Um bem na terra, um bem no mar

HOSPEDAGEM

Foto: 1 e 2 Divulcação. 3 Marcelo Magnani

Lugares charmosos Quando inaugurado em 2005, o Convento do Carmo (fotos 1 e 2), no Pelourinho, foi definido como um hotel à altura do Copacabana Palace e apontado como um dos mais interessantes do País. Na construção, erguida entre os séculos XVI e XVIII, o que era originalmente a residência de freiras carmelitas se transformou em ambiente luxuoso sem perder a atmosfera de monastério. Além do valor histórico do edifício, que foi palco de acontecimentos importantes – serviu de quartel para as tropas portuguesas e lá foi assinado o ato de rendição das forças holandesas, em 1625 -, o mobiliário e as peças de arte merecem atenção. Os quartos ocupam as antigas celas das carmelitas e os claustros oferecem belos jardins. Seguindo a linha do sincretismo baiano, o cardápio combina alta gastronomia portuguesa com pratos típicos da região. Já o Zank Boutique Hotel (foto 3) é a melhor prova de como o antigo pode conviver bem com o contemporâneo. Localizado no Rio Vermelho, conta com um casarão imponente erguido no século XIX e um prédio novo, onde todos os apartamentos têm vista para o mar. Cada quarto apresenta uma decoração diferente, a única peça que se repete é o frigobar. Zank Boutique Hotel – Rua Almirante Barroso, 161, Rio Vermelho, (71) 3083-4000. Pestana Convento do Carmo – Rua do Carmo, no 1, Pelourinho. (71) 3327-8400.


ARTE

Foto: 3 Walton Araújo/Ag ATarde, 4 Erik Salles/Ag A Tarde

Circuito dos museus Vale a pena um passeio a pé entre o centro da cidade e o bairro da Graça. O circuito começa no Palácio da Aclamação (foto 5). O prédio, que já foi residência do governador, merece uma visita por si só, devido à exuberância de sua fachada e interior. Único museu-casa da cidade, combina decoração antiga com projetos de arte contemporânea, como a impactante obra de Carlito Carvalhosa. O passeio continua pelo Corredor da Vitória (veja glossário na página 77) com duas paradas: o Museu de Arte da Bahia (MAB) e o Museu Carlos Costa Pinto. O MAB, primeiro museu do Estado, conta com pintores baianos e desenhos de Carybé. Fica a alguns metros do Carlos Costa Pinto, casarão da segunda metade do século XX que nunca chegou a ser habitado pelo proprietário, um comerciante e colecionador de arte. É possível apreciar pratrarias e joias, como uma coleção de peças crioulas. O circuito termina no Palacete das Artes Rodin Bahia (foto 4). O principal atrativo são as obras em bronze de August Rodin no jardim. Há outros trabalhos dele no interior do palacete. O museu ainda dispõe de um dos mais charmosos cafés da cidade. Palácio da Aclamação – Avenida Sete de Setembro, 1.330, Campo Grande, (71) 3117-6150. Museu de Arte da Bahia – Avenida Sete de Setembro, 2.340, Corredor da Vitória, (71) 3117-6902. Museu Carlos Costa Pinto – Avenida Sete de Setembro, 2.490, Corredor da Vitória, (71) 3336-7034. Palacete das Artes Rodin Bahia – Rua da Graça, 284, (71) 3117-6983.


ROTEIO PARA UM FIM DE SEMANA DE CINCO DIAS

Quando se está na Bahia, o fim de semana pode começar em uma quinta-feira – e terminar na segunda. Para isso, veja sugestões:

Foto: 1. Maurício Simonetti, 2. Luciano Andrade/AE, 3. Fernando Vivas/Ag A Tarde, 4. Zé Zuppani/Pulsar Imagens, 5. Divulgação, 6. Eduardo Martins/Ag A Tarde, 7. Claudionor Junior/Ag A Tarde

1º dia, quinta-feira, comece com um mergulho no Porto da Barra (foto 2), enseada de temperatura agradável e de poucas ondas. No fim da tarde, alia-se a vista da Ilha de Itaparica com o belíssimo pôr do sol. Energia renovada, então, para cair no samba do Santo Antônio Além do Carmo, passear pelo bairro histórico, ir ao Forte, tomar caipirinha na Cruz do Pascoal e desfrutar de um dos vários restaurantes com vista para a Baía de Todos os Santos.

2º dia, sexta-feira, o caminho sugerido é o da Cidade Baixa. Bom ir até a igreja para pedir proteção ao Senhor do Bonfim (foto 3). No clima, siga para Ponta de Humaitá (foto 4) para um almoço à baiana e aproveite o belo visual da Península Itapagipana, além de visitar o mosteiro e a igreja de Monte Serrat. O entardecer pode ser apreciado por lá mesmo ou então na Ribeira, bairro que tem entre suas atrações a paisagem da Enseada dos Tainheiros e a famosa sorveteria Ribeira, de 80 anos. O sorvete de tapioca é um clássico, mas vale também arriscar os de frutas locais.

3º e 4º dias, sábado pede praias distantes – Imbassaí (foto 1), Itacimirim, Ipitanga ou Diogo (foto 5) – para passar o dia e comer peixe frito. Na volta, um jantar mais sofisticado em um dos restaurantes da região e do complexo da Marina, como o Amado, Lafayette ou Soho (foto 6). Se a noite se estender, casas noturnas como a Madrre, Dolce e a alternativa Borracharia são recomendadas. Domingo (contando só a partir da tarde, claro), vale um almoço mais leve no Paraíso Tropical e checar a agenda de shows, ensaios e eventos culturais.

5º dia, segunda-feira, é bom se reconciliar com o lado espiritual. Peça a bênção na missa de São Lázaro (foto 7) e, se tiver sorte, ganhe um banho de pipoca de Omolu, ao lado do Cruzeiro. Senão, terá de esperar até a noite, no ensaio do Cortejo Afro (foto 8) para o banho que vem também com folhas de pitanga e acocô. Mas isso só depois do show dançante e percussivo. E, aí, já não se sabe se o fim de semana se estendeu ou se outro já está começando…


MÚSICA

Jam no MAM

Foto: Marcelo Lima

.Aos sábados, emoldurada pelo cair da noite na Baía de Todos os Santos, a Jam no MAM reúne um público fiel de apreciadores da música, nesse caso, aliada a um belo cenário, ambiente descontraído, charme underground, além de exposições de arte contemporânea. No verão, muda-se o tom. A jazz session chega a reunir mais de mil pessoas, e a plateia, segundo o baterista e mentor Ivan Huol, estimula um repertório mais expansivo, de “sotaque baiano”, com ênfase na percussão. Ivan destaca que o que norteia as apresentações é a improvisação jazzística, mesmo quando na roda cai um samba ou uma bossa… Uma postura que tem tudo a ver com o local que abriga o projeto, o Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM-BA). Jam no MAM – Área externa do MAM-BA. Av. Contorno, s/no, Solar do Unhão, (71) 3117-6139. Aos sábados, às 18 horas.

Sarau du Brown

Foto: 1. Thiago Teixeira/Ag A Tarde

O Sarau du Brown tem uma marca distintiva, certamente por sua miscigenação sonora. Comandado por Carlinhos Brown, a festa acontece de janeiro ao Carnaval (além de mais uma edição, a ressaca pós-folia), no Museu du Ritmo, espaço que ocupa o antigo edifíco Mercado do Ouro. A música é a principal linguagem, mas a programação reúne diversas manifestações artísticas. Brown apresenta repertório que alia tradição a referências pop, pontos de candomblé a ritmos caribenhos. Saúda Obaluaê e Merlita Monroe e comanda a já esperada volta no Guetho, prática resgatada dos shows que aconteciam no Candyall Guetho Square. Trata-se de uma apresentação que combina percussão com metais e conta com uma riqueza rítmica e melódica. A miscigenação sonora já vem da abertura da noite, feita pela banda Lateral Elétrica, a bordo da Caetanave (um dos mais famosos trios elétricos da história do Carnaval e recuperado pelo Museu du Ritmo). Mas é Brown, e seus músicos, a grande atração, cujo prestígio pode ser medido pelos convidados, como Marisa Monte e Caetano Veloso. Sarau du Brown – Museu du Ritmo – Avenida Jequitaia, s/no, antigo Mercado do Ouro, bairro do Comércio, (71) 4003-1212. Próximas apresentações: 13 e 27 de fevereiro e 12 de março. A partir das 18 horas.


COMER E BEBER

Rio Vermelho

Foto: Divulgação

Acarajé ou champanhe? As opções, que explicitam pretensões distintas para a noite, podem não estar tão distantes assim. O bairro do Rio Vermelho, zona boêmia com o maior número de bares e restaurantes por metro quadrado de Salvador, costuma diminuir a distância entre estabelecimentos de tão variadas propostas. A área é conhecida pela convergência de público, do alternativo ao refinado, passando por artistas, rockers e GLS. Aberto recentemente e um dos pontos de renovação boêmia da área, o Padaria Bar tem conceito de boteco e visual das antigas panificadoras e atuais delicatessens. A escolha de um lugar para fazer pit stop – comer, beber e se divertir antes de ir para outro lugar – vai depender da lotação, do estado de espírito e das intenções. Além dos pontos de acarajé, entre eles, o Largo da Dinha, vale a pena conferir a MME Champanharia (foto 1). A carta de vinhos é premiada como a melhor da cidade. O cardápio é sazonal e o ambiente, sofisticado e intimista. Padaria Bar – Rua João Gomes, 43, Rio Vermelho, (71) 3018-4413. A partir das 17 horas. MME Champanharia – Rua João Gomes, 148, Rio Vermelho, (71) 3013-0286. De segunda a sexta, das 17 à 1 hora; sábados, das 17 à 1h30.

Terreiro Bahia

Foto: Romulo Portela

O segredo da chef Tereza Paim é abusar das frutas da estação. Assim, no cardápio do seu prestigiado restaurante Terreiro Bahia, na Praia do Forte, a 70 km de Salvador, destacam-se pratos como o camarão com molho de mangaba e arroz de coco verde, tranche de peixe do dia com molho de acerola e filé com molho de tamarindo. Com uma culinária tradicional, mas requintada, Tereza não dispensa o dendê, óleo de sabor marcante e ligado a uma identidade cultural, usado mesmo em pratos da cozinha internacional. “Saber dominar o uso do dendê tem o mesmo valor de trabalhar bem com um foie gras ou com trufas”, compara. Todo o empreendimento é sustentável, o que contribui para a preservação do meio ambiente. Terreiro Bahia – Rua do Linguado, s/no, Praia do Forte, (71) 3676-1754.


PASSEIOS

Santo Amaro da Purificação

Foto: Markinhos

Ao chegar à mais famosa cidade do Recôncavo Baiano, a 72 km de Salvador, é bom dar um passeio pelo Centro Histórico para se ambientar à tranquilidade e às ofertas de diversão, como as cachoeiras. Uma das mais belas é a Mãe D’Água ou Cachoeira do Urubu, com cinco quedas d’água, sendo a principal com 50 m de altura. Outra opção é a Cachoeira da Vitória. Na hora do almoço, vale uma visita ao vilarejo São Braz para comer moqueca em um dos restaurantes nos arredores da igreja. Quem preferir permanecer em Santo Amaro encontra pratos regionais no Ponto Vital e no Trilhos Urbanos. Entre os passeios, destacam-se o Museu do Recolhimento dos Humildes, a Casa do Samba (ao lado do Teatro Dona Canô, em homenagem à matriarca da família Veloso), e o Solar Paraíso, uma das primeiras construções da cidade, do século XVIII. Todo esse roteiro pode mudar com as datas festivas: Festa do Senhor Santo Amaro e a de Reis (janeiro), Novena de Nossa Senhora da Purificação (fevereiro), o múltiplo Bembé do Mercado, que homenageia a Abolição da Escravatura (maio), e Trezena de Santo Antônio (junho). Informações sobre os pontos turísticos podem ser obtidas com os agentes da guarda municipal que ficam na prefeitura da cidade, na Praça da Purificação.

Santo Antônio

Foto: Zé Zuppani/Pulsar Imagens

Ao chegar à vila, a sensação é a de estar em um pequeno paraíso terrestre. No vilarejo, cercado de coqueirais, o que se encontra é um povoado bom de pesca, de artesanato e de papo. “Que mais tem para fazer aqui além de papear?”, comenta uma artesã. Seu trabalho feito de palha trançada e tingida é tão convidativo quanto a extensão da areia da praia que se oferece quase deserta. E o mar?! Para quem chega cedo, os restaurantes têm café da manhã com iguarias regionais. Mas, como o lugar não pede relógio, a qualquer hora vale a pena desfrutar dos sabores locais. Muitos pratos são feitos com frutos do mar pescados no dia! Para chegar à Vila de Santo Antônio, é preciso seguir a pé por uma trilha por 30 minutos depois da Praia de Diogo, outra vila a pouco mais de 5 km de Imbassaí, na Linha Verde.

Glossário
Corredor da Vitória– Trecho nobre da extensa Avenida Sete de Setembro. Arborizado, compõe o chamado bairro da Vitória, formado ainda por um largo. Com grande concentração de prédios, além de escolas, museus e instituições, e com árvores seculares, é um dos metros quadrados mais caros da cidade. Alguns prédios oferecem uma visão privilegiada da Baía de Todos os Santos.

Cruz do Pascoal– O Largo Cruz do Pascoal está situado no bairro histórico do Santo Antônio Além do Carmo e abriga um oratório datado de 1743. Próximo ao Cruzeiro, foram instalados alguns bares, entre eles o chamado Cruz do Pascoal, famoso pelos petiscos (como o arrumadinho).

Península Itapagipana– Localizada entre a Baía de Todos os Santos e a terra firme, a Península de Itapagipe compreende os bairros de Itapagipe, Ribeira, Massaranduba, Vila Rui Barbosa, Jardim Cruzeiro, Calçada, Boa Viagem, Uruguai e Monte Serrat na Cidade Baixa.

Omolu– Ver Obaluaê.

Cortejo Afro– Entidade carnavalesca criada em 1998. Idealizado pelo artista plástico Alberto Pitta, nasceu nos limites de um terreiro de candomblé no subúrbio de Pirajá, sob a liderança de Anízia da Rocha Pitta Silva (Mãe Santinha). Ensaios às segundas-feiras, no Centro Histórico.

Acocô– Árvore de origem africana (akòko) cuja folha é considerada sagrada no candomblé, usada em rituais para banhos ou como talismã (comumentemente para atrair dinheiro).

MAM-BA– Museu de Arte Moderna da Bahia, instalado em um conjunto formado pela Quinta e Solar do Unhão originário no século XVII e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1943. O Solar foi construído sobre um aterro ao mar da Baía de Todos os Santos. Em seguida, foi recuperado pela arquiteta vanguardista Lina Bo Bardi para abrigar o museu que, em 2010, completou 50 anos.

Mercado do Ouro– Prédio fundado no ano de 1879 e tombado pelo IPhAn. Fica no bairro do Comércio, região portuária e antigo centro comercial de Salvador na Cidade Baixa. O nome foi inspirado no local, conhecido como Cais do Ouro, embora no mercado o comércio fosse de verduras, temperos, frutas e especiarias. Entrou em decadência junto com a região, que chegou a comportar cerca de cem lojas (em uma área total de 7.500 m2). Em 2007, passou a abrigar o Museu Du Ritmo, iniciativa de Carlinhos Brown que mescla museu, galeria e casa de shows.

Obaluaê– É o orixá das doenças e da cura, senhor das pestes e das moléstias, regente da saúde e do funcionamento dos órgãos. Recebe o nome de Obaluaê (manifestação jovem – guerreiro, caçador, lutador) ou Omulu (manifestação velha – sábio, feiticeiro, guardião). É filho de Nanã, que o abandou por ser doente, e foi criado por Iemanjá, que o curou. Conta-se também que Iansã, com uma ventania, transformou suas feridas em pipoca (daí o ritual de banhar-se em pipoca para prevenir doenças e promover a renovação). Cresceu forte e tornou-se caçador, guerreiro e viajante.

Merlita Monroe– Personagem da música Carlito Marrón, de Carlinhos Brown (parceria com Arnaldo Antunes), homônima ao disco que ele lançou em 2003. Embora não assumido oficialmente, seria uma versão mais irreverente e subversiva do ícone pop Marylin Monroe que vive aventuras ao lado do companheiro, uma transmutação de Brown.

Candyall Guetho Square– Fundado em 1996, o projeto de Carlinhos Brown funcionou como casa de shows e eventos, tendo arquitetura, decoração e localização diferenciada (área popular e residencial chamada de Candeal Pequeno, no bairro de Brotas). Lá, aconteciam, aos domingos, os famosos ensaios da Timbalada. Devido à Lei do Silêncio e embates com a população local, deixou de abrigar shows e funciona, atualmente, como um estúdio de Carlinhos Brown.

Largo da Dinha– Oficialmente, é o Largo de Santana, por causa da Igreja de Nossa Senhora de Santana, no bairro do Rio Vermelho. Popularmente, é conhecido como Largo da Dinha devido à barraca de acarajé montada por Lindinalva de Assis, que ao longo do tempo passou a atrair um número enorme de pessoas e acabou como um dos espaços boêmios mais famosos da cidade, com uma grande quantidade de mesas dispostas no largo, servidas pelos bares que ficam ao redor. O sucesso atraiu outras baianas de acarajé para o Largo.

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