Diário da política: pesadelo em Curitiba

O juiz Sergio Moro. Foto: Rovena Rosa/Fotos Públicas (29/03/2016)
O juiz Sergio Moro. Foto: Rovena Rosa/Fotos Públicas (29/03/2016)

Não dormi quase nada essa noite perturbado por um pesadelo. Eu estava em Curitiba, fazendo não sei bem o quê. Só me lembro que estava perdido, não sabia para onde ir e enfrentando uma série de obstáculos absurdos. Eu estava descendo uma escada que acabava antes de chegar ao piso, obrigando-me a pular de uns dez metros de altura para uma plataforma.

Comentei o fato com um amigo e ele me disse que também está tendo pesadelos e completou: o noticiário político está enlouquecendo todo mundo, a partir de informações assustadoras que chegam de Curitiba por meio de “delações premiadas”, depois repercutidas por deputados irresponsáveis e imprensa idem.

Meu amigo tem razão. Está ficando impossível conviver com essa enxurrada de factoides todos os dias e com a sucessão de denúncias sem comprovação e manter o mínimo de sanidade mental.

Umas mais, outras menos, as pessoas estão pirando, sufocadas pelo mar de lama não da corrupção, mas do noticiário que transforma investigações criminais em reality show.

Ninguém aguenta mais acordar todos os dias e ir para cama escutando que fulano delatou tal coisa, que tal delação vai finalmente derrubar o governo, ninguém aguenta mais ouvir falar em impeachment, manobras de Eduardo Cunha, traições de Temer, até parece que os vilões ocupam todas as páginas e todos os minutos dos telejornais, numa sucessão histérica e que em vez de esclarecer contamina corações e mentes, não só em forma de pesadelos, mas de brigas entre amigos, parentes, conhecidos, cada um defendendo um lado da questão abastecido apenas por versões, e não por fatos.

Todo dia novos (e velhos) vilões entram em cena e ganham espaço nobre, com declarações deletérias, covardes e ignominiosas, sem que a imprensa  atue como um filtro, sem que distinga o joio do trigo, enfiando goela abaixo dos brasileiros mentiras travestidas de verdades.

Pessoas cujo passado os condena e que não têm a mínima credibilidade, tal como o dedo-duro e “desqualificado” Roberto Jefferson posam de salvadores da pátria com a maior cara de pau e a conivência dos editores.

É urgente dar um basta nisso, é urgente brecar a nau dos insensatos comandada por um juiz de Curitiba que, em vez de distribuir justiça, prende, tortura e expõe à execração pública pessoas que sequer foram julgadas. Que grampeia presidente da República, ex-presidente da República, advogado de ex-presidente da República, envergonhando os brasileiros e reduzindo o Brasil a uma república das bananas para escárnio do mundo.

Nenhuma investigação séria pode levar a resultado positivo se não for feita dentro de parâmetros legais, sendo o principal deles o sigilo e a divulgação de acusações somente quando for esgotado o último recurso da defesa.

É preciso dar um basta no noticiário irresponsável divulgado bombasticamente nas capas de revistas e primeiras páginas de jornalões sem obedecer aos manuais de jornalismo mais elementares, que ensinam que um fato só pode ser publicado se responder às cinco perguntas básicas – o quê, como, onde, quem, por que – e jamais divulgar o que não for confirmado por ou menos duas fontes.

É preciso parar os discursos histéricos de deputados e de políticos em geral que são lobos em pele de cordeiro, que a cada dia inventam novas formas de desobedecer ao calendário eleitoral pré-estabelecido, seja insistindo em travestir de legal um processo de impeachment sem crime, seja em propor soluções oportunistas, tais como eleições gerais em plena vigência de um governo eleito pela maioria dos brasileiros.

É preciso dar um basta na guerra civil das páginas do Facebook, onde supostos “amigos” se ocupam em atacar por atacar, em piorar o que já está ruim, em espalhar terror e ódio.

Está na hora de os mocinhos ganharem mais espaço que os vilões, que os bombeiros sejam mais ouvidos que os incendiários para que suas declarações sensatas reduzam o índice de insanidade dos que já estão doentes e evitem que os sãos sejam contaminados.

Não se constrói um País senão com sonhos.

O Brasil precisa acordar desse pesadelo.   


Comentários

Uma resposta para “Diário da política: pesadelo em Curitiba”

  1. Avatar de Silvia Borges
    Silvia Borges

    tudo isso é a mais plena verdade, muito bem fundamentada , é isso que estou sentindo , antes de dormir tudo isso vem a minha mente, como um pesadelo, em que o nosso maior desejo é que esse pesadelo acabe, e a gente acorde sem esses jornais com essas notícias massacrantes e que tira o sono e a paz das pessoas, não é possível que isso não vai acabar nunca. Se as televisões , principalmente a rede globo fosse controlada, provavelmente encontraríamos a paz.

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