrália, em um intervalo de exatas 16 horas e 29 minutos.

O relógio da quadra de Melbourne marcava 0h58 no momento em que Soares e seu parceiro Jamie Murray venceram, de virada, o canadense Daniel Nestor e o tcheco Radek Stepanek por 2 sets a 1 (parciais de 2-6, 6-4 e 7-5) e levaram o título de duplas. Soares terminou as entrevistas coletivas às 2h. Fez alongamento e massagem e só deixou o complexo do torneio às 3h15.

No quarto do hotel, atendeu jornalistas por telefone e internet até as 4h. Só então relaxou na cama para baixar a adrenalina. O sono foi vencer Bruno às 5h – e às 8h30 ele estava de pé. Como bom mineiro, entupiu-se de café puro na refeição matinal para segurar a expressão. Precisamente às 5h27 da tarde ensolarada de Melbourne, ele e a russa Elena Vesnina bateram na final de duplas mistas o romeno Horia Tecau e a americana Coco Vandeweghe, também por dois a um (6/4, 4/6 e 10/5). Foi o primeiro torneio dele ao lado de Vesnina e a primeira final dela em duplas. Em 16 horas e 29 minutos, Soares engordou o currículo com dois títulos top de linha. E a conta bancária em US$ 396 mil australianos, cerca de R$ 1,123 milhão ao câmbio médio deste final de fevereiro (confira nos quadros o número de títulos e prêmios acumulados na carreira por Soares e Melo).

Além do Rio Open, disputado no Rio de Janeiro entre 15 e 21 de fevereiro, e do Brasil Open de Tênis, encerrado no domingo 28 de fevereiro no Esporte Clube Pinheiros, em São Paulo, Soares e Melo pretendem agendar outros torneios e atividades para afinar a dupla nesta reta final para a Olimpíada (as disputas serão realizadas entre 5 e 21 de agosto). De certo e oficial na agenda, por enquanto, apenas um jogo do zonal americano da Copa Davis contra o vencedor de Barbados e Equador, entre os dias 17 e 19 de julho. Resta torcer para que os dois cheguem mais afiados e afinados do que nunca. Novak Djokovic conhece desse riscado como poucos na atualidade e na história. Tomara que seja tão bom de previsão quanto é em saques, voleios, paralelas, cruzadas, lobbies e bolas curtas. 

Muito prazer, Marcelo Melo – Conheça o atual líder do ranking de duplas da ATP

Nome completo
Marcelo Pinheiro Davi de Melo

Data e local de nascimento
23 de setembro de 1983 (32 anos), em Belo Horizonte (MG)

Características
87 quilos, 2,03 metros (o que lhe rendeu o apelido de Girafa), destro

Posição no ranking de duplas
1º (primeiro brasileiro a ser primeiro de duplas)

Títulos no circuito da ATP
19

Prêmios
US$ 33.809 em 2016 e US$ 3.223.043 na carreira

Parceiro atual no circuito de duplas da ATP
O croata Ivan Dodig, 7º do ranking de duplas

Posição preferida na quadra
Frente (“O Bruno e o Dodig têm em comum a eficiência brutal no jogo de fundo. São dois craques na posição, o que me deixa muito seguro para agredir os adversários mais próximo da rede. O Bruno é agressivo no fundo, mas também muito eficiente na rede”)

Time
Cruzeiro (“Como o Bruno”).
É fã de futebol e de Ronaldo Fenômeno. Jogou bola até os 15 anos, quando passou a se dedicar seriamente ao tênis

Gostos
Filmes de aventura e suspense, computador e a feijoada preparada pela mãe, Roxane Melo (“O único problema é que, por motivos óbvios, eu só posso comer uma vez ou outra”)

Curiosidades
Começou a jogar tênis aos 7 anos, no Minas Tênis Clube, em Belo Horizonte. Seu treinador é seu irmão mais velho, Daniel Melo. Foi suspenso por dois meses, em 2007, ao cair no antidoping por ingerir, sem saber, substâncias proibidas pela ATP em comprimidos para curar uma crise de dor de cabeça

Marcelo Melo (à esq.) e Bruno Soares, dupla que vai defender o Brasil na Olimpíada. Foto: Bruno Lorenzo Fotografia/Divulgação Rio Open
Marcelo Melo (à esq.) e Bruno Soares, dupla que vai defender o Brasil na Olimpíada. Foto: Bruno Lorenzo Fotografia/Divulgação Rio Open

Muito prazer, Bruno Soares – Conheça o campeão duas vezes no Aberto da Austrália em menos de 24 horas

Nome completo
Bruno Fraga Soares

Data e local de nascimento
27 de fevereiro de 1982 (33 anos), em Belo Horizonte (MG)

Características
77 quilos, 
1,80 metro, destro

Posição no ranking de duplas
10º

Parceiro atual no circuito da ATP
O britânico Jamie Murray, 2º no ranking de duplas e irmão do também tenista Andy Murray, 2º colocado no ranking de simples

Títulos no circuito da ATP
22

Posição preferida na quadra
Fundo

Prêmios
US$ 248.068 em 2016 e US$ 3.099.161 na carreira

Ídolos
Os tenistas André Sá, Guga e Pete Sampras, o surfista Kelly Slater e Ronaldo Fenômeno

Time
Cruzeiro (“Como o Marcelo. Aqui na dupla é Raposa; não tem espaço pra Galo não, cumpadi”)

Gostos
Jantar fora com a mulher, a família e os amigos; comida japonesa; a banda de rock Dire Straits; futevôlei; beach tennis; futebol de areia e surfe (“Ou seja: no fundo, muita praia”).Jogar futebol, disputar partidas de pôquer e acompanhar os jogos do Cruzeiro. E cinema – o filme predileto é Um Sonho de Liberdade

Curiosidades
Bruno Soares foi morar no Iraque aos 2 anos com a família. Aos 7, de volta a Belo Horizonte, conheceu Marcelo Melo. A amizade resistiu
a novas mudanças de Soares, que foi para Maringá, Rio de Janeiro e Fortaleza. O tenista voltou para Belo Horizonte aos 14 anos e passou a treinar no Minas Tênis ao lado de Melo. Os dois foram muito influenciados e aconselhados por outro bom duplista mineiro: André Sá

O argentino naturalizado uruguaio Pablo Cuevas (à esq.) eliminou novamente Thiago Monteiro, novo xodó do tênis brasileiro (abaixo), ganhou R$ 311 mil e se colocou entre os 25 melhores do mundo. Foto: Marcello Zambrana/DGW Comunicação
O argentino naturalizado uruguaio Pablo Cuevas (à esq.) eliminou novamente Thiago Monteiro, novo xodó do tênis brasileiro (abaixo), ganhou R$ 311 mil e se colocou entre os 25 melhores do mundo. Foto: Marcello Zambrana/DGW Comunicação


Brasil Open consolida “Semana Dourada” e avanço na promoção de torneios no País
Cultura de tênis se constrói com boas escolas em quantidade e torneios internacionais respeitados. No primeiro quesito, o Brasil, infelizmente, ainda engatinha. No segundo, o progresso é, no entanto, inegável. Após duas décadas de evolução, o País teve possibilidade de abrigar uma “quinzena dourada” do esporte. Entre 14 e 21 de fevereiro, a edição número três do Rio Open, primeiro ATP World Tour 500 da América do Sul, reuniu feras brasileiras e estrangeiras do circuito, entre elas dois top ten: o espanhol Rafael Nadal (5º) e o francês Jo-Wilfried Tsonga (9º). Na sequência, de 22 a 28, São Paulo entrou em quadra com o 16º Brasil Open, no Pinheiros, com vários tenistas entre os 40 melhores do mundo.

O Brasil Open e “semana dourada” fecharam com avaliação positiva. O “clima de torneio” e a interação entre público e tenistas foram muito elogiados. “Além disso, os tenistas falaram bem das quadras”, revelou à Brasileiros o diretor Roberto Marcher. “São as melhores de saibro da América Latina e estão ali permanentemente, ao contrário das outras, montadas semanas antes do torneio. Tenistas não gostam de saibro novo ou temporário.”

Os atrasos e adiamentos de partidas por causa das chuvas preocuparam. A exemplo do Rio Open, as quadras do torneio (central, um e dois) eram descobertas. “Muitos temeram o impedimento do torneio pela chuva”, admite Marcher. “Mas tínhamos o plano B, incluir a quarta quadra; o C, cancelar as duplas em caso extremo; e, no limite, o D, usar as duas quadras cobertas do clube. Além disso, a ATP dá mais um dia em casos de emergência.”

Marcher faz uma comparação interessante. “As chuvas nessa época do ano estão mais para Águas de Março, do Tom Jobim, do que para São Paulo da Garoa. Cai uma pancada e passa. Dificilmente ela ‘engata a segunda’ e fica por dias, o que seria terrível. O que não podemos é ter medo.” A Koch Tavares, promotora do evento, renovou o contrato para fazer o Rio Open 2017 no clube.

O vencedor de simples, como no Rio Open, foi o argentino naturalizado uruguaio Pablo Cuevas. Bicampeão do torneio, é agora o 25º do mundo, somados os 250 pontos ganhos em São Paulo. Ele embolsou o equivalente a R$ 311,8 mil. Nas duplas, triunfaram o chileno Julio Peralta e o argentino Horacio Zeballos. Nenhum brasileiro chegou às finais, mas o torneio consolidou o talento do novo xodó do tênis nacional: Thiago Monteiro. O cearense de 21 anos, que havia eliminado o top ten Tsonga no Rio, voltou a aprontar ao tirar da disputa o maior vencedor da história do torneio: o espanhol tricampeão Nicolás Almagro. Nas duas disputas, a “zebra abusada” foi eliminada por Pablito Cuevas. Entregou os pontos para o campeão. Um bom consolo.

 

 


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