O teólogo e escritor Leonardo Boff disse nesta quinta-feira (14), no Rio de Janeiro, que a tentativa de impeachment da presidenta Dilma Roussef simboliza a luta de classes no Brasil. Segundo ele,
a divisão que se observa nas ruas reflete a “batalha da casa-grande e da senzala”.
“Toda essa raiva e ódio que tem na sociedade é a raiva contra os pobres, porque eles estavam sempre na margem e agora foram incluídos. Têm luz em casa, têm uma casinha, têm a cesta básica, podem frequentar a universidade, podem fazer seu estudo técnico, isso não havia antes. Então as classes poderosas têm medo, porque [os pobres] estão ocupando os espaços que antes eram reservados a elas. Isso é a intolerância que as classes sempre tiveram na história brasileira”, analisou.
Para Boff, “vai triunfar a razão” na votação do impeachment, marcada para domingo (17), e os deputados “vão perceber que não há motivo sério para aplicar o instituto do impeachment contra Dilma”.
Boff participou na quinta-feira do debate “Tolerância e Democracia: Este Não Será o País do Ódio”, organizado pelo coletivo À Esquerda da Praça São Salvador, que reuniu cerca de 2 mil pessoas em Laranjeiras. Em sua fala, o teólogo citou o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, que costumava dizer que a democracia se fundamenta sobre quatro bases: a participação do cidadão, o reconhecimento da diferença, a tolerância e a comunicação. A esses fundamentos, Boff acrescentou “o cultivo do espírito”, citando o escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, autor de O Pequeno Príncipe.
“Somos seres humanos que têm subjetividades, que gostam de trocar opiniões, tomar uma cervejinha e trocar ideias sobre as visões que temos do mundo. Não é um elemento das religiões, é da profundidade humana. Hoje há mais academias de ginástica do que bibliotecas e igrejas. Nós não cultivamos a vida do espírito, feita de amizade, de existência, de harmonização, de sentar junto e celebrar a vida.”
Em seu discurso contra a intolerância, Boff também citou a oração de São Francisco: “Se eles usarem ódio, vamos usar o amor”.
O ator e roteirista Gregório Duvivier brincou que uma coisa boa do que chamou de golpe é a união que ocorreu entre as esquerdas para se posicionar contra o impeachment. Duvivier destacou que não apoia o governo Dilma, mas que respeita e defende os 54 milhões de votos que a presidenta recebeu.
“União não significa unificação, o fato de estarmos unidos não significa que pensamos a mesma coisa. A gente tem que pressionar para o PT ir para a esquerda, porque ela [Dilma] foi eleita por um projeto de esquerda. E depois que a gente barrar o impeachment, que a gente continue nas ruas para pressionar.”
Integrante do coletivo À Esquerda da Praça, o sociólogo Rudolph Hasan disse que o debate foi pensado para unir duas gerações de militantes de esquerda e denunciar os ataques que ambas vêm sofrendo por se posicionarem publicamente contra o impeachment.
“É muito importante porque tanto o Boff quanto o Gregório estão sofrendo uma perseguição muito grande por estarem se posicionando a favor da democracia. As páginas dos dois nas redes sociais foram muito atacadas recentemente”.
Segundo Hasan, diante da proximidade da votação do impeachment na Câmara dos Deputados, o papel da militância é ocupar as ruas. “O que a gente pode fazer é somar nas ruas e demonstrar para o Parlamento que há uma massa da população que é contra esse processo golpista.”
* Com Agência Brasil
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