“Acham justo um vice-presidente se prestar a esse papel?”

Nos bastidores, vice-presidente Michel Temer trabalha com a oposição - Fotos Públicas
Nos bastidores, vice-presidente Michel Temer trabalha com a oposição – Fotos Públicas

A pouca intimidade do vice-presidente Michel Temer com os smartphones pode ter dado a munição que os adversários do impeachment precisavam para reforçar a tese de que o afastamento da presidenta Dilma Roussef faz parte de um golpe engendrado pelos derrotados nas eleições de 2014.

Só que, com a divulgação de uma espécie de “discurso de posse” gravado por Temer em seu celular, ele, junto com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi rotulado instantaneamente como golpista e traidor pelos parlamentares da base do governo. “Acham justo um vice-presidente se prestar a esse papel?” questionou o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Para ele, ficou clara a ligação entre Temer, a oposição derrotada e Eduardo Cunha, que, em caso de afastamento de Dilma, vira vice-presidente de fato, por ser o Presidente da Câmara. A senadora Gleisi Hoffman (PT-PR) disse que o vídeo comprova “a conspiração de Temer contra Dilma”.

Com bom humor, os petistas Paulo Teixeira (SP) e Paulo Pimenta (RS), lançaram imediatamente a companha “Vaza Temer”. Para Paulo Pimenta, “o video que vazaram beira o ridículo. Acho que foi bolado pelo mesmo ‘estrategista’ que vazou a carta do Temer para a presidenta”, comentou.  Paulo Teixeira, por sua vez, considera que o vídeo comprova que Michel Temer “é o maestro do golpe, dirigindo uma orquestra onde o principal tenor é o Eduardo Cunha”, que passaria a ser “candidato a vice”. Muito deputados chegaram a considerar que o vídeo tinha sido vazado de proposito, em uma espécie de tentativa do vice em se colocar como um líder ponderado e confiável.

Mas a realidade é bem diversa. Temer, enquanto aguardava sua vez em discursar em um evento no Rio de Janeiro, gravou o “discurso de posse” em seu celular. Depois, resolveu transmitir o vídeo para alguns interlocutores. Em seguida, voltou a usar o celular para enviar a peca para outros amigos. E aí, a falta de intimidade de alguém com mais de 70 anos com os novos smartphones e seus aplicativos fez o estrago. Temer, sem saber o que estava fazendo,mandou o vídeo para um grupo de whatsapp que incluía a bancada do PMDB.

O resultado caiu como uma bomba, especialmente em Brasília, onde os deputados debatiam e se preparavam para, depois de horas de discussão, votar o parecer do deputado Jovair Arantes (PTB-GO). Até os maiores defensores do impeachment, como os senadores Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) e Ronaldo Caiado (DEM-GO), consideraram o discurso como  imprevidente e inoportuno, mas acreditam que, embora seja munição para o governo,  deverá ter um efeito mais tranquilizador do que desestabilizador. Já o senador Alvaro Dias, hoje no PV do Paraná, disse que as declarações de Temer eram “uma trombada no bom senso, uma trombada nos valores fundamentais da lealdade e da coerência”.

No começo da noite, Temer convocou uma coletiva no anexo do Palácio do Planalto, onde tentou explicar suas declarações. E, como diz o ditado popular, a emenda saiu pior do que o soneto. Primeiro ele admitiu que a divulgação aconteceu “por equívoco” ao enviar o vídeo para um grupo de mensagens (no Whatsapp) aberto.

Depois, disse que suas declarações não representavam nenhuma novidade: “Reitero exatamente o que disse no passado e tenho dito sempre. Não estou dizendo novidades, são teses que tenho sustentado ao longo do tempo”, garantiu. Os próximos dias poderão mostrar que usar smartphones pode ser fácil para os jovens como filhos e netos de Michel Temer. Mas, para quem passou dos 60 ou 70 anos, a coisa pode custar caro.


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