Depois de quase oito horas, poucos à espera pelo resultado das urnas. Foto: Luiza Sigulem
Depois de quase oito horas, poucos à espera pelo resultado das urnas. Foto: Luiza Sigulem

– Doria, guerreiro do povo com dinheiro gritava um grupo de apoiadores do vereador Andrea Matarazzo, pré-candidato do PSDB às eleições para prefeito de São Paulo, referindo-se ao empresário João Doria Jr., que também está na disputa.

– Quatro, cinco, seis, Kassab outra vez – revidavam militantes ligados a Doria, sugerindo que Matarazzo faria como o aliado José Serra, que renunciou à prefeitura em 2006 para disputar outra eleição, beneficiando o vice, Gilberto Kassab, então no PFL.

Doria (acima), que tem o apoio de Alckmin; Matarazzo, que conta com FHC e Serra;  e Tripoli (ao lado), candidato de José Aníbal. Fotos: Luiza Sigulem/Assessoria Andrea Matarazzo/Assessoria Ricardo Tripoli
Doria (acima), que tem o apoio de Alckmin; Matarazzo (meio), que conta com FHC e Serra; e Tripoli, candidato de José Aníbal. Fotos: Luiza Sigulem/Assessoria Andrea Matarazzo/Assessoria Ricardo Tripoli


Exaltados, os dois grupos começaram um tumulto no nono andar da Câmara Municipal de São Paulo, onde integrantes da executiva do partido deliberavam sobre incidentes ocorridos durante as prévias para escolher o candidato tucano a prefeito, no domingo 28 de fevereiro. Apartados rapidamente por homens da Guarda Civil, os militantes foram encaminhados para o térreo do edifício, onde pouco antes um militante solitário tinha protestado aos berros contra a demora na apuração dos votos. Essas cenas das prévias tucanas foram antecedidas por duas brigas no ponto de votação do bairro do Tatuapé, com destruição de um computador, socos, chutes, empurrões, puxão de cabelo e até calças arriadas. No local, a polícia precisou interferir e a votação foi suspensa.

Previsto para ser divulgado às 18h no palco paramentado do anfiteatro da Câmara, o resultado saiu quase oito horas depois, quando a maioria dos militantes tinha ido embora e o portão principal estava fechado havia muito tempo. Entrar e sair do prédio naquele horário, só pelo segundo subsolo. O único pré-candidato que acompanhou de perto a apuração foi Doria, que liderou a disputa, com 43,13% dos votos, o que levou as prévias para o segundo turno. No dia 20 de março, ele concorrerá com Matarazzo, que conquistou 32,9% dos votos no primeiro turno. O terceiro candidato, o deputado federal Ricardo Tripoli, obteve 22,3% dos pouco mais de seis mil votos válidos.

Antes mesmo de encerrar a votação, Matarazzo e Tripoli se uniram para tentar tirar Doria da disputa. O ex-governador Alberto Goldman, que apoia Matarazzo, e o presidente do Instituto Teotônio Vilela, José Aníbal, que se alinha com Tripoli, pediram a impugnação da candidatura de Doria, por abuso de poder econômico, transporte em massa de eleitores e desrespeito à Lei Cidade Limpa. Três dias depois, Jorge Farid, vice-presidente do PSDB municipal, foi escolhido relator da impugnação. Em Vila Prudente, área de influência de Farid, Doria teve 52% dos votos. O relator, no entanto, garantiu que será o mais isento possível: “Não sou tucano carnívoro”. Caso a impugnação seja aprovada nessa instância, pode haver recurso ao diretório estadual e até ao nacional.

Selfies, cerveja, bronca de militante e pose na Câmara Municipal. Pixuleco perto da urna de votação, no Jardim América. Fotos: Luiza Sigulem
Selfies, cerveja, bronca de militante e pose na Câmara Municipal. Pixuleco perto da urna de votação, no Jardim América. Fotos: Luiza Sigulem

Nas prévias paulistanas do PSDB, além do candidato a prefeito, o que está em jogo são as eleições presidenciais de 2018. Matarazzo, que foi ministro de Fernando Henrique Cardoso, tem a seu lado o ex-presidente e o senador José Serra, eterno candidato ao Palácio do Planalto. No outro campo está Alckmin, que planeja disputar a Presidência da República em 2018 e considerou “ridícula” a tentativa de impugnação. No dia seguinte ao primeiro turno das prévias, ele defendeu que o candidato a presidente também seja escolhido pelo voto dos filiados.

Em compromisso na cidade de Campinas, o governador disse que faltava “prática democrática” ao partido, acostumado a decidir candidato “em mesa de restaurante, com vinho importado”. Era uma referência a uma noite de fevereiro de 2006, quando um grupo capitaneado por Fernando Henrique deixou Alckmin em uma confraternização de churrascaria para articular a candidatura do PSDB a presidente em um restaurante sofisticado, com jantar regado a bons vinhos, a começar por um Amarone della Valpolicella safra 1995.

Em um dos 50 pontos de votação teve pancadaria entre correligionários. Foto: A driano Vizoni/FolhaPress
Em um dos 50 pontos de votação teve pancadaria entre correligionários. Foto: A driano Vizoni/FolhaPress

O fato é que os conflitos internos tucanos são tamanhos que no domingo das prévias os ataques mudaram rapidamente de alvo. Pela manhã, o local onde o preferido de Alckmin votou usando o nome completo – João Agripino da Costa Doria Júnior – estava decorado com um pixuleco. Outra referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha sido feita antes da chegada do pré-candidato, por um filiado de 73 anos que demorou mais de 20 minutos para votar porque o computador travou: “Sou igual ao Lula, não tenho nenhuma responsabilidade”. Pouco depois, no Tatuapé, teve não só críticas, mas pancadaria, entre adeptos de Matarazzo e Tripoli. À noite, o tumulto foi entre seguidores de Matarazzo e Doria. Por mais que o mestre de cerimônia da festa de celebração das prévias tentasse animar a militância com um “bailão sertanejo”, não teve jeito. A festa acabou antes de começar. 


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